FRÁGIL COMO FOLHAS DE OUTONO
Maria Paula Guimarães – Niterói, RJ
Dia desses, contei aqui da partida de um amigo. Eu disse que ele era, na verdade, amigo de um amigo – acho engraçada essa categorização de gente que costumamos fazer. Eu disse que ele se foi. Não porque decidiu ir, mas porque a vida, sendo frágil, insistiu em partir-se dele. A vida é assim. Escorre por entre os nossos dedos e surge sobre os nossos braços, frágil, de repente, num mundo já pronto, mas sempre despreparado para um novo alguém.
Maria Paula Guimarães – Niterói, RJ
Dia desses, contei aqui da partida de um amigo. Eu disse que ele era, na verdade, amigo de um amigo – acho engraçada essa categorização de gente que costumamos fazer. Eu disse que ele se foi. Não porque decidiu ir, mas porque a vida, sendo frágil, insistiu em partir-se dele. A vida é assim. Escorre por entre os nossos dedos e surge sobre os nossos braços, frágil, de repente, num mundo já pronto, mas sempre despreparado para um novo alguém.
Existir é sempre
uma fragilidade. Fingimos que não, pra que seja divertido, pra que achemos
graça, pra que viver seja doce, ainda que a vida seja frágil. Frágil, como
folhas de outono, como diz a canção dos Arrais. E tudo o que é frágil requer
cuidado. Cuidar exige paciência. E paciência é essa coisa meio chata que nos
faz entender que nem todo dia é verão, nem todo dia é primavera ou inverno. Às
vezes, simplesmente, é outono. E as folhas caem. E os sonhos não acontecem do
jeitinho que gostaríamos. E, quando olhamos pra fora, sabe-se lá por que, as
folhas estão todas pelo chão. Nada faz sentido. Num ímpeto de desespero,
tentamos pôr no pé de novo. Mas elas não ficam. Secaram.
Olhar da janela o
caos ao redor não parece uma boa ideia. Dá uma sensação de impotência
devastadora. Um negócio ruim, que não dá pra explicar. Dentro de algum lugar de
nós bate um desespero. Desesperar-se é, justamente, não saber lidar com a
espera. Mas se pensarmos que Quem criou o tempo, por ser Eterno, não precisava
disso, algumas coisas começam a tomar novo sentido.
Quando lemos as
palavras inspiradas por Aquele que é Eterno, encontramos, em Eclesiastes 3:1,
que há tempo para todo propósito debaixo do céu. Pode parecer irônico ler a
Eternidade falando sobre a temporalidade da vida - algo que está abaixo dEle. Mas
Deus foi muito didático ao explicar o tempo e ao criá-lo. Ele o fez por e para
a humanidade.
Porque a existência
humana é temporalmente organizada, há momentos de chuva, de sol, de folhas
caindo e de flores brotando. Aquele que é Eterno o é também em sabedoria e, por
isso, sabia que precisaríamos ver as estações acontecendo do lado de fora para
que entendêssemos que, às vezes, elas acontecem também do lado de dentro. E
passam, assim como as de fora.
Hoje, as folhas
podem estar caindo lá fora e a temperatura, mais amena no coração, mas Deus nos
diz que há tempo para todo propósito debaixo do Sol. Há o tempo da fragilidade
das folhas de outono, sim. Há tempo também de sentir o frio do inverno lá dentro
da alma. Mas, logo, logo, quando a Terra girar mais um pouquinho, as flores tão
bonitas da vida voltarão a enfeitar nossos dias. E melhor do que isso é que,
muito, muito em breve, nem nos preocuparemos mais com essas estações – internas
ou externas; porque, na Eternidade que Ele nos está preparando, os dias serão
sempre coloridos e floridos. Até lá, tenha paciência para lidar com a
fragilidade do outono, pois há tempo para todo propósito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que você acha?