DE VOLTA PARA CASA

DE VOLTA PARA CASA

(por Airton Sousa)

Trabalhei  na DPZ na época em que era uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Um dos seus redatores, Neil Ferreira, teve um problema com um dos sócios, José Zaragoza, e saiu da agência.

Inconformado com sua saída, Zaragoza publicou um anúncio nos outdoors  e nos principais jornais da cidade com a seguinte mensagem:

“Neil, queridinho, volte pra casa. Tudo está perdoado. Z”

Neil não voltou; pelo menos naquela época não foi impactado pelo anúncio.

Um dia, não lembro em que ano, estava de passagem pelo bairro de Santo Amaro e vi um enorme cartaz, com um convite: “Filho, Volta pra casa”. Era a mensagem de uma igreja Adventista convidando ex-membros para uma programação especial naquele sábado. Imaginei na hora a história de um jovem, que depois de muito tempo longe de casa, passando dificuldades, começa a lembrar  que os empregados do seu próprio pai tinham pão com fartura, e ele ali morrendo de fome, comendo resto dos restos das comidas que eram dadas aos porcos; então decide voltar para casa e pedir ao pai que o tratasse como um dos trabalhadores. Já voltando, de longe vê o pai correndo em sua direção pronto para recebê-lo. Uma história de final feliz.

Voltar pra casa é a certeza de braços abertos esperando pelo retorno. Cama pronta, o sol entrando pelas frestas do quarto. É um lugar vago na mesa, uma luz acesa, alguém esperando no portão e uma comidinha bem gostosa no fogão, como dizia a canção do Lulu Santos.

Estes dias, ouvi da minha mãe: “Estou muito feliz porque você está aqui com a gente.”

Voltar pra casa é como voltar ao primeiro amor e nunca mais se desvencilhar daqueles braços e abraços. É ter de volta tudo que perdeu e deixou de ganhar e nunca mais se afastar de casa.

Digo tudo isso porque depois de muito tempo estou voltando pra casa. Nem sempre o retorno parece suave. Acredito que tem muita gente longe de casa; alguns aguardando convites para voltar, outros comendo migalhas nas lixeiras deste vasto mundo de tristezas e sofrimentos.

Enquanto escrevo isto, procuro uma canção muito linda, do Grupo Carisma, tentando criar um clima para finalizar este texto...

"Os defeitos do passado Seu poder vai transformar
Os espinhos do pecado Seu amor vai arrancar
O vazio que te atormenta só Jesus vai preencher
Se tua vida Ele aceita pra que mais se esconder.

Hoje é o dia de voltar, não, não olhes para trás
Se o teu coração falar, não adies nada mais
Só Jesus te ama assim. Lá na cruz em ti pensou
Tu és tudo para Mim: vem, Meu filho, aqui estou."

Então é isso. Estou voltando pra casa e aos pouquinhos me adaptando. Devagarzinho. Estou voltando outra vez, ou de vez. Não sei. Mas é muito bom estar de volta.