terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A LIÇÃO DA GRAMA SECA DE BRASÍLIA


A LIÇÃO DA GRAMA SECA DE BRASÍLIA
(por Airton Sousa)

Acho que foi em 2009 que ganhei um livro de Meditações Diárias, para ler durante todo o ano; eram 365 páginas  e um dos textos, do autor Alejandro Bullón, começava assim: ”De minha janela, olho a grama seca de Brasília e penso: ‘essa grama já morreu de vez.’”

Eu sempre achei o máximo esses escritores que usam a técnica de iniciar o texto partindo de expressões que indicam que estão olhando alguma coisa ou algum lugar. Aliás, quase todos os textos daquele livro começam assim; mas esse “da janela vejo a grama” pra mim é o mais marcante. Fui a Brasília quatro ou cinco vezes na minha vida e todas as vezes que estava lá a primeira coisa que pensava era que Brasília é muito parecida com Realengo, e a segunda coisa era a grama seca de Brasília - que eu fazia questão de olhar da janela do hotel. Lugares secos sempre  me chamam a atenção; não pelo momento, mas pelo que pode acontecer ali.

Estou de mudança para o Rio de Janeiro e da janela do ônibus da Viação 1001 contemplo a estrada, a velha Dutra; observo vários cartazes sobre vendas de grama; toda a Dutra me parece tão seca! Como pode ter tantas placas de venda de grama e de sementes??

Ai, você vai me perguntar o que tem a ver a mensagem da grama seca de Brasília com as placas de grama da Via Dutra. Eu respondo lembrando do texto do Pr. Bullón: “muito, porque no entardecer de mais um ano que foi embora, quem sabe ficou por aí um plano murcho pelo tempo, ou um sonho empoeirado pelas circunstâncias. Não importa, as primeiras gotas de chuva de um novo ano estão chegando, e daí, de onde parece não haver mais nada, pode renascer a esperança.”

Depois de vários cartazes oferecendo gramas e suas sementes, aparece o último deles: “A nossa grama é mais verde que a grama do vizinho...”. Dou um sorriso. Eu havia acabado de ler no celular o texto da grama; releio o finalzinho e já não estou mais triste: “Olho para cima e não vejo nuvem anunciando chuva, mas eu sei que a chuva virá, como vem o mês de janeiro cada ano. Aí, a vida renascerá, os sonhos se enverdecerão e a tristeza fugirá pra dar lugar à alegria.”

Da janela do ônibus que me leva para o Rio de Janeiro eu finalmente entendi a lição da grama seca de Brasília, na Dutra.

6 comentários:

  1. Fico vendo as plantinhas da varanda aqui de casa. Algumas vezes viajo e quando volto estão praticamente mortas, secas. Não tenho um daqueles sistemas modernos de garantir agua pras bichinhas... Aí, na volta, começo a reidratá-las. Faço "chover" nelas. Incrivelmente, não sei como, dias depois elas estão verdes, viçosas, dando flores de novo... Sempre existe a chance de renascer... Sempre existe esperança. Sempre.

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    1. Pois é esta a lição da grama verde, sempre existe esperança de um renascimento. Para nossa alegria!

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  2. Ah que lindo texto! Há sempre a chance de renascer mesmo, não é? Em todos nós vive essa chance. E embora aqui em Sampa as pobres gramas estejam sofrendo com a fala d'água, tenho certeza que uma hora ou outra a chuva vai voltar para a Terra da Garoa e as plantinhas vão poder renascer também! Beijos

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    1. E isso aí Lilica, logo, logo teremos as águas de março fechando o verão. E chuva é promessa de vida.
      Muito obrigado, mas obrigado mesmo pela visita.

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