A LIÇÃO DA GRAMA SECA DE BRASÍLIA
(por Airton Sousa)
Acho que foi em 2009 que ganhei um livro de Meditações Diárias,
para ler durante todo o ano; eram 365 páginas e
um dos textos, do autor Alejandro Bullón, começava assim: ”De minha janela,
olho a grama seca de Brasília e penso: ‘essa grama já morreu de vez.’”
Eu sempre achei o
máximo esses escritores que usam a técnica de iniciar o texto partindo de
expressões que indicam que estão olhando alguma coisa ou algum lugar. Aliás, quase todos os textos
daquele livro começam assim; mas esse “da janela vejo a grama” pra mim é o mais
marcante. Fui a Brasília quatro ou cinco vezes na minha vida e todas as vezes
que estava lá a primeira coisa que pensava era que Brasília é muito parecida
com Realengo, e a segunda coisa era a grama seca de Brasília - que eu fazia
questão de olhar da janela do hotel. Lugares secos sempre me chamam a atenção; não pelo
momento, mas pelo que pode acontecer ali.
Estou de mudança para o Rio de Janeiro e da janela do
ônibus da Viação 1001 contemplo a estrada, a velha Dutra; observo vários
cartazes sobre vendas de grama; toda a Dutra me parece tão seca! Como pode ter
tantas placas de venda de grama e de sementes??
Ai, você vai me perguntar o que tem a ver a mensagem da
grama seca de Brasília com as placas de grama da Via Dutra. Eu respondo
lembrando do texto do Pr. Bullón: “muito,
porque no entardecer de mais um ano que foi embora, quem sabe ficou por aí um
plano murcho pelo tempo, ou um sonho empoeirado pelas circunstâncias. Não
importa, as primeiras gotas de chuva de um novo ano estão chegando, e daí, de
onde parece não haver mais nada, pode renascer a esperança.”
Depois de vários cartazes oferecendo gramas e suas
sementes, aparece o último deles: “A nossa grama é mais verde que a grama do
vizinho...”. Dou um sorriso. Eu havia acabado de ler no celular o texto da
grama; releio o finalzinho e já não estou mais triste: “Olho para cima e não vejo
nuvem anunciando chuva, mas eu sei que a chuva virá, como vem o mês de janeiro
cada ano. Aí, a vida renascerá, os sonhos se enverdecerão e a tristeza fugirá
pra dar lugar à alegria.”
Da janela do ônibus que me leva para o Rio de Janeiro
eu finalmente entendi a lição da grama seca de Brasília, na Dutra.
Fico vendo as plantinhas da varanda aqui de casa. Algumas vezes viajo e quando volto estão praticamente mortas, secas. Não tenho um daqueles sistemas modernos de garantir agua pras bichinhas... Aí, na volta, começo a reidratá-las. Faço "chover" nelas. Incrivelmente, não sei como, dias depois elas estão verdes, viçosas, dando flores de novo... Sempre existe a chance de renascer... Sempre existe esperança. Sempre.
ResponderExcluirPois é esta a lição da grama verde, sempre existe esperança de um renascimento. Para nossa alegria!
ExcluirA Lição da grama seca...
ExcluirAh que lindo texto! Há sempre a chance de renascer mesmo, não é? Em todos nós vive essa chance. E embora aqui em Sampa as pobres gramas estejam sofrendo com a fala d'água, tenho certeza que uma hora ou outra a chuva vai voltar para a Terra da Garoa e as plantinhas vão poder renascer também! Beijos
ResponderExcluirE isso aí Lilica, logo, logo teremos as águas de março fechando o verão. E chuva é promessa de vida.
ExcluirMuito obrigado, mas obrigado mesmo pela visita.
Lindo!
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