QUE REI SOU EU?
Por
João Octávio Barbosa
Roubo
o título da coluna de hoje de uma famosa novela global do século passado. Na
Inglaterra, houve um rei chamado Henrique VIII. Ele sabia que era rei, mas decidiu
acumular outro cargo. O de papa. Por isso, abandonou a Igreja Católica para
fazer sua própria religião, criando o Anglicanismo.
Obviamente,
Henrique VIII tratou de se nomear o líder da nova fé. Com tal liberdade, pôde
se separar de sua esposa (a qual acreditava ser estéril e incapaz de lhe dar um
filho herdeiro) sem ser repreendido pelo Bispo de Roma.
Minha
menção a essa história quase medieval não é apenas porque hoje, 31 de agosto, é
o 794° aniversário de morte de Henrique V (três Henriques antes do oitavo), o
que, aliás, é completamente irrelevante (mas peguei a mania de citar um
aniversário em todos os textos e agora vai ter que ser assim até dezembro), mas
principalmente porque essa estranha ligação entre monarquia e fé me remete a
outro rei, nosso Perfil Sem Curtidas de hoje.
Nabucodonosor,
um dos nomes mais interessantes da Bíblia, como a gente percebe de primeira,
viveu uma grande bipolaridade espiritual. A vida dele é uma caixinha de
surpresas. Um personagem extremamente enigmático.
Eu
não sei se alguém já se interessou em fazer uma biografia de Nabuco (apelido
carinhoso que reduz bastante o tamanho do meu texto de hoje). Esse livro daria
um grande trabalho. Porque Nabuco tem a rara capacidade de deixar o leitor
bíblico confuso sobre se ele era do bem ou era do mal. Ou ele era dos dois?
Estamos
falando de um rei que destruiu Israel, o povo separado de Deus (Esdras 5:12). Ah, ele era
do mal. Mas os profetas bíblicos dizem que ele fez isso guiado por Deus (Jeremias 32:28). Ah, então
ele era de Deus. Mas ele roubou objetos sagrados do Templo de Jerusalém e
profanou em templos pagãos (Esdras
5:14)! Poxa, então ele era super do mal! Mas ele recebeu o poder de Deus
para tomar tudo nas terras de Israel, até os animais (Jeremias 27:6)! Caramba,
então ele era do Senhor!
Gente,
quem era esse cara?
Em
Daniel, ele é o bom rei que percebe a dieta melhor dos rapazes judeus. Depois,
ele é o cruel homem que exige de seus conselheiros que adivinhem o sonho que ele
teve, sem nenhuma pista, para depois interpretá-lo! Então, ele é o humilde rei
que reconhece o poder de um Deus muito acima dele quando Daniel decifra o
mistério, e dá os méritos para Jeová.
Em
seguida, ele é o prepotente e sonso político que reinterpreta a seu bel-prazer
a profecia que Daniel traduzira em seu sonho. É o sanguinário carrasco que joga
pessoas numa fogueira por intolerância religiosa. É o privilegiado pecador que
vê Jesus. É o homem que se converte de novo ao rever o poder de Deus.
Não
acabou. Nabuco foi aquele que contou uma história pessoal, em Daniel 4, de como caiu uma
última vez em seu próprio orgulho e senso de divindade. Por se engrandecer
demais, ele afirma ter passado por um período de total insanidade, a ponto de
viver como um verdadeiro animal largado no mundo. Após sete anos, Nabuco
recobra a consciência, adora a Deus, e se converte pela milésima vez.
Nabucodonosor,
que homem, que nome, que legado! De fato, falta-me certeza para pegar todas
essas informações do que ele fez, viveu e escreveu, e definir que tipo de
pessoa ele era aos olhos de Deus. Era um Maluco Beleza babilônico.
Na
história de hoje aprendemos que... uma vida de altos e baixos espirituais não é,
necessariamente, uma realidade apenas da complexa vida
globalizada/tecnológica/virtual do século XXI. Tem gente que funda a própria
igreja para atender seus interesses pessoais. Outros passam a vida inteira como
“Cristãos Raimundos” (um pé na igreja, outro no mundo). E
mais outros, que têm outros "problemas" em seguir todas as regras de
uma fé rasa.
Recomendo-lhe
o poder da resiliência se você for um Nabuco. E a força da paciência se você
conhecer um Nabuco bem de pertinho. Que você seja a âncora dessa pessoa torta,
que trilha seu caminho até Jesus. Que você seja o sábio Daniel para esse rei
que não sabe quem é de verdade.
Não
peço que concordem, espero que reflitam!