DOIS FILHOS
Por
João Octávio Barbosa
Certo
homem tinha dois filhos.
Esse
homem se chamava Francisco. Na verdade, ele tinha mais que dois filhos. Mas
foram dois, ainda crianças, que tentaram lançar uma carreira precoce na música.
Você pode ter visto essa história no filme “Dois Filhos de Francisco” (2005).
Entre ovos crus engolidos e outras agruras do sertão, a tragédia marca a vida
dessa dupla de irmãos quando, num acidente de carro, o mais novo morre.
O
mais velho, hoje conhecido como Zezé Di Camargo, aniversariante do dia de hoje
(tem sempre uma desculpa para falar da data, né?), foi fazer sucesso já adulto,
com outro filho de Francisco, Luciano - aquele que a gente conhece a cara, mas
não a voz.
Certo
homem tinha dois filhos.
Não
mais Francisco, mas, agora, um homem anônimo, de uma história fictícia contada
por Jesus em Lucas
15:11-32. Essa parábola é, provavelmente, a mais famosa da Bíblia. A
história do “filho pródigo”, que virou até jargão. Muitos que nunca leram a
Bíblia já ouviram essa expressão, que fala de uma pessoa que volta derrotada,
perdida, e humilhada, para o lugar de onde ela sabe, só agora, que não deveria
ter saído. Volta o cão arrependido, com suas orelhas tão fartas, seu osso
roído, e o rabo entre as patas.
A
despeito da popularidade que possui e das claras lições que ensina, o filho
pródigo não é o foco, aqui, hoje. Quero voltar nossos olhos para o seu irmão
mais velho, e refletir no que esse personagem pode nos passar.
Em
primeiro lugar, ele é o irmão mais velho. Ele tinha toda a prioridade familiar,
segundo o costume dos judeus. Deve ter sido muito revoltante, para ele, ver seu
irmão mais novo pedir a herança do pai mesmo antes de sua morte. O verso 29 do
capítulo 15 mostra que ele já trabalhava para o pai há anos. O mesmo não se
afirma do filho pródigo (que nessa hora ainda não era pródigo). O mais velho
passa a imagem de responsável, trabalhador, filho dedicado. Seu irmão, não
entanto, parece ser infantil, mimado, e insensato.
E
o garotão vai embora. Só fazer besteira, até ficar pobre. Pensemos
financeiramente, agora. Dois irmãos, uma herança. O pródigo levou 50%, então
sobraram outros 50%. Quando o filho pródigo volta, todo na miséria, diz que
quer ser tratado como servo do pai. Mas, na verdade, ele seria servo do irmão
também, porque agora tudo o que o pai possuía, era, na verdade, herança em
potencial desse irmão mais velho.
Na
alegoria da história, o filho pródigo é o homem, e o pai é Deus. O homem peca,
se afasta do pai, vive uma vida errada, joga fora tudo que ganhou do alto, mas
recebe o perdão e uma nova chance de Deus. É uma lição linda em sua
simplicidade.
E
o filho mais velho? Quem é?
Veja,
o filho mais velho volta do campo, enquanto o pródigo voltou da farra. O mais
velho mal teria o que jantar, o pródigo ganha uma festa. E, vamos lembrar, uma
festa bancada por ele, o mais velho! Afinal, se a herança que sobrou era a
dele, a fazenda da festa era dele, a bebida era dele, o novilho cevado era
dele!
O
filho pródigo já tinha levado e desperdiçado a parte a que tinha direito, e
agora estava tendo uma festa bancada pela parte do irmão! Ô, folga!
Então,
quem é o filho mais velho? É o egoísmo. O filho mais velho é o egoísmo do
cristão, o egoísmo que se infiltra até na igreja, quando não se tem o devido
cuidado. É o egoísmo de pensar: “Eu é que prego, eu é que louvo, eu é que
dizimo e oferto! Mas, Deus, você pega esse irmão, que passou a vida toda
pecando, e o abençoa mais do que a mim?!”
O
filho mais velho é o pensamento hipócrita da meritocracia espiritual. Do
direito que nós achamos ter de sermos mais bem tratados. De sermos mais
reconhecidos. De poder bater no peito e falar: “Eu não sou tão pecador quanto
ele!”.
Porém,
não é assim. O mais velho, o mais novo, eu e você, somos pecadores e ponto.
Mais pecado ou menos pecado ainda é pecado o suficiente para a morte, e para a
carência da graça de Jesus. E essa competição de ser menos ou mais pecador pode
desviar nossa visão da necessidade que temos de Jesus.
“Filho,
tu sempre estás comigo, tudo que é meu, é teu”, diz Deus, a nós, no finalzinho
da história. Isso é lindo demais de se ouvir. Além da garantia da herança,
temos a presença contínua de Deus. Deixe a volta do filho pródigo ser
desfrutada. O que é nosso está guardado.
Não
peço que concordem, espero que reflitam!
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