quarta-feira, 17 de agosto de 2016

DOIS FILHOS

DOIS FILHOS
Por João Octávio Barbosa

Certo homem tinha dois filhos.
Esse homem se chamava Francisco. Na verdade, ele tinha mais que dois filhos. Mas foram dois, ainda crianças, que tentaram lançar uma carreira precoce na música. Você pode ter visto essa história no filme “Dois Filhos de Francisco” (2005). Entre ovos crus engolidos e outras agruras do sertão, a tragédia marca a vida dessa dupla de irmãos quando, num acidente de carro, o mais novo morre.

O mais velho, hoje conhecido como Zezé Di Camargo, aniversariante do dia de hoje (tem sempre uma desculpa para falar da data, né?), foi fazer sucesso já adulto, com outro filho de Francisco, Luciano - aquele que a gente conhece a cara, mas não a voz.


Certo homem tinha dois filhos.
Não mais Francisco, mas, agora, um homem anônimo, de uma história fictícia contada por Jesus em Lucas 15:11-32. Essa parábola é, provavelmente, a mais famosa da Bíblia. A história do “filho pródigo”, que virou até jargão. Muitos que nunca leram a Bíblia já ouviram essa expressão, que fala de uma pessoa que volta derrotada, perdida, e humilhada, para o lugar de onde ela sabe, só agora, que não deveria ter saído. Volta o cão arrependido, com suas orelhas tão fartas, seu osso roído, e o rabo entre as patas.


A despeito da popularidade que possui e das claras lições que ensina, o filho pródigo não é o foco, aqui, hoje. Quero voltar nossos olhos para o seu irmão mais velho, e refletir no que esse personagem pode nos passar.

Em primeiro lugar, ele é o irmão mais velho. Ele tinha toda a prioridade familiar, segundo o costume dos judeus. Deve ter sido muito revoltante, para ele, ver seu irmão mais novo pedir a herança do pai mesmo antes de sua morte. O verso 29 do capítulo 15 mostra que ele já trabalhava para o pai há anos. O mesmo não se afirma do filho pródigo (que nessa hora ainda não era pródigo). O mais velho passa a imagem de responsável, trabalhador, filho dedicado. Seu irmão, não entanto, parece ser infantil, mimado, e insensato.


E o garotão vai embora. Só fazer besteira, até ficar pobre. Pensemos financeiramente, agora. Dois irmãos, uma herança. O pródigo levou 50%, então sobraram outros 50%. Quando o filho pródigo volta, todo na miséria, diz que quer ser tratado como servo do pai. Mas, na verdade, ele seria servo do irmão também, porque agora tudo o que o pai possuía, era, na verdade, herança em potencial desse irmão mais velho.

Na alegoria da história, o filho pródigo é o homem, e o pai é Deus. O homem peca, se afasta do pai, vive uma vida errada, joga fora tudo que ganhou do alto, mas recebe o perdão e uma nova chance de Deus. É uma lição linda em sua simplicidade.


E o filho mais velho? Quem é?
Veja, o filho mais velho volta do campo, enquanto o pródigo voltou da farra. O mais velho mal teria o que jantar, o pródigo ganha uma festa. E, vamos lembrar, uma festa bancada por ele, o mais velho! Afinal, se a herança que sobrou era a dele, a fazenda da festa era dele, a bebida era dele, o novilho cevado era dele!

O filho pródigo já tinha levado e desperdiçado a parte a que tinha direito, e agora estava tendo uma festa bancada pela parte do irmão! Ô, folga!


Então, quem é o filho mais velho? É o egoísmo. O filho mais velho é o egoísmo do cristão, o egoísmo que se infiltra até na igreja, quando não se tem o devido cuidado. É o egoísmo de pensar: “Eu é que prego, eu é que louvo, eu é que dizimo e oferto! Mas, Deus, você pega esse irmão, que passou a vida toda pecando, e o abençoa mais do que a mim?!”

O filho mais velho é o pensamento hipócrita da meritocracia espiritual. Do direito que nós achamos ter de sermos mais bem tratados. De sermos mais reconhecidos. De poder bater no peito e falar: “Eu não sou tão pecador quanto ele!”.


Porém, não é assim. O mais velho, o mais novo, eu e você, somos pecadores e ponto. Mais pecado ou menos pecado ainda é pecado o suficiente para a morte, e para a carência da graça de Jesus. E essa competição de ser menos ou mais pecador pode desviar nossa visão da necessidade que temos de Jesus.

“Filho, tu sempre estás comigo, tudo que é meu, é teu”, diz Deus, a nós, no finalzinho da história. Isso é lindo demais de se ouvir. Além da garantia da herança, temos a presença contínua de Deus. Deixe a volta do filho pródigo ser desfrutada. O que é nosso está guardado.



Não peço que concordem, espero que reflitam!

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