PRA VIVER
Por Jackson
Valoni
Viajei para a
Itália durante minha lua de mel. Ela não quis ir pra Disney...
As construções
mais impressionantes das cidades por onde passei têm alguma identificação
religiosa.
No terceiro
dia de viagem pelo país, não pude deixar de notar algo que, provavelmente,
existe no Brasil, mas só fui atentar pra isso lá: sempre tem algum pedinte na
porta das igrejas.
Não sei se
posso chamá-los de mendigos. O que sei é que, certamente, haverá alguma dessas
figuras posicionadas estrategicamente junto aos grandes portões das igrejas
estupendas à procura de almas misericordiosas capazes de doar alguma oferta.
Durante o
restante da viagem percebi com mais frequência esse tipo de cena. Seja qual
fosse a cidade que eu visitava, os pedintes compunham a imagem das igrejas e
seus arredores.
Ao longo da
gigantesca fila para entrar no museu do Vaticano, vi diversas pessoas como aquela.
Entre elas, muitos aleijados e idosos. Alguns deles sussurravam algo inaudível
enquanto outros, simplesmente, apelavam para a piedade alheia com o sacudir de
copos e o tilintar de poucas moedas.
Num dos dias
fez frio demais e chovia fino. Estava em Veneza, uma cidade que me fez lembrar
bastante de Paraty. Tão exótica quanto. Lá (em Veneza), observei uma senhora
que segurava um copo descartável enquanto balbuciava alguma súplica, humilhada.
Poucos lhe davam atenção, tampouco eu, um turista em lua de mel.
Ninguém duvidaria
de que aquela senhora necessitava de ajuda, ainda que poucos ouvissem ou entendessem
o que ela dizia. Sua condição precária era evidente e até você, que não viu
aquela mulher, vai acreditar em mim. Mas eu a ignorei, fingi que aquela cena
não significava muito, consenti com a fome dela, com a miséria dela, com a
frieza do meu coração acostumado a ver pessoas dependentes de muito mais do que
orações.
“Vou orar por
você.” “Estou orando por você.” Conivência. Ideologias que não saem do papel,
da mente, do desejo. Não me sinto “um homem mau” por não ter dado a minha ajuda
para aquela senhora nem para tantos outros pobres necessitados que cruzam meu
caminho, mas aquilo me fez perceber, com mais força ainda, que o ser humano, de
um modo geral, é hipócrita demais.
Fico
envergonhado quando percebo que não sou o cristão que, teoricamente, eu deveria
ser. Sei quem é o meu Deus. Ele gosta de iluminar a vida, de clarear os
problemas e mostrar o caminho brilhante para a salvação eterna. A primeira
criação deste mundo, não à toa, foi a luz.
“Quando
entre ti houver algum pobre, de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na
terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás
a tua mão a teu irmão que for pobre (...). Pois nunca deixará de haver pobre na
terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu
irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra.”
Deuteronômio 15:7, 11
Deus nunca permitirá que faltem recursos na
vida dos homens e mulheres que se importem de suprir as necessidades de quem
não encontra mais soluções para sobreviver. E não se limite ao dinheiro;
lembre-se de que nem só de alimento ou recursos financeiros vivem as pessoas,
mas de toda palavra que vem do Céu.
Viva a sua ideologia.
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