RESENHANDO ED RENÉ KIVITZ
Maria Paula - Niterói/RJ
"Nada do que é humano deve nos surpreender." - Sêneca
Em seu livro "Vivendo com propósitos", Ed
René Kivitz busca trazer, em suas próprias palavras, uma resposta cristã ao
sentido da vida. Passeia por conceitos como Imago Dei, de que fomos criados à
Sua imagem e semelhança e, a partir daí, fala sobre transcender, crescer,
construir. Ele não traz respostas óbvias, mas nos convida a reflexões
relevantes, algumas das quais serão tratadas aqui.
A partir de suas reflexões,
pode-se pensar que é impressionante como temos a capacidade de nos surpreender com os erros alheios, como se errar nos fosse estranho ou, ainda,
fosse uma questão alheia à nossa condição humana.
Desde que o mundo é mundo, praticamente, o pecado
existe. Exceto nos dias anteriores ao pecado de Adão e Eva, sempre houve o
erro. "Culpa deles", poderíamos pensar, numa visão bem mesquinha da
vida. "Por que temos que pagar um preço pelo que não fizemos?",
alguns perguntam.
O que acontece é que fizemos, sim. Adão e Eva são só o
protótipo de toda a humanidade. Fosse eu, faria o mesmo. Culpa minha.
Parece difícil conviver com a palavra
"culpa". E, por essa dificuldade mesmo, opto sempre por uma parecida,
mas que soa diferente. Responsabilidade minha. Antoine de Saint Exupéry já
dizia: "Tu te tornas eternamente responsável por quem cativas". Não
culpado, mas responsável. Viver é uma atitude de responsabilidade tão grande
quanto amar.
Desde cedo, vamos aprendendo que viver não é pra
qualquer um, não. Lembro-me de uma música que aprendi na escola e que dizia
assim: "Quando a gente cresce um
pouco, é coisa de louco o que fazem com a gente. Tem hora pra levantar, hora
pra se deitar, pra visitar parente...". E não é verdade? A
responsabilidade de ser não é de Adão nem de Eva, mas minha e sua. Faríamos o
mesmo, sejamos honestos.
Faríamos porque somos humanos. E, porque somos humanos, não deveria nos surpreender que dois próximos nossos, há bastante tempo, tenham cometido o erro original. O que não consigamos compreender, talvez, seja o "sorteio divino" de quem vai sofrer mais ou menos, por conta desse erro original. Por que não sou eu a pessoa em situação de rua?
Por que não sou eu a iletrada?
Quem é que joga os dados da vida e escolhe pra quem vai
o sofrimento? Se é Deus, onde está Sua bondade?
Alguns acreditam que para acreditar em Deus, é preciso
saciar as questões mais profundas da existência humana. Caso contrário, é
preferível acreditar em nada. O que também não satisfaz, mas é uma opção.
Alguns fatores da Filosofia existencialista me fazem
apontar para Deus e Sua realidade, ainda que eu não saiba todas as respostas
sobre a vida (caso contrário, eu seria Deus).
A nossa necessidade de saciedade moral é uma delas.
Quem foi que pôs, no nosso coração, essa sede de querer fazer o que é correto,
mesmo quando o erro possa não oferecer condenação nem medo? A nossa mente não
se aquieta. Não consegue viver com duas realidades. Ou rompe com uma, ou com
outra. Quem nos programou assim, certamente, nos programou também para que
questionássemos os motivos de nossa curta trajetória durante o intervalo entre
nascer e morrer. Se esses questionamentos não fossem uma constante dentro de
nossa mente, que nunca sossega, aí sim, eu poderia pensar que Deus não é real.
Mas a realidade divina me convida a questionar a mim
mesma, a aceitar que alguns entendimentos estão fora de meu alcance e,
sobretudo, entender que, se sou abençoada, tenho a responsabilidade de
abençoar. Todos os dias. De todas as formas que me forem possíveis. A mim, cabe
amar. Sim, amar todos os seres humanos, incluindo aqueles que cometem os erros
mais grotescos. Nada do que é humano deve nos surpreender, mas deve despertar
em mim a responsabilidade do amor que Deus põe no meu coração.
Obrigada, querido Deus!
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Referência:
Música Bê-a-bá, de
Toquinho e Elifas Andreato – Disponível em duas versões: https://youtu.be/FIBjN2ioUkw e https://youtu.be/QNfCXp-xJXE - links
acessados em 26.03.2017.
Muito legal.
ResponderExcluirparabéns