DESPRESTIGIADOS,
PORÉM SALVOS.
Maria Paula – Niterói/RJ
Eu gosto do que é leve. Eu não sei vocês, mas eu gosto.
Gosto muito. E se tem uma coisa que eu acho leve é uma boa história. Eu me
amarro em histórias. Gosto de contá-las e de ouvi-las (e depois
reinventá-las... Quem nunca?). Mas as histórias, para serem histórias, precisam
de algumas características presentes. Primeiro, precisam ter sequencialidade.
Em segundo, precisam de uma excepcionalidade. Ninguém narra um evento comum.
Depois, ela tem um desfecho e, em algum momento, algum tipo de avaliação
("foi bizarro", "inacreditável", por aí em diante).
Estou falando isso porque, hoje, vou contar uma
história. Mas antes de contá-la, quero fazer só mais uma observação sobre histórias.
É que eu acho interessante como a história pode ser uma metonímia da vida. A
nossa vida tem uma sequencialidade e a gente passa o tempo todo em busca do
excepcional, para que nossa história possa ter um desfecho com alguma avaliação
positiva. Nesse sentido, não seria surpreendente saber que o Autor da Vida,
quando pisou aqui, se apresentou como um grande contador de histórias.
Vamos à história. Está em Lucas 14:8-11.
“(...)
Quando alguém o convidar para um banquete de casamento, não ocupe o lugar de
honra, pois pode ser que tenha sido convidado alguém de maior honra do que
você. Se for assim, aquele que convidou os dois virá e dirá: ‘Dê o lugar a
este’. Então, humilhado, você precisará ocupar o lugar menos importante. 0Mas
quando você for convidado, ocupe o lugar menos importante, de forma que, quando
vier aquele que o convidou, diga: ‘Amigo, passe para um lugar mais importante’.
Então você será honrado na presença de todos os convidados. Pois todo o que se
exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado”.
Essa história me faz lembrar algumas histórias - como
toda boa história, naturalmente, faz com a gente. Mas vou escolher só uma pra
contar. Eu me lembro do aniversário de uma menina. Minha amiga. Muito amiga.
Até já falei dela aqui. Ela estava fazendo nove anos, e eu também era criança
nessa época. Naquele dia, ou melhor, naquela noite de aniversário, ela decidiu
sair pela rua, sem que os pais vissem, procurando os moradores de rua para
convidá-los para sua festa. Em sua mente, a ideia parecia genial: tem comida e
eles têm fome. Seus pais estavam muito ocupados com os preparativos da festa e,
quando olharam pela janela, só viram pessoas entrando pelo portão, mas não eram
os convidados que estavam esperando. A menina, então, teve que explicar que os
havia convidado. Os pais não acharam tão bom assim, mas, de alguma maneira,
negociaram com ela. Acho que dariam comida e, em seguida, eles teriam que ir
embora.
O desfecho dessa
história foi assim: comida e fim. Mas, bem, em algum ponto essa narrativa e a
bíblica se entrelaçam e me fazem lembrar o Reino. Somos nós, os pobres, os
moradores de rua, os sem prestígio algum diante da grandiosidade de Deus. Somos
nós os que, olhando pra nós mesmos, devemos saber que o lugar que nos cabe é o
último. Se entendermos isso, então Jesus, com sua graça, chegará até nós e nos
chamará para sentar em um lugar melhor, em lugar de salvação, misericórdia e
amor. E esse lugar transformador mudará o nosso ego, fazendo com que, agora,
ele saia e leve o Reino a outros desprestigiados, que não podem nos retribuir,
como nós não podemos retribuir o que Cristo fez por nós. O Reino chegará a
eles, talvez, em forma de comida, de abrigo, de abraço ou de palavra, porque,
por serem humanos (como nós somos), são desprestigiados, carentes da graça de
Deus, assim como toda a humanidade.
Mas a boa notícia é que a graça dEle nos alcança para que sejamos o Reino, desde agora e para sempre.
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