QUE
FALTA LHE FAZ UM ABRAÇO?
Por Denize Vicente
Para o texto de hoje colaboraram minhas
amigas Ana Carolina, Ana Beatriz, Julia e Jaqueline Vieira, e meus amigos
Lucas, Loisy e Williams. É que depois de um papo sobre o assunto com as meninas,
no sábado de manhã, o tema voltou à tona à noitinha com o outro grupo de amigos;
e na despedida o Lucas disse assim: “Isso dá um texto pro blog...”. E não é que
deu mesmo?
A conversa começou quando eu perguntei quais
são os meios de comunicação que estão disponíveis pra gente, hoje em dia,
quando se quer falar com alguém. As meninas listaram: WhatsApp, Facebook, Snapchat,
“email” (sim, até o velho “email” foi lembrado!), telefone... Em seguida,
perguntei à Bia o que ela faria se tentasse falar com uma amiga pelo WhatsApp e
não tivesse retorno; ela foi dando as outras opções e eu insistindo na
possibilidade de também não haver resposta. Finalmente, depois de dizer que a
essa altura já estaria “enlouquecendo”, ela disse que iria bater à porta da casa
da amiga querida, pra falar com ela.
O papo rendeu, porque começamos a divagar...
até que veio a frase fatal: “A que ponto
nós chegamos! Ir falar pessoalmente com alguém virou a última cartada!”. Vou
contar pra vocês sobre o que falamos naquela manhã de sábado, papo também do sábado
à noite, e talvez você concorde com a gente...
Uma das meninas contou que mora na mesma
rua que uma amiga sua, querida; mas disse que só a vê na correria – atrasadas.
Então, se cumprimentam enquanto se cruzam no caminho para a faculdade, mas não
param pra conversar, por conta da hora. Nesse mesmo ritmo se despedem, dando um tchau com a mãozinha e jogando
no ar um beijo, uma pra outra.
Houve um tempo em que a gente brincava,
dizendo nas despedidas: #beijomeliga. Hoje, nem isso. Hoje se diz: “Vê se me passa um zap.”. A gente diz: “Beijo!”. Mas não beija. E a pessoa está ali,
na nossa frente! Vou repetir, para o caso de você ter lido
rapidamente: por hábito e pressa, você se despede de alguém que está à sua frente, dizendo:
“Beijo!”; mas você não o beija.
Se você reparar na cena, com atenção, vai
notar que as pessoas não param três segundos para um beijo de verdade, “por conta
da pressa”, “por causa da hora”. Mas em seguida saem andando, mexendo no
celular - o que as faz atrasar o passo e perder tempo de verdade.
Ninguém mais vai ver o amigo em casa “pra
jogar conversa fora”; joga conversa fora pelo WhastApp mesmo. Ninguém mais se
atrasa um pouquinho esticando uma conversa “ao vivo”. Ninguém quase se vê mais,
a não ser por fotos nas redes sociais. Ninguém se toca mais, a não ser “de
boca” (“Beijo!”, “Um abraço!”).
E nós vamos morrendo um pouco a cada dia,
por falta de toque, por fome de abraço... e nem sabemos.
Pra que a gente possa viver melhor e oferecer
vida melhor também aos seres que transitam pela estrada que a gente anda, é
preciso abrir mão da praticidade e da pressa. Pra gente se sentir vivo e
querido e pra passar a sensação de “pertencer” a gente precisa se tocar.
Abraçar, dar um beijo, um cheiro, tocar as mãos, sentir a pele do outro. Pra
isso Deus nos deu o tato como sentido.
Dê uma olhada no seu WhatsApp e veja
quantas vezes você beijou, no último mês, as pessoas para as quais você mandou
um beijo virtualmente. Quantos abraços de verdade você deu nelas? Quantos
ganhou?
Somos tão menos do que poderíamos ser para
os outros e eles para nós, simplesmente porque decidimos ser assim, tão virtuais
e apressados! Os relógios só nos atrasam...
A Bíblia nos fala bastante sobre a
importância do toque, do beijo e do abraço, e nos mostra que eles podem
significar muito, dar sentido, e fazer a diferença. O filho pródigo, por
exemplo, foi recebido por seu pai com um abraço (Lucas 15:20); Davi e Jônatas,
amigos que não se viam há tanto tempo, se reencontraram e na despedida se
beijaram (I Samuel 20:41 – ponto pros argentinos que, livres de preconceito,
adotam o beijo entre “amigos homens” com tanta naturalidade!); Paulo se
despediu dos amigos com abraços e beijos (Atos 20:37) e Jacó e Esaú se beijaram
e se abraçaram, em reconciliação (Gênesis 33:4).
A ciência também já provou os benefícios fisiológicos obtidos pelo
ato de tocar, inclusive para os recém-nascidos.1
“O ato de tocar ou ser tocado envolve a estimulação
de receptores cutâneos que transmitem mensagens para o cérebro que são, então,
interceptadas pela pessoa. Um grande segmento do cérebro é dedicado ao tato.
(...) ele é o mais íntimo e o mais poderoso dos meios de comunicação.”2
Não existe controvérsia sobre a importância
do afeto.
Didier Anzieu diz que "a pele (...) possui
uma prioridade estrutural sobre todos os outros sentidos pelo menos por três
razões: ela é o único sentido que recobre todo o corpo, ela própria contém
vários sentidos distintos (calor, dor, contato, pressão...) cuja proximidade
física leva a uma contiguidade psíquica e a massagem é uma mensagem."3.
Pense bem: que falta lhe faz um abraço?
Desligue-se do celular e das redes sociais por
doze horas, completamente, uma vez por semana. Aumente esse tempo a cada período
de sete dias. E nessa pausa para desintoxicação do mundo virtual, experimente
dar beijos e abraços pessoalmente.
“Tudo neste mundo tem o seu tempo;
cada coisa tem a sua ocasião.
(Há) tempo de abraçar e tempo de
afastar”.
(Eclesiastes 3:1 e 5)
Já gastamos tempo demais nos afastando, você
não acha?
______________________
Referências:
1. Sobre a importância do toque em
recém-nascidos: O afeto do toque: os benefícios fisiológicos desencadeados
nos recém-nascidos - Revista de Medicina e Saúde de Brasília – disponível
em <http://portalrevistas.ucb.br/index.php/rmsbr/article/view/4015/2677>
- acessada em 18.05.2016.
2.
Brito AX, Coelho LVX. Pais e
Recém-Nascido Prematuro: o contato pele a pele influindo no desenvolvimento do
vínculo afetivo. Dissertação (Especialização em Psicologia Hospitalar).
Recife: Curso do Centro de Psicologia Hospitalar e Domiciliar (CPHD), 2005.
3.
Anzieu, Didier. O Eu-pele. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 1989.
*
Agradecimentos a Victor Viana - uma referência em termos de abraços.
A propósito, domingo, dia 22 de maio, é o Dia do Abraço. Mas isso é só um detalhe.
Que texto fofo!! Realmente durante a semana é muito complicado..todo mundo parece estar correndo. Por isso amo o sábado (quartas e domingos tbm). Oportunidade de parar, abraçar e beijar!! O tempo é tão veloz que é triste desperdiçá-lo não abraçando! :)
ResponderExcluirPois é, Cah! A vida é muito curta pra economizar abraços. Aliás, carinho não se economiza, né?
ExcluirA propósito, quando é que eu vou te ver pra te dar um beijo, um cheiro e um abraço??
Amei o texto! E é a mais pura verdade essa reflexão... vivemos casa vez mais virtualmente. Só nos damos conta disso quando nos desligamos...
ResponderExcluirÉ, Isa. Estamos nos distanciando uns dos outros. Isso é um péssimo hábito.
ExcluirHora de mudar, né?
Inspitador o texto. Só não vou mandar um beijo nem abraço por razões óbvias - isso não é possível virtualmente. Gosto de pensar que Cristo, mesmo sabendo que Judas o traria, aceitou o seu beijo. Fica a dica - beijo/abraço não se nega. Pelo menos permanece a atitude de estar sempre disponível, de braços abertos, esperando o melhor, ainda que o outro lado esteja mal intencionado.
ResponderExcluirBoa sacada, Lucas, esse lance do beijo de Judas e essa coisa de não negar e estar sempre disponível.
ExcluirObrigada pelos beijos e abraços reais de hoje é de todas as vezes que nos encontramos.
Boa semana!!
Belo texto! Um abraço verdadeiro é uma maneira de expressar afeto, transmitir algo bom, compartilhar uma dor etc. É divino.
ResponderExcluirAcho que é humanamente divino, mesmo. Abraço é afeto. E as pessoas estão pouco afetuosas, hj em dia. Outras vezes, como comentou um leitor, pelo WhatsApp, uma demonstração de afeto é mal interpretada. E as pessoas se distanciam, julgando mal umas às outras. Chato, isso, né?
ExcluirQue legal texto... e existem pessoas q mesmo diante de todo essa apatia tecnológica, quando se depara com beijos e abraços ainda dizem "fala mais não toca..." eu irei enviar esse link para uma pessoa com esse belo texto, talvez consiga tocar seu coração
ResponderExcluirAhahahahaha!!!
ExcluirConheço esse mantra, Victor. Kkkkkkkkkkkkk
Manda mesmo o link. Quem sabe o coração é tocado...
Que haja mais abraços, beijos, carinhos na mão, carinho no rosto... Tato!
:)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSó rindo. Essa postagem não é de Carol e sim de Esther a teteca.
ExcluirAh, mas vc apagou o comentário, Teteca... :(
ExcluirToma cá um abraço minha querida, que hoje é dia.
ResponderExcluirGóstio múitio.
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