sexta-feira, 6 de maio de 2016

APRENDENDO COM O DESESPERO. APRENDENDO O QUÊ??


APRENDENDO COM O DESESPERO. APRENDENDO O QUÊ??
Por Denize Vicente

Hoje eu queria falar sobre relacionamentos, sobre família, e sobre mães...
Eu sei que alguns de vocês já não têm mais o privilégio de comemorar o segundo domingo de maio na companhia da sua mãe, e talvez alguns não tenham lembranças muito boas dessa data, no passado... mas o que vou transcrever e escrever, hoje, neste post, você pode aplicar na sua vida, como filha(o), mas também como pai, irmã(o), marido, esposa, e até mesmo como amiga(o) de alguém - porque amigos são a família que nós escolhemos, na vida. Então, se vamos falar de relacionamentos familiares, é um texto que, de algum modo, aproveita a todos...


Leo Buscaglia, você já deve saber, é um dos meus escritores favoritos, não apenas pela sua formação acadêmica, mas porque escreve com a alma, a partir das suas vivências em salas de aula e com seus alunos, e que, de alguma forma, sempre estão ligadas às suas experiências pessoais, especialmente na infância.

É do livro “Vivendo, Amando e Aprendendo”, Ed. Record, 7ª ed., pp. 86 e 87, que extraio esta história: 

Muitos de vocês sabem que nasci de uma família imigrante, muito simples e bonita. Eles tinham morado no norte da Itália, onde há os vinhedos, e nos criaram com muita simplicidade. Mas não nos protegeram contra a vida. Sempre participamos de tudo. A alegria na casa, a música na casa, a maravilha na casa. Mas a dor e desespero na casa também eram nossos. Não fomos resguardados de nada.

Nossa família era muito estranha porque às vezes estávamos por cima, e tínhamos tudo o que queríamos – ravióli e nhoques e espaguetes e salsichas – e de outras vezes não havia quase nada. Fazíamos uma grande polenta. Conhecem polenta? É um prato do norte da Itália que é um grande bolo feito de fubá e enche a gente. Seis bocados e você está farto! Mas pelo menos o seu estômago não dói. Mas nunca fomos resguardados da dor, pois cada vez que papai entrava e víamos que ele estava de cara muito comprida, ele dizia alguma coisa como: “Não temos mais dinheiro.”. Depois, acrescentava: - “O que vamos fazer a respeito?”. Ah, era tão bom ver todo mundo se juntar, como “nós”. Minha irmã dizia: “Vou ao mercado juntar as folhas que sobrarem para os coelhos.”. E eu passava a ser vendedor de revistas. Lembram-se dos tempos em que a gente vendia revista de porta em porta? Rapaz, isso é que foi uma educação. E todos faziam alguma coisa. Experimentamos a sensação de estarmos juntos.

Mamãe fazia uma coisa maravilhosa. Ela sabia lidar com as caras compridas do papai. Tinha uma coisinha que chamava de garrafa da sobrevivência. Punha um pouquinho de dinheiro numa garrafa e a enterrava no quintal, para o dia em que estivéssemos passando fome. Depois fazia alguma coisa espetacular com aquele dinheiro! De repente, aparecia com uma galinha!

Mas aprendemos muito com o desespero. Aprendemos muito com a fome. Aprendemos muito sendo considerados “nós” e fazendo parte de uma família.


Nos dias de hoje, as pessoas - para além de não contar as pequenas alegrias – não sabem lidar com o sofrimento. Ou se derretem em lamentações ou se revoltam pela dor que passam. Há sempre um culpado, sempre um responsável. Somos sempre vítimas; o outro, o algoz. Há tanto a aprender com o desespero e a dor! O sofrimento nos ensina sobre a força, sobre a união, sobre a capacidade que o ser humano tem de se recompor diante das adversidades; o desespero nos faz ser criativos, aguça nosso senso de humor adormecido, nos torna dependentes uns dos outros, e essenciais, uns para os outros. Mas as pessoas querem apenas se livrar da dor. E às vezes se livram, sem nada ter aprendido com ela.

Essa história da família Buscaglia fala de desespero, fome, altos e baixos, e é inspiradora. Porque fala de uma família que se relacionava com transparência, amor e união; de um pai amoroso e batalhador, fala de u’a mãe que tinha jogo de cintura e criatividade, de filhos comprometidos, fala das dores que sempre vão surgir, a despeito da alegria na casa, da música na casa, da maravilha na casa.

Essa pode ser a sua história, vivida a partir de agora e contada daqui a alguns anos para gerações futuras. (Re)Escreva a história dos seus relacionamentos.

Naquela família, a gente percebe em cada linha que lê, o essencial não estava nos raviólis nem nos nhoques dos tempos de “vacas gordas”, e também não estava na galinha que aparecia pro jantar de forma espetacular depois de desenterrada a garrafa da sobrevivência; o essencial não estava na grana – nem quando havia nem quando faltava; o essencial deles estava no viver a vida, com seus altos e baixos, no viver o momento presente. O essencial em você é a vida que você tem e que vive agora.

A propósito, está lá nas páginas 88 e 89 do mesmo livro:

O passado já passou. Perdoo o meu passado. Perdoo as pessoas que me magoaram. Não quero passar o resto da vida acusando e apontando o dedo. Estou tão farto de ouvir as pessoas reclamarem do que os pais lhe fizeram. Sabem o que os seus pais lhe fizeram? O melhor que puderam. O melhor que sabiam fazer. Ninguém quis, por maldade, ferir o filho, a não ser que fosse psicótico.

Você sabe perdoar? Pode esquecer? Pode dizer que está tudo bem? Pode dizer: “Eles também são gente” e abraçá-los?

Eu termino o post de hoje dizendo o seguinte: neste próximo domingo, se você tem a chance de abraçar sua mãe, faça isso; e vá além: abrace a sua família. Abrace além dos braços. Abrace a causa. Perdoe... Se alguém ali estiver precisando do seu perdão, perdoe mesmo que ele não tenha pedido... E se não há família de sangue pra se reunir no domingo, sempre existem os amigos, a mãe deles, os irmãos, o pai dos amigos, os amigos que não têm ninguém... E talvez você possa estar com eles, se ocupando com o que é essencial. 

Espero que todos nós possamos fazer as pazes com os papais e mamães e irmãos e irmãs e outros queridos antes que eles morram. 
(ib. p. 184)


Feliz Dia das Mães, mamães!
A todos os demais, #ficaadica de Salomão: “Deem a ela o que merece por tudo o que faz, e que seja elogiada por todos.” (Provérbios 31:31)




6 comentários:

  1. Linda mensagem! Hoje não tenho mais a presença da minha mãe entre nós, mas a tenho viva dentro de mim, por cada momento de amor, alegria e fé.
    Deus derrame bençãos, sobre a vida de todas as mães.

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    1. Foi como eu lhe disse há pouco, Paulinho: as lembranças maravilhosas que vc guarda da sua mãe vão permitir que você sinta coisas boas neste domingo. Que Deus siga confortando o seu coração, e que o amor da sua mãe se perpetue, reflitindo em você e em todos da sua família.

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  2. Lindo texto sobre família, sobre união, sobre como extrair proveito dos altos e baixos que a vida nos apresenta, como perdoar e como amar. Por fim, encerrou com provérbios 31, um dos meus favoritos. Parabéns pelo belíssimo texto!

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    1. Feliz Dia das Mães! Como mãe ou como filha(o)!!

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