O CANTAR DA ÁGUA
(Por
Eduardo Santos)
Era segunda e, ao contrário do que o senso comum
prega, foi um dia positivamente especial. A família estava reunida desde o fim
da tarde, algo pouco usual devido à correria da semana. Conversamos, rimos,
assistimos filmes pela metade, assistimos um filme inteiro (na verdade, neste
exato momento, ainda estamos tentando) e, por fim, preparamos o jantar.
Como toda boa família carioca, não podia faltar a
famosa mistura de arroz e feijão. Neste caso, faltava só o arroz. Não sei se já
inventaram algum outro jeito de fazer arroz, mas o que eu conheço ainda precisa
ferver a água! E foi assim: fiquei olhando uma panela de água fervente. Sendo
sincero, acompanhei o processo de uma etapa anterior à ebulição e fui agraciado
por uma bela sinfonia.
Não se preocupe, ainda estou em meu perfeito estado
mental, apesar de não parecer! Pode parecer estranho falar de canto e sinfonia
quando o assunto é água. Lembro-me de quando ouvi sobre isso pela primeira vez,
achei que fosse piada, mas não era.
O processo de ebulição, ou fervura, da água é um
evento físico no qual a água líquida se transforma em vapor. Você já presenciou
esse fenômeno muitas vezes na preparação de alimentos como legumes cozidos,
macarrão, arroz etc.; outra oportunidade de tê-lo visto é quando toma banho
quente. É coisa simples: quando a água atinge a temperatura certa, vemos umas
bolinhas subindo do fundo recipiente e causando uma baita confusão no líquido.
Se continuarmos aquecendo, logo, logo a água evapora toda. Isso você já sabia...
mas já prestou atenção imediatamente antes de começar a ebulição?
Se já prestou, com certeza você ouviu um barulhinho
diferente saindo da água. Isso é o que se chama canto da água. É claro que isso
não explica muita coisa, né?! Por isso que vou dar mais detalhes desse fenômeno,
agora:
A passagem de um estado físico para o outro se dá por
meio de concessão de energia na forma de calor, em outras palavras, aquecemos a
água e ela passa de líquido para vapor. Em um dado momento, a energia
necessária é quase atingida e inicia-se a formação de bolhas no fundo do
recipiente. Mas, se você prestou atenção no que acabei de escrever, percebeu
que coloquei um “quase”, discreto, no meio da frase, indicando que ainda não se
tinha a demanda necessária. E no mundo físico-químico é assim: para que um
fenômeno aconteça significativamente, é preciso cumprir os requisitos, não tem
essa de “jeitinho brasileiro”!
O que acontece em seguida é que as bolhas formadas são
comprimidas pelo líquido no qual estão imersas, até que somem. É aí que está o
pulo do gato para entender o barulho. Existe uma lei pronunciada por um famoso
químico francês, Lavoisier, que diz: “Na natureza, nada se cria, nada se perde.
Tudo se transforma.” Apesar de ser um insight
muito inteligente, foi aplicado ao conceito de conservação de massa, mas,
possivelmente, influenciou a lei da conservação de energia que diz que a
energia de um sistema isolado é constante - o que significa dizer que uma forma
de energia pode ser transformada em outras.
É isso o que acontece. A chama transfere energia
térmica para a água, bolhas de vapor são criadas no interior do líquido, mas
ainda não há energia suficiente para serem estabilizadas; elas são comprimidas
até sumir e a energia que continham é transformada em energia sonora,
majoritariamente, e de outros tipos. O que acho legal desse fenômeno é que ele
é um prenúncio do que realmente se espera, embora não seja capaz de precisar o
momento certo da fervura. Ele acontece como algo que nos certifica de que em
breve a água vai ferver, seja qual for a finalidade dela.
Essa certeza do acontecimento do evento e da brevidade
de sua realização me faz lembrar de uma promessa maravilhosa: “E quando eu
for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para
que onde eu estiver estejais vós também.” (João 14:3).
Ultimamente, temos sido expostos a catástrofes
naturais, sociais e econômicas. Aspectos apresentados por Cristo em Mateus 24,
como sendo prenúncios de Sua majestosa vinda. Mas eles têm se tornado tão
corriqueiros, tão intensos, tão chocantes que alguns julgam esse evento como
algo fictício, uma esperança infantil, uma boa história. Outros tendem para o
outro lado, vivendo uma vida alarmista, marcando datas ou dizendo já ter acontecido.
E, em meio a tanto sofrimento, às vezes erguemos um rogo em forma de
pensamento: “Até quando, Senhor? Até
quando nós teremos que esperar? Até quando, Senhor? Até quando nós teremos que
chorar?”1.
Assim como o canto anuncia a ebulição, mas ainda não é
o momento certo, essas catástrofes nos dão a certeza de que muito em breve
Jesus irá retornar, nas nuvens do céu. E quando achamos que é possível prever
com exatidão a hora H ou que Cristo está atrasado, somos alertados pelas
palavras de Pedro e, ao mesmo tempo, confortados pela certeza do cumprimento da
promessa: “O Senhor não retarda a sua
promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não
querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (II Pedro 3:9).
O tempo tem
passado depressa e já podemos ouvir o soar das bolhas sendo comprimidas. Não
sabemos até quando elas serão esmagadas pela pressão do líquido que as envolve,
ou melhor, não imaginamos até quando veremos os fatos que anunciam o retorno de
um Rei que está às portas. Temos, por enquanto, apenas um lembrete de que a
esperança é válida. Preste atenção e verá que o que outrora parecia um barulho
irreconhecível se tornará nas poderosas palavras que narram a chegada de
Cristo: “Eis
que vem com as nuvens, e todo o olho o verá.” (Apocalipse 1:7).
O pensamento de hoje é: não se recebe um rei de
qualquer maneira; será que estamos preparados?
Tenha um ótimo dia!
Um abraço!
______________________
Referências:
1-
ATÉ QUANDO, SENHOR?
Disponível em: <http://letras.mus.br/compasso-livre/1516528/>. Acessado
em: 20/10/15.
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