SOBRE MENINOS
E OVELHAS
(Por Eduardo Santos)
Andei relembrando, dia desses, de algumas histórias da
infância e me recordei de uma que ocorreu há, mais ou menos, 18 anos. Eu devia
ter 4 ou 5 anos e era como toda criança nessa idade: superdesatento.
Fomos ao Parque Shanghai, certa vez, com uns amigos (era
um parque de diversão de alta qualidade, na época; hoje, já nem sei mais se ele
ainda existe). De início, aquilo parecia um mundo a ser explorado, diante dos
meus olhos. Mas aquelas luzes piscando, o barulho e toda aquela movimentação de
pessoas freavam meu instinto de explorador.
Claro que toda essa cautela não durou o tempo todo...
logo estava eu querendo me desvencilhar das mãos dos meus pais para começar a
ver o que tinha de bom naquele parque. Até que, distraído, comecei a andar numa
direção diferente do grupo e me perdi. Levei um tempo pra me dar conta de que
estava sozinho, mas, quando percebi, já devia estar bem longe.
Um fato curioso é que minha história se parece muito
com outra, a de Lucas 15, a parábola da ovelha perdida. Uma vez, numa conversa
sobre essa parábola, acabei sendo apresentado aos costumes judaicos
relacionados à pratica de pastoreio.
Diz-se que a distância entre o aprisco e o oásis onde
as ovelhas pastam é em torno de 3 a 4 km. Ou seja, um rebanho chega a andar por
dia uns 8 km e isso é muito chão, um percurso grande o suficiente para uma
ovelha desatenta se perder! E foi exatamente isso que aconteceu: das 100
ovelhas, apenas 99 retornaram, ao final do dia.
Não sei dizer se a ovelha percebeu ou não que estava
perdida. Talvez tenha demorado, mas, como eu, acabou vendo que algo estava meio
diferente. O que sei dizer é que o pastor sentiu falta do animal desgarrado da
mesma forma que meus pais sentiram falta de mim!
O fim da história da ovelha eu não preciso lhe contar
para você saber, é só ir conferir na Bíblia. Mas está curioso para saber o
desfecho da minha história? Algo que já está evidente é que terminou tudo bem,
ou quase isso. Afinal, sou eu mesmo que estou contando essa história. O que não
foi nada legal foi que, após ser achado, não tinha mais aquela liberdade de
correr para onde desse na telha. Sempre tinha a mão de um adulto agarrada a
minha e não demorou muito para irmos embora.
Confesso que, até hoje, guardo a impressão de ter
estragado o passeio por ter sumido por alguns instantes, mas o que mais me
marcou foi a sensação de estar acompanhado o tempo todo. O adulto que me dava a
mão não me impedia de ir até os brinquedos e aproveitar a brincadeira, mas
estava lá comigo em todas elas.
E pelo que soube dos pastores judeus, é mais ou menos
assim que funciona para as ovelhas que se extraviam. Elas são acompanhadas a
todo momento, em todas as atividades, são carregadas nos ombros e nunca saem do
alcance da vista do pastor.
Somos como ovelhas distraídas percorrendo grandes
distâncias a cada dia. Passando por vales e desertos, caminhos tortuosos,
planícies e oásis. Temos a péssima mania de não prestar atenção ao caminho do
Pastor e nos perdemos, às vezes. Mas Ele nunca nos deixa para trás. Sai em
nossa busca onde quer que estejamos e, quando nos encontra, nos dá um
tratamento VIP.
Hoje, tenha a certeza de que, independentemente dos
caminhos que tomamos, ao menor sinal de necessidade nossa, Deus estará pronto a
nos encontrar e ajudar, pois "O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos
dos homens." (Salmos 33:13).
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