RÁ! IÉ IÉ! PEGADINHA DO MALLANDRO!
Por
João Octávio Barbosa
O Estado
(lê-se “país”) de Israel é um pedacinho de polêmica cercado por árabes por
todos os lados. Após o massacre cruel que os judeus haviam sofrido por toda a
Europa durante a II Guerra Mundial, pareceu bem aos olhos do mundo que a
recém-criada ONU separasse um pedacinho de terra para esse povo, onde eles
pudessem viver em paz e seguros. O pequeno inconveniente para os povos árabes é
que a escolha desse território reservado não foi um local inabitado. Ou seja,
se a ideia era proporcionar tranquilidade aos judeus, isso foi tudo o que não
aconteceu.
Em
30 de novembro de 1947, apenas um dia após a ONU anunciar a criação de Israel,
o Estado judeu já foi atacado pelos seus vizinhos, que dominavam a região. Sem
dúvida, o Festival da Boa Vizinhança, tradicional encontro de bairro lá na
região mexicana onde morava o Chaves, não acontecia naquelas bandas. Entre um
novo morador abusado e a falta de hospitalidade dos antigos moradores, haveria espaço
para a paz?
A História
diz que sim. E se apresenta na Bíblia. Num cenário incrivelmente parecido,
milhares de anos atrás, os judeus fizeram paz com um povo vizinho, porém,
ironicamente, por meio de uma mentira. Uma verdadeira pegadinha, digna de Sérgio
Mallandro, Faustão ou Sílvio Santos. Se quiser ler nas palavras da versão
original, está em Josué 9.
Há
mais de mil anos, Josué liderava Israel rumo à posse do mesmo território que o
tratado da ONU buscava garantir no século passado. A ordem era expulsar o povo
que habitava a região. Diante do medo da aniquilação, a nação de Gibeon teve
uma ideia brilhante: fugindo do comum, decidiu não guerrear, mas fazer um
acordo de paz com Israel. No entanto, para que esse acordo fosse aceito, era
necessária uma pequena encenação.
Então,
os gibeonitas forjaram uma aparência de viajantes de uma terra distante.
Mentira; eram vizinhos de Israel. Prepararam todo um esquema que incluía: um
pequeno grupo dos melhores atores do país para se fingir de embaixadores;
roupas e alimentos propositalmente envelhecidos; e uma mentira muito bem
elaborada.
Uma
vez que eles já sabiam que Israel fora notificado de que deveria destruir (e
não negociar) com todos os países vizinhos da região, os gibeonitas afirmaram
vir de muito longe. Para lidar com povos muito distantes, Israel não tinha
recebido nenhuma ordem. Cometeram um grave erro ao não consultar Deus sobre a
proposta (Josué 9:14).
Então, aceitaram o acordo de paz, assim como os presentes que haviam sido estragados
de propósito.
Israel
cometeu a audácia de resolver os seus problemas sem Deus. Talvez naquele
momento as pessoas tenham ficado soberbas. Pessoas quem vinham de longe,
falando palavras lisonjeiras, deixando os israelitas orgulhosos: “Poxa, lá no
fim do mundo estão falando das nossas vitórias épicas!”.
Três
dias durou a farsa. Até que o povo de Israel deu de cara com aqueles que se
diziam vir de terras mui distantes. Mas promessa é promessa. Foi cumprida, para que Deus não se irasse mais
com o seu descumprimento do que com o descuido, comentado no parágrafo anterior.
Impedidos de eliminá-los, tornaram os gibeonitas seus serviçais - coisa que eles agradeceram muito, diga-se de passagem.
Os
demais povos da região, que estavam na lista negra da destruição, se sentiram
ainda mais ameaçados após esse acordo. Gibeon era uma terra grande, na qual
muitos desses depositavam as últimas esperanças de deter Israel antes que os
judeus os destruíssem. Então, como vemos em Josué 10, esses povos se
reúnem para retaliar a Gibeon, que eles consideravam agora um país “traíra”.
Gibeon
apela para Israel. Agora são nações amigas, certo? Aquele acordo baseado na
pegadinha do Mallandro se mostra a melhor coisa que poderia acontecer. Israel
dá proteção aos gibeonitas, e eles são o único povo a sobreviver à conquista de
território dos judeus do segundo milênio antes de Cristo.
Israelenses
e árabes do século XX e XXI. O quanto eles têm a aprender com os gibeonitas? Se
pensarmos em acordos de paz, convivência sem agressão ou hostilidade,
poderíamos dizer que muito; mas eu não consigo parar de pensar na história da
pegadinha... Na inteligência usada para mentir. Nesses caminhos tortos que
trouxeram o sucesso.
Se
você esperava que eu fosse terminar o texto de hoje com um parágrafo estilo
“moral da história”, que definisse de forma clara o certo e o errado desse
episódio, se iludiu. Não sei. Não sei se faria igual ou diferente, nem de um
lado, nem de outro. É luta por sobrevivência; ninguém quer morrer. Mas tem uma
coisa que o texto aborda de forma simples: Israel não devia decidir nada sem consultar
Deus. Você pode aplicar isso a sua vida também. Que solução Deus tem para seu
problema, hoje?
Não
peço que concordem, espero que reflitam!