PIPA AVOADA
Airton Sousa – Direto de Paciência – Rio
A Copa terminando e por aqui no bairro só
se fala em pipas. A minha rua parece um grande festival de pipas. Há pessoas em
cima das casas soltando pipas e há crianças correndo para lá e para cá atrás de
pipas avoadas e tem até marmanjo no meio da molecada. E tem até pipa perdida,
aquelas que vêm voando e caindo na sua direção.
Soltar pipa é uma arte. Não tem como explicar uma paixão que começa na infância e se prolonga
pela vida. Todo mundo tem uma boa história pra contar.
Nunca fui um bom soltador de pipas... Meu
irmão, sim, era ótimo com pipa, mas eu dava minhas dibicadas e empinadas. Eu era
um ótimo caçador de pipas e também era eu quem fazia as pipas da molecada;
passava a manhã inteira fazendo armações com varetas de bambus, rabiolas, cerol,
e à tarde ficava em cima da casa soltando pipa com os amigos, e se deixasse eu
ficava o dia inteiro!
Mas tinha que ter vento, senão não
subia. Até havia um ritualzinho para chamar o vento: "Vem vento,
caxinguelê, cachorro do mato quer me morder...".
Nos bons dias com muito vento
acontecia de ter muita pipa avoada, e nesses dias a gente voltava pra casa com
as mãos cheias. Geralmente as pipas estavam rasgadas, mas era só trocar o papel
e elas ficavam novas para brincar no dia seguinte. A gente tirava a linha do
carretel e enrolava em uma lata de óleo - ficava mais fácil na hora de "dar
linha" com a pipa lá no alto.
Uma maneira legal de verificar a
qualidade da linha era ficar trocando de lata. No final do dia a gente
costumava fazer apostas para ver quem tinha catado mais pipas e quem tinha o
maior carretel (lata) de linha. Era um arsenal: pipa, linha, rabiolas... Que
trabalho que dava tudo aquilo!
Agora mesmo, enquanto vou criando
este texto na mente, o João está aqui sentado no chão enrolando umas rabiolas.
Amanhã será um grande dia!
Nunca mais soltei pipa, mas me lembro
bem dessa fase e tenho saudades desse tempo em
que a minha única preocupação era acordar, abrir a janela e ver se estava
ventando para poder soltar pipa.
Hoje ouvi uma canção meio engraçada, meio
comédia. O cara aparece no YouTube cantando e dançando: ”eu era piiiiiiiiiipa
avoada”. É bem provável que você já tenha assistido este videozinho... No
início eu ri bastante, mas depois fui ver a letra e é um daqueles casos
crônicos, de letra boa dentro da melodia errada.
Mas ‘tá valendo.
Ele canta, que era uma pipa avoada,
mas que foi “aparado pela graça”. Eu gostei mesmo dessa música!
“Eu era pipa avoada.
Fui aparado pela graça, pelo sangue de Jesus.
Hoje não ando nas trevas. Hoje encontrei a luz.”
Aparado: segurado, recebido com (as mãos ou algum instrumento); diz-se
do que foi atirado ou caiu sustentado.
Como uma pipa, você
já foi aparado pela graça? Já foi mudado pela graça? Sustentado pela graça?
Recebido pela graça?
A graça de Deus é
abundante. Superabundante como uma pipa que pega a outra por baixo e cruza pela
linha e vira de ponta cabeça numa guerra contra o vento. A graça vem em sua
busca. Ela apara pelas pontas, pelos bicos, pela rabiola. Ela envolve e salva.
Suave.
A graça é a voz que
convida a mudar, e assim nos dá o poder de sermos bem-sucedidos e cairmos em
lugar seguro.
Uma vez que você é
aparado pela graça, nunca mais será o mesmo.
Sensacional, isso!
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