AOS VELHOS E NOVOS AMIGOS
Airton de Sousa – Direto de Paciência – Rio de Janeiro
Se você já teve um amigão na sua vida, você vai
concordar comigo: ele era gordinho e se chamava "Zé", não é
verdade? Era justamente disso que eu estava querendo fugir. Mas
parece que não restam muitas alternativas para quem é gordinho e se chama
"Zé”. De repente, você acha que não precisa mais de amigos, já que tem
todos. Não tem mais espaço na agenda para fazer novos amigos.
Eu li o livro do Seinfeld, e tirei alguns conceitos
de um texto dele, chamado "Amigolândia", para escrever
este post.
"Quando a gente faz quarenta
anos ou mais de idade, é difícil fazer um amigo novo. Sejam quais
forem os amigos que a gente conviveu até hoje, é com eles que a gente quer
continuar vivendo."
"A gente não sai por aí
entrevistando gente nova, nem olha para a gente nova, não está interessado.
Eles não conhecem os lugares, os gostos, não conhecem a nossa comida. Nem sabem
o nosso time de futebol."
"Se me apresentam um candidato a
amigo, eu nem perco mais meu tempo e vou logo dizendo: Eu sei que você é um
cara legal, parece ter um potencial muito bom, mas no momento não estou
contratando ninguém para o cargo de amigo."
Por onde andei fiz amigos, e os tenho aos montes. E embora
seja ausente, sou fiel às lembranças, às datas de aniversários. Cada um com sua
vida, sua história, sua família... mas basta um
encontro, planejado ou não, e a gente começa o papo exatamente de
onde parou há trinta anos. Um pouco de conversa é suficiente para
se atualizar sobre o que a pessoa está fazendo agora nestes dias, e
já voltamos ao passado - o que queremos mesmo é saber como foi resolvida aquela
história, aquele namoro, como foi isso, como foi aquilo.
"Amigos novos não têm história,
nem sabem o que estávamos fazendo no ano passado."
Mas aí, de repente, você abre a guarda e você vai a uma
festa, ou a uma reunião da igreja, e descobre um amigo novo e depois outro e
outro... E, de repente, lá está você chorando ou tomando as dores de pessoas
que você nunca viu na sua vida. Essas pessoas entram na sua vida de
um jeito esquisito, sem pedir licença... E você as ama do mesmo jeito
esquisito, sem pedir licença... E de repente, viram amigos de infância...
E, de repente, elas sabem da sua vida inteirinha que nem aquele seu
melhor amigo que estudou do fundamental até o superior com você sabia...
E você se entrega e, ao mesmo tempo, aceita a entrega.
É incrível como esses novos amigos passam, de um
momento para outro, a fazer parte da sua vida. E você acaba abrindo mão do
conceito de que não precisa mais de amigos depois dos quarenta ou cinquenta.
Aqui no Rio, tenho reencontrado os amigos do passado e
tenho encontrado novos amigos. E descubro, feliz, que sempre há lugar para um
novo amigo.
Foi meu amigo Everton Vital quem disse
uma vez que “toda gente é uma mistura e nós somos uma mistura de
todas as gentes que passaram pelo nosso coração. A matéria-prima de gente é
gente. E a gente vai sendo feita de gente. É nosso jeito ser pegajoso, aderente
e assim as pessoas se transmitem, se contagiam e se alteram umas às outras.”.
Sabe por que tô falando tudo isso? É porque nesta sexta, dia 20 de julho, é o Dia do Amigo. E como dizia o Roberto Carlos, amigo do Erasmo:
- É muito bom saber, que você é meu amigo.
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Referência/Fonte:
"O melhor livro sobre
nada", Jerry Seinfeld (Editora Frente)
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