FIM DE TARDE NO PORTÃO
Por Airton Sousa
Ele olhou para um lado... porcos. Para o
outro lado... mais porcos. Lembrou-se de um ditado que seu pai sempre dizia: “Quem
anda com porcos, farelo come.”. E então percebeu tudo... Ele estava comendo
comida de porco.
Ele foi tomado de lembranças do seu pai,
mais uma vez. Aliás, naquele dia ele se lembrou muito do seu pai. Lembrou-se de
como eram as coisas e a vida na casa do pai: “Eu preciso voltar para casa do
meu pai”. E enquanto caminhava de volta, vinha ensaiando um discurso para convencer
o pai a aceitá-lo:
- Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou digno de ser chamado teu filho.
- Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou digno de ser chamado teu filho.
Mesmo já tendo escrito sobre o “filho
pródigo”, aquele que volta, eu também gosto de pensar em quem espera. Aquele
olhar cansado, olhando ao longe... Gosto muito de uma canção do Stenio Marcius,
cantada pelo Trio Lessa - “Fim de tarde no portão” -, e que me inspirou a
escrever o texto de hoje.
“Fim de tarde no portão, a cabeça
branca ao relento
Teimosia de paixão faz das cinzas
renascer alento
Na estrada o seu olhar procurando um
vulto conhecido
Espera um dia abraçar quem diziam já
estar perdido...”
No finalzinho de setembro deste ano,
uma amiga minha, a Claudia, me convidou para assistir seu batismo na igreja.
Ela estava voltando pra casa, depois de 27 anos afastada.
Eu me lembro bem do depoimento de uma
amiga sua, a Úrsula: “Ela era minha
líder, minha guia, minha amiga, minha irmã e a gente se via todo sábado; mas
teve um sábado que ela não apareceu, e no outro também e eu nunca mais a vi, e
lá se vão 27 anos.”.
E teve também o depoimento de sua
mãe: “Eu orei durante vinte e sete anos
por este momento.”.
“Fim de tarde se debruça no portão...”.
Todos os dias, todas as tardes, o pai espera no
portão. Mas um dia... aconteceu, e “o moço retornou
mendigo”.
Ele voltou!
Voltou com suas roupas sujas, seu coração sujo. Cheirando a porco. Cansado. Maltratado pelo pecado. “O pai depressa correu e abraçou o filho tão querido...”.
O
garoto coberto de lama. E o pai chora e grita. E o rapaz tenta fazer o discurso
e não consegue. Quando começa a falar, o pai o interrompe e o abraça, e o beija
mais uma vez.
“Tudo está perdoado. Tudo esquecido! Os
dias de fome e de convívio com os porcos estão no passado. Com um toque de
mestre Jesus leva a história ao clímax final: uma festa é preparada para
celebrar o retorno do filho. Nenhuma palavra de recriminação moralista. Nenhuma
exigência de prestação de contas. Nenhuma condição imposta. Nenhum tempo de
prova. Nenhum período de disciplina para observação! Nenhuma ‘quarentena’ ou
penitência é exigida.” (O incomparável
Jesus Cristo, pág. 78 – Editora UNASP).
Como eu disse lá em cima,
não é a primeira vez que escrevo sobre esse assunto, e veja o que eu escrevi,
na época: ”Voltar pra casa é a certeza de braços abertos esperando pelo retorno.
Cama pronta, o sol entrando pelas frestas do quarto. É um lugar vago na mesa,
uma luz acesa, alguém esperando no portão e uma comidinha bem gostosa no fogão,
como dizia a canção do Lulu Santos.”. (De
volta pra casa, fevereiro de 2015 – Então Serve)
Naquela noite a Claudia disse uma frase que ficou na minha cabeça: “Ninguém foi tão longe que não possa voltar!”, e a Claudia teve a chance de voltar e encontrar o pai amoroso no portão, a sua espera. E pôde perceber Sua bondade e Sua infinita graça e sua misericórdia.
Naquela noite a Claudia disse uma frase que ficou na minha cabeça: “Ninguém foi tão longe que não possa voltar!”, e a Claudia teve a chance de voltar e encontrar o pai amoroso no portão, a sua espera. E pôde perceber Sua bondade e Sua infinita graça e sua misericórdia.
“O Deus que recebe os envergonhados, cegos,
leprosos, surdos, imundos. Que não nega a culpa, mas perdoa e cura.” (O incomparável Jesus Cristo – ibid.,
pág. 79).
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