quarta-feira, 27 de julho de 2016

ABUSO/OMISSÃO NO PODER

ABUSO/OMISSÃO NO PODER
Por João Octávio Barbosa

Já estamos às portas de agosto, quando será decidido se o PMDBista Michel Temer deixará de ter o complemento “interino”, ao ser chamado de presidente, ou se Dilma Rousseff ressurgirá das cinzas como a fênix e assumirá de volta o Palácio do Planalto.

Processos de impeachment são casos raros. A última vez que aconteceu no Brasil foi em 1992, com Fernando Collor. Nos EUA, a Câmara dos Deputados abriu tal processo contra o presidente Richard Nixon, há exatos 42 anos, pelo “Watergate”, um escândalo político que eu não vou explicar, porque se você está lendo este blog agora está com internet o suficiente para, depois de terminar de ler, jogar a palavra “Watergate” no Google.


Mas só para linkar Nixon com o Perfil Sem Curtidas de hoje, queria contrastar que o Presidente americano foi investigado por abuso de poder, e nosso personagem, Pôncio Pilatos, gravou seu nome da história do mundo justamente pelo contrário: sua omissão no poder. Recomendo, para contextualizar, a leitura de Lucas 23 e João 18 e 19, porém, se não o quiser fazer... lavo minhas mãos.

A vida de Jesus, humano, caiu no colo de Pilatos. Em uma sexta-feira qualquer, ele ajudou a decidir o destino da humanidade. Desde o início, ele percebeu a maldade invejosa dos líderes judeus que queriam condenar Jesus. Ele fez o possível para não se envolver. Tentou empurrar Jesus para que os próprios judeus o punissem; não deu certo. Os judeus queriam matar, e matar eles não podiam; só os romanos, só Pilatos. Tentou empurrar Jesus para Herodes, mas ele mandou devolver a entrega. Por fim, empurrou Jesus para o povo.


“A voz do povo é a voz de Deus”... AFF com letras maiúsculas! People, se liga: a voz do povo matou Deus. Esse deveria ser o provérbio. Eles gritaram: “Barrabás!” - conhecido subversivo local. Foi-se a esperança de Pilatos soltar Jesus. Não tinha mais para quem empurrar.

Pilatos mesmo tinha dito a Jesus: “Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?” (João 19:10). No entanto, antes de encaminhar Jesus para ser crucificado, no gesto que ficou para a História, Pilatos lava as mãos publicamente, simbolizando que estava abrindo mão de decidir pelo que queria, e apenas atendendo a vontade alheia.


Podia ter feito mais. Podia ter feito o certo. Sua mulher o avisou, pois sonhara com Jesus (Mateus 27:19). Seu instinto o alertou, ao analisar a situação como um todo. Sua consciência o acusou, ao repetidas vezes afirmar que não via nada em Jesus que justificasse condenação. Ele se acovardou.

E são lições. De tudo se tira lição. Era um homem que, ao adorar ídolos, usava o sangue de judeus mortos num ritual macabro (Lucas 13:1). Mas, agora, frente a frente com Jesus, chegou muito perto de alcançar a salvação e ter a vida transformada. Pensou nisso. Ponderou. Quase. Quase mesmo...


Ficou no quase. Preferiu agradar os errados. Deturpar a justiça. Fazer o mais fácil. E você? Já passou por pressões desse nível? Já sim. Porque ali, naquele momento, Pilatos passou pelo nosso dilema diário. Decidir entre o bem o mal. Entre Jesus e o resto. Foi emblemático, é claro. Nunca teremos a responsabilidade de julgar a vida de Cristo, de decidir entre sua vida e morte física, PORÉM, vamos sim, todos os dias, tomar a mesma decisão, em nível pessoal.

Permito, eu, hoje, agora, manter Jesus vivo dentro de mim? Ou grito “Barrabás”? Ou lavo minhas mãos? Posso alegar neutralidade? Posso me omitir?


Pilatos olhou nos olhos de Jesus e perguntou: “Que é a verdade?” (João 18:38). Jesus ficou mudo. Sempre achei isso tão revoltante! Era a oportunidade. Milhões de pessoas, por aí, querendo saber qual é a verdade, qual a religião certa, se é que existe... O que é real? O que é verdade? Fala, Jesus! Responde! Grita, escreve, registra e para sempre usaremos essas palavras que convencerão a todos! Jesus ficou mudo.

O que é a verdade? Pilatos não ouviu resposta. Mas ele soube a resposta. Logo depois, no mesmo versículo:

Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum. (João 18:38)

Não sei que olhar ou expressão Jesus fez para Pilatos ao ouvir sua pergunta. Mas, sem uma resposta em palavras, Pilatos saiu dali certo de que Jesus era inocente. Se ele era inocente, a acusação era falsa. Se a acusação era falsa, ele era o Filho de Deus (João 19:7).

O que é a verdade então? Não lave suas mãos.


Não peço que concordem, espero que reflitam!

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