sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

SULFECHANDO Y OTRAS COSITAS MÁS


SULFECHANDO Y OTRAS COSITAS MÁS
Por Denize Vicente

Mario Prata1 conta que seu primo Hugo Prata perguntou ao pai dele, tio de Mario, o que significava o verbo “SULFECHAR”. O pai disse que o verbo não existia, o garoto não se conformou com a resposta e o homem teve que provar com dicionário e tudo! Mas o menino insistia em conjugar o verbo, e o pai quis saber onde ele tinha ouvido essa coisa doida. Foi quando Hugo cantou aquela música do Tom Jobim: "São as águas de mar sulfechando o verão...".

O mesmo Mario Prata nos conta que Henfil2, pasme!, só descobriu depois de grandinho” que o nosso Hino Nacional não se chamava “O Virudum.

E foi lendo essa crônica (“O amor de Tumitinha3) que fui levada a me lembrar de tantas outras coisas que ouvimos e muitas vezes entendemos de modo completamente diferente do original... Eu seria até capaz de apostar umas jujubas que você acabou de pensar em “... trocando de biquíni sem parar”, clássico exemplo, talvez o mais famoso, de “(de)composição” – verso da música de Cláudio Zoli, que escreveu alguma coisa bem diferente: “... t
ocando B.B. King sem parar".

Pois bem.
Hoje eu queria falar sobre mal-entendidos.

Não raramente você interpreta olhares, risos ou sorrisos, palavras e até mesmo a omissão de alguém, do jeito que seu coração decide explicar - e por isso sofre, despreza, desama e odeia, experimenta amargura e prova do gosto azedo da irritação, da mágoa e do desapontamento. Esquecendo-se da lição de Jeremias, dá ouvidos ao seu coração ou embarca no que ouve, por outras bocas, de outros corações, enganando-se e adoecendo. “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa, e sua doença é incurável.” (Jeremias 17:9)

Muitas vezes VOCÊ é o “abominável” - mal interpretado por algum coração, quando simplesmente quis ajudar ou fazer alguma coisa; tido como “exibido”, “intrometido”, o cara que “quer aparecer”...

Mesmo quando temos bons motivos, a motivação correta e intenção louvável, estamos sujeitos a ser mal interpretados; e o mesmo acontece com os outros, quando, às vezes, nós os julgamos de modo precipitado, levados, unicamente, pelo nosso enganoso coração...

Mal-entendidos acontecem até mesmo quando dizemos “EU TE AMO” - o outro pode entender que o “risinho de nervoso” que você deu em seguida, na verdade é de deboche... Mal-entendidos acontecem quando você conta no WhatsApp que está triste porque terminou o namoro, e seu amigo coloca um "emoticon" com lágrimas, mas usa o bonequinho que está chorando de rir.

Essas coisas acontecem. Mas o que fazer?

Eu tenho uma ideia: converse. Converse muito. Pergunte e responda. Converse. O diálogo é o modo mais apropriado para desfazer mal-entendidos e para entender as intenções e motivos de alguém. E outra: seja VOCÊ a tomar a iniciativa do diálogo, não importa em que posição se encontre – “ofendido” ou “ofensor”.

Nesse papo as coisas ficarão mais claras, vocês podem perceber que o erro foi de interpretação, e então já não haverá razões para a amargura.

Mas... e se foi vacilo mesmo? Má intenção de verdade? E se o outro quis mesmo, deliberadamente, agir mal com você?

Jesus disse que, nesses casos, quando alguém vacilar feio com você, você deve ir falar com ele; e se for isso mesmo, você deve perdoá-lo; e disse mais: se ele fizer isso sete vezes no mesmo dia, e se em todas as sete vezes ele chegar pra você dizendo que está arrependido... perdoe o cara. (Lucas 17:3-4)

Eu sei e você sabe: não é fácil.
Não é fácil dialogar mesmo com a chance de descobrir que tudo não passou de um mal-entendido, quanto mais quando existe a possibilidade de notar que foi tudo má intenção, mesmo. Mais difícil ainda é perdoar. Eu sei e você sabe: não é nada fácil. Mas, como disse Vinicius, “... para isso fomos feitos: para a esperança no milagre...4. Perdoar, para nós, é como um milagre que nos acontece, porque nossa natureza humana gosta mais da Lei de Talião, do Código de Hamurabi5. Mas milagres acontecem, e não se explicam, você também sabe disso.

Pensando bem, quanto mais cedo percebermos que a mágoa e a ausência de perdão fazem mais mal a quem sente e a quem não perdoa, mais rapidamente vamos conhecer um estilo de vida que tem mais a ver com a felicidade do que com a angústia. E, vamos combinar, viver feliz é muito mais legal.

Experimente!

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Referências:

1.   Mario Prata é escritor, dramaturgo, jornalista e cronista brasileiro, nascido em Uberaba/MG, em 11.02.1946. Premiado no Brasil e no exterior, suas obras são reconhecidas no cinema, na literatura, no teatro e na televisão.
3.  Henfil Henrique de Souza Filho (1944 – 1988) foi jornalista, especializado em ilustração e produção de histórias em quadrinhos, escritor premiado, cartunista consagrado, trabalhou com cinema, teatro e televisão. Irmão de Herbert José de Souza, o Betinho, e de Chico Mário.
4.    Vinicius de Moraes – Poema de Natal, in "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.
5.    Lei de Talião e Código de Hamurabi - http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm


16 comentários:

  1. Uau, caiu como uma luva esse texto!
    Não só porque costumo entender tudo errado, assim como quando perguntava o que seria "selficar azul" da música que minha mãe canta às vezes ("céu ficar azul"). Mas porque o diálogo realmente é complicado, principalmente quando se está magoado com a outra parte.
    Não é fácil, mas não precisa ser tão difícil! :)

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    1. Todo mundo tem uma história com letra de música, né? E todos mundo tem muitas outras histórias de mal-entendidos, na vida...
      Você tem razão, Pamela: não é fácil, mas não precisa ser tão difícil.

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    2. ("todos mundo"?? Hihihihi)

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  2. Quando eu era menino, eu tinha muito medo de um tal de mala mem, pois a gente sempre orava, livranos do mala mem. Só mais tarde, entendi Livrai-nos do mal. Amem.Desculpa o assunto é sério mas eu não podia perder a oportunidade.

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    1. Daqui a pouco vamos parar naquele papo de "eu tenho medo do mesmo", o cara que a gente fica procurando, antes de entrar no elevador... ("Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra no andar.")
      Mas aí não é mal-entendido. É erro de Português mesmo. kkkkkk
      Bom dia, Amigao! Mas bom dia mesmo!!

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    1. Legal é vc, o muso, ter gostado. #piadainterna

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  4. Que texto delícia de ler..Eu ri alto com o "trocando de biquíni sem parar" hahahahahha
    Já aconteceu isso comigo, muitas vezes fui mal interpretada, talvez seja este o motivo de hoje ser tão cautelosa (as vezes até demais) ao falar. Meu desejo é que a cada dia minha comunicação seja clara e que as pessoas que eu convivo queiram o mesmo..hehe :)

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    1. Tomara que lhe respondam: "seu desejo é uma ordem!".
      E sejamos todos mais felizes!!!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Ahahaha!!! Imagino a época de colher os "damplidões" plantados!! Rsrsrsrs

      Vc está certa, Elbinha. O esclarecimento e o perdão são dois analgésicos naturais poderosos. Tiram as dores da tristeza, da mágoa, do "será?"... Alivia e faz vc voltar a ficar bem.

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    2. Acho que a Elbinha foi excluir o comentário duplicado e acabou excluindo os dois!! rs

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  7. Ma-ra-vi-lha de texto! Quanta ansiedade seria evitada com diálogo e perdão! Muito melhor que ansiolitico.

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  8. Ma-ra-vi-lha de texto! Quanta ansiedade seria evitada com diálogo e perdão! Muito melhor que ansiolitico.

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    1. Pois é, Deize! Diálogo e perdão. A vida fica mais leve. A gente sorri mais do que chora.

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