NÃO TOQUE NO UNGIDO
(Por
João Octávio Barbosa)
A data religiosa mais interessante ligada ao dia 20 de abril
aconteceu no distante ano de 1233, quando o Papa Gregório IX anunciou uma
legislação que dava origem à Inquisição, famosa perseguição da Igreja aos
hereges. Há 783 anos, o autoproclamado Santo, Herdeiro de São Pedro e líder dos
seguidores de Cristo, defendia a tortura e morte dos que discordassem dele,
acreditando assim falar em nome de Deus.
“Porque
a minha mão fez todas estas coisas, e assim todas elas foram feitas, diz o
SENHOR; mas para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra.”
Isaías 66:2. Eu acho que muita gente não leva em consideração a
responsabilidade de se autoproclamar Porta-voz
de Deus. “Deus não gosta disso”, “Deus te pede aquilo”, “Deus te diz isso”,
eu tenho muito medo disso. Homens bons, homens maus seguem a Bíblia, não
seguem, mentem, só falam a verdade. Quem é a boca de Deus?
Essa é a discussão que eu queria levantar: Quem pode se
declarar a voz de Deus? E quem de nós pode julgar quem é ou não a voz de Deus?
Introduzido isso, vamos direto ao texto bíblico de hoje, porque além de grande,
ele é muito desconhecido. Recomendo a leitura de I Reis capítulo 13, numa
Bíblia em sua casa ou na internet. É bom que você interprete o texto por você
mesmo, a fim de ter base para discordar ou concordar comigo.
Acontece que determinado rei de Israel, Jeroboão, decidiu
desagradar a Deus com a idolatria. Deus escolheu um profeta
para ir até o altar blasfemo e alertar a todos. Depois de fazer o seu serviço,
esse primeiro profeta encontrou outro (suposto) profeta, porém mentiroso. E aí
que a história fica um tanto quanto única. Para efeito de melhor compreensão,
vamos ficcionalmente, chamar esses profetas anônimos na Bíblia de,
respectivamente, Inocêncio e Falsianus.
Inocêncio
ouviu a voz de Deus. Como ele sabia que era Deus? A gente só reconhece a voz de
quem a gente conhece. Essa voz dizia para ele não ficar naquela cidade que ele
visitou, não comer e beber nada lá. Mas, no caminho de volta, aparece
Falsianus. Seria fácil criticar Inocêncio por ter aceitado um mero convite de
Falsianus para voltar para a cidade, comer, beber e, consequentemente,
desobedecer a Deus. Mas, poxa vida, o Falsianus disse que recebeu a informação
de um anjo de Deus! Era Deus versus
Deus, nessa história.
Mentira
disfarçada de vontade de Deus. Isso é assustador, né? Em quem a gente pode
confiar, se um homem conhecido como profeta diz que recebeu uma mensagem de
Deus, mas, na verdade, não houve nada disso? Inocêncio acreditou. Foi tolo?
Quem sou eu para julgar! Talvez seu erro (que acabou em morte para ele, atacado
por um leão) não tenha sido acreditar em “Deus” quando não era para fazê-lo,
mas, sim, não reconhecer quando realmente foi Deus quem falou.
É
um perigo muito grande ousar falar em nome de Deus. Acreditar que você conhece
a vontade Dele o suficiente para poder falar para o seu irmão o que é o certo e
o que é errado. Reflita muito antes disso.
Veja,
no entanto, o quão intrigante é o momento da história onde Falsianus,
justamente aquele que mentiu ao falar em nome de Deus, recebe a inspiração
divina! E, nessa revelação, julga Inocêncio como culpado por acreditar na
mentira que ele mesmo, o intermediador da mensagem, tinha dado!
Poxa,
eu fico embasbacado. A gente não aprende sempre, na igreja, que só pode
profetizar em nome de Deus aquele que cumpre a Sua vontade, segue a Sua lei e
vive a Sua Palavra?! Aquele homem tinha acabado de mentir!
Deus
pode usar quem Ele quiser. Fazer o que Ele quiser. Não sou eu, você nem
qualquer outro líder de igreja quem dá as regras para Deus. Ele as cria. De onde
vem a voz de Deus? Quem ou o que Ele pode usar para falar conosco, Seus filhos?
Qual é a Sua mensagem? Ele não precisa de intermediários, mas os usa, de forma até
constante. É preciso ter muita capacidade de critério para avaliar.
E
Inocêncio morreu. E parece tão injusto. Mas não pense tão pequeno! Estamos
falando de Bíblia, e de conceitos espirituais! O que é a vida na Terra? Um sopro,
nada mais. Não se limite a achar que a morte dele foi uma punição eterna, o
castigo máximo. Não!
Se
você ler II Reis 23:15-18, perceberá que Inocêncio PODE não ter assinalado sua
perdição ao crer em Falsianus. No texto, o rei Josias protege o túmulo de
Inocêncio da profanação ao ver que se tratava de um homem de Deus. Muitos anos
após morrer, ele foi honrado por um novo homem de Deus, o Rei Josias! Seria um
indício de agrado do Senhor para com ele? Uma demonstração de boa vontade de um
Deus que sabe medir o tamanho dos pecados, que sabe avaliar um pecado culposo
de um doloso? (Se você tem um amigo que faz Direito, esta é uma boa hora para
ligar para ele. Ou jogar no Google.)
Eu
não sei vocês, mas eu acredito que, no caso de Inocêncio, o seu bem de ir a um
povo distante, pregar contra seus erros, e crer numa palavra que parecia ser de
Deus (sqn) é maior do que seu erro de não avaliar quem estava realmente falando
em nome de Deus.
Atenção
aos erros de Inocêncio. Muito mais às ciladas dos Falsianus!
Não
peço que concordem, espero que reflitam!
Desafio do JOBS: Qual o
nome dos filhos do profeta Eli?
Resposta semana que vem.
Resposta semana que vem.
Resposta da semana
passada: Leão (I Reis 13).
Isto é muito sério, garoto e muito importante: Deus pode usar quem Ele quiser. Fazer o que Ele quiser. Ou como diz um amigo meu : Nunca subestime o poder de Deus!
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