O LIVRO DA MINHA VIDA
(Por Airton Sousa)
Minha relação com os livros é algo muito pessoal. Não
gosto de falar deles. São meus. A maioria deles li em noites solitárias e
chuvosas. Foram meus amigos ocultos e participaram das minhas teorias
conspiratórias e muitas vezes me acalmaram e aliviaram a noite que se anunciava
fria.
Quando eu era pequeno li “O mistério da caverna”, que
narrava as aventuras de dois meninos que passavam a noite caminhando pela
aldeia e praticando o bem. Os dois, munidos com sua lanterna, consertavam uma
casa aqui, um barquinho ali, devolviam um objeto perdido acolá... e tudo na
calada da noite, até serem investigados e descobertos pelo detetive Roy, já que
a pequena aldeia estava em alvoroço tentando descobrir os autores daqueles
mistérios estranhos. Li “O mistério da caverna" quantas vezes pude.
Praticamente a infância inteira.
Lá na pequena Escola Adventista de Campo Grande havia o
"Clube do livro" e na quarta série fui campeão, com um recorde de
leitura. A contagem era pelo total de páginas lidas. Isso me lembra a
professora Miriam Mariana Barbosa (sei o nome inteiro de cor). Depois, já no
ensino fundamental, lá pela quinta ou sexta série li “Férias em Xangri-lá”,
indicado pela minha querida professora Vasty Heiderich que encantou e envolveu
minha pré-adolescência. Lembro-me do salseiro que os pais de alguns alunos
criaram quando ela recomendou a leitura do livro “Meu pé de laranja lima”, lá
na Escola Adventista de Madureira. Essa professora é um dos posts mais bonitos
da minha vida que vou guardar para publicar no dia dos professores.
Para ser bem sincero, os livros substituíam os
brinquedos, já que éramos pobres e a diversão era ler. E pra ser mais sincero
ainda, muitas vezes substituíram a própria alimentação. Comida já foi coisa
rara em minha vida. Livros não. Nunca.
Na publicidade, li todos os livros de marketing,
técnicas de pesquisas e mais todos os que tinha que ler, até o momento em que
esses foram trocados pela coleção inteira com 33 volumes de
"Asterix".
Houve outros e outros e centenas deles, que encontrei
pela rua, nos sebos. Eu gosto de sebo até hoje; é onde faço pequenas pescarias
de livros raros e antigos.
Mas este texto não era para tratar dos livros que li,
comprei em livrarias e sebos ou nas calçadas da Praça da República. O que quero
contar hoje é sobre o livro da minha vida. Quando estava preparando minha
mudança de volta para o Rio de Janeiro, encontrei a minha velha Bíblia guardada
em uma caixa cheia de poeira. Essa Bíblia ganhei da minha mãe e repassei ao meu
filho quando ele casou, em 2009. Eu tenho outros exemplares da Bíblia, mas
estou falando desse, especificamente. Dei como presente de casamento para o meu
filho, mas não sei por que motivo ela estava na minha bagagem de volta. Na
primeira página, a dedicatória: “Filho este livro vai fazer você esquecer o
pecado. Ou o pecado vai fazer você esquecer este livro.”.
Esse exemplar está comigo novamente e sempre bem
visível, e eu o tenho desde 1986. É item de bagagem, é horóscopo, é meditação, é remédio,
é a minha bússola diária. Não foi o único, como puderam ver, mas foi o que me
acompanhou nesta longa e agitada vida. E foi nele que aprendi a mais absoluta
de todas as verdades: "O choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria
virá pela manhã.".
Que lindo! Este livro tão atual, com verdades eternas, nos indica o melhor caminho a seguir. Boa leitura, amigão!
ResponderExcluirDedicatória muito bonita
ResponderExcluirTemos que mandar o endereço deste blog pra D. Vasty.
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