SOBRE CRIANÇAS, ALEGRIA E MAR
(por Denize Vicente)
Por
volta das dez e pouco da manhã, e de repente, chegam mais ou menos umas dez ou
doze crianças, na praia, acompanhadas de um só adulto. Até agora não sei se
eram de alguma escolinha de futebol, se eram de algum instituto, mas sei que
não eram todos irmãos, assim, de sangue. Uns loirinhos, outros morenos, negros,
mulatinhos, todos de short, todos sorridentes. A idade devia variar entre 8 e
15 anos, talvez.
Chegaram
soltos, leves, mas organizados, numa boa e naturalmente. Via‑se que estavam
animados, sorridentes, curtindo. Conversavam animadamente. Arrumaram as
bicicletas uma ao lado da outra, na areia, e saíram correndo pro mar, sem jogar
areia em ninguém, mas correndo, saltando, impressionantemente felizes. Naquele
exato momento eu tive a certeza de que aquela cena já fazia valer o meu dia!
O
adulto que acompanhava os meninos, um rapaz, de uns 28/30 anos talvez, negro,
alto, cara de gente boa, camarada, ficou ali em pé, ao lado das bicicletas,
enquanto as crianças se divertiam no mar. Ele apenas olhava, cuidando de longe,
atento. Sem cara de mau, tinha um ar meio que de “protetor”.
Fiquei
observando. Percebi que o moço não deu nenhuma instrução antes de os meninos se
dispersarem. Canso de ver os pais gritando com seus filhos, na praia, ou mesmo
advertindo‑os, repetida e carinhosamente (ou não), para que tenham cuidado no
mar, para que não joguem areia em ninguém, para que não briguem, não fiquem
pedindo pra comprar as coisas e tal. Mas o rapaz não deu nenhuma ordem e eles
todos sabiam exatamente como fazer, para ter u'a manhã divertida, na praia.
Cerca
de uma hora, uma hora e meia depois, os meninos já estavam indo embora. Na
verdade, quando eu olhei ‑ e as bicicletas estavam perto de mim ‑ já nem vi
mais ninguém. Foram tão discretos, na hora de ir, que eu nem percebi quando se
foram... Mas a alegria deles ficou irradiando pela praia até o cair da tarde.
Fico
pensando que às vezes deixamos de aproveitar as oportunidades de nos sentirmos
bem, unicamente porque não estamos atentos. Algumas bênçãos, na vida, nos
chegam de forma reflexa. Da alegria daqueles meninos eu lembro até agora; e
ainda sinto uma espécie de bem-estar, só por ter presenciado aquela cena.
Chorar
com os que choram não é tão complicado; um pouco de solidariedade humana pode
ser suficiente para sentir a tristeza de alguém como se fosse a sua. Mas por
que se alegrar com os que se alegram parece às vezes tão difícil? Enquanto me
recolho, triste, porque alguma coisa não vai bem na minha vida, eu perco a
chance de encontrar por aí motivos para me sentir melhor. “Alegrem‑se com os
que se alegram...”, #ficaadica, disse Paulo[1]. Olhe ao seu redor.
Procure o sorriso de uma criança, inspire-se com a alegria de alguém, sinta
como se fosse sua a felicidade do outro e então tenha bons dias!
Bom dia, tem uma música da Rita Lee, assim: "Alegria alheia incomoda", pura verdade, por isso gostei muito da dica de hoje: Devo aprender a me sentir feliz com a felicidade alheia também.
ResponderExcluirÉ, Amigão... Alegria contagia. Mas quando é a dos outros parece que é doença e as pessoas saem de perto, ou simplesmente não reparam...
ExcluirSemana passada fui ao Shopping Nova América e um garoto de rua me pediu ajuda. Eu ignorei e ele falou "vai negar o pedido de um humano?". Não sei se aquele garoto costuma usar esse artifício pra amolecer o coração das pessoas, mas nunca mais vou me esquecer daquela pergunta.
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