MEMÓRIA, LEMBRANÇAS E GRATIDÃO
(Por
Lucileide Santos)
“Mas
quando mais nada subsiste de um passado remoto, após a morte das criaturas e a
destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis, porém mais vivos, mais
imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem por
muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando, sobre as ruínas de
tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício
imenso da recordação.”¹
Nesta
manhã esse trecho me veio à mente e fez todo o sentido, quando, ao comer cuscuz
de milho, repentinamente uma lembrança me veio à tona. Recordações de um tempo
longínquo da minha infância. A casa da minha vó sempre foi um dos meus lugares
favoritos, meu refúgio. Pela manhã vovó costumava nos servir aquele cuscuz
amarelinho, tão cheiroso e muito, muito gostoso!
Esse
trecho do livro de Proust trata sobre a questão da memória e da reminiscência,
ou seja, a capacidade de se reconstruir o passado através dos sentidos. “Em
busca do tempo perdido: No caminho de Swann” tem muito significado para mim;
além de fazer parte das primeiras leituras que fiz na faculdade, me despertou
verdadeira paixão por teoria literária.
A
maneira como Marcel Proust constrói sua narrativa desperta uma incrível
percepção sobre os sentidos e como estes trabalham com nossas memórias e
lembranças. Muitas vezes de maneira lacunar e falha.
Essa
história toda de memória, recordações e sentidos me lembra de que, muitas
vezes, nos deixamos levar por esses processos que nos traem e nos enganam. Por
exemplo, minha memória gustativa me levou a lembrar do café da manhã na casa de
minha vó, mas como ter certeza de que fazia as refeições na mesa da cozinha ou
da sala? Ou de que a mesa era laranja ou verde? Muitas vezes, recriamos
memórias em nossa mente ou simplesmente não gravamos algo.
Explico
melhor! Nossa memória se divide em memória sensorial, memória de curto prazo e
memória de longo prazo, certo? Dentro da memória de longo prazo temos: a
memória semântica, a processual e a episódica. Complicou? Sem problemas! Vamos
lá! A memória episódica é responsável pela nossa aptidão por recuperar
experiências e é essa que nos interessa na conversa de hoje.
Meu
querido autor Proust trabalha com nossa memória episódica e essa memória é
justamente a que armazena as experiências pessoais vividas no passado. Deus é
sábio e a memória, a meu ver, é um grande presente! É ela, por exemplo, que me
dá a possibilidade de ser grata, de adorar a Deus por todas as coisas boas que
Ele fez na minha vida. A memória processual me auxilia na questão do ato de ser
grato, pois ela é responsável pela lembrança da perpetração dos eventos, ou
seja, ela me lembra de que se sou grata a Deus posso ajoelhar e agradecer por
isso através da oração! A memória semântica, por sua vez, me ajuda a armazenar
conceitos como gratidão, adoração e honra. Assim, posso, todas as vezes que
socorrida por Deus saber dar graças, honrá-lo e adorá-lo por todo o cuidado.
Bem,
montei todo esse universo de informações para que nos lembremos de que tudo em
nós trabalha bem bonitinho! Temos memória e isso é legal, mas nossa memória é
lacunar e falha, ou seja, Deus cuidou de você agora? Neste instante? Então não
dê tempo para sua memória lhe trair!
Neste mesmo instante agradeça a Ele! Pois depois pode ser que a história
não seja bem da maneira como aconteceu e nos sintamos tentados a ficar com todo
o mérito! Exageros à parte...
Aproveite
o dia para lembrar-se das coisas boas que Deus fez em sua vida e ser grato por
isso. Um ótimo domingo.
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Referência:
¹- Marcel Proust. Em busca do tempo perdido:
No caminho de Swann. Volume 1. Pág 74.
Seu post me lembrou a "Canção da Vida", que deve ser nossa canção todas as manhã:
ResponderExcluir"Pai querido obrigado pelos planos
Grande sonhos especiais pra mim
Tu me guias nos caminhos desta vida
Ao teu lado nada faltara
Eu te amo mais que tudo"
Nossa! Que lembrança legal! =)
ExcluirNão tinha parado para associar!
Gratidão e reconhecimento.
ResponderExcluirTantas são as razões para ser grata e reconhecida, que se a gente der mole, termina deixando o tempo passar e esquecendo de mencionar uma por uma. Daí a importância de agradecer constantemente. Por tudo e a cada detalhe.
Bom restinho de semana!
É verdade,Suzi! Não podemos deixar de agradecer,afinal tudo de bom que recebemos vem de Deus.
ExcluirGostei de aprender sobre a memória semântica. Com ela eu tenho noções sobre valores morais como gratidão, adoração e honra. Acho que o Espírito Santo trabalha aí, então eu uso a memória processual pra agir, louvando, pedindo perdão, ajoelhando-me em oração. E tudo isso fica armazenado na minha memória episódica, permitindo que eu me lembre de todas as vezes que Deus foi bondoso comigo.
ResponderExcluirGostei mesmo! Espero ter aprendido de forma correta!
É isso mesmo, Jack! E é legal ver como as coisas de Deus funcionam com perfeição.. a memória é algo realmente incrível
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