domingo, 22 de março de 2015

MEMÓRIA, LEMBRANÇAS E GRATIDÃO



MEMÓRIA, LEMBRANÇAS E GRATIDÃO
(Por Lucileide Santos)

Mas quando mais nada subsiste de um passado remoto, após a morte das criaturas e a destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis, porém mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem por muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício imenso da recordação.”¹

Nesta manhã esse trecho me veio à mente e fez todo o sentido, quando, ao comer cuscuz de milho, repentinamente uma lembrança me veio à tona. Recordações de um tempo longínquo da minha infância. A casa da minha vó sempre foi um dos meus lugares favoritos, meu refúgio. Pela manhã vovó costumava nos servir aquele cuscuz amarelinho, tão cheiroso e muito, muito gostoso!

Esse trecho do livro de Proust trata sobre a questão da memória e da reminiscência, ou seja, a capacidade de se reconstruir o passado através dos sentidos. “Em busca do tempo perdido: No caminho de Swann” tem muito significado para mim; além de fazer parte das primeiras leituras que fiz na faculdade, me despertou verdadeira paixão por teoria literária. 

A maneira como Marcel Proust constrói sua narrativa desperta uma incrível percepção sobre os sentidos e como estes trabalham com nossas memórias e lembranças. Muitas vezes de maneira lacunar e falha.   

Essa história toda de memória, recordações e sentidos me lembra de que, muitas vezes, nos deixamos levar por esses processos que nos traem e nos enganam. Por exemplo, minha memória gustativa me levou a lembrar do café da manhã na casa de minha vó, mas como ter certeza de que fazia as refeições na mesa da cozinha ou da sala? Ou de que a mesa era laranja ou verde? Muitas vezes, recriamos memórias em nossa mente ou simplesmente não gravamos algo.

Explico melhor! Nossa memória se divide em memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo, certo? Dentro da memória de longo prazo temos: a memória semântica, a processual e a episódica. Complicou? Sem problemas! Vamos lá! A memória episódica é responsável pela nossa aptidão por recuperar experiências e é essa que nos interessa na conversa de hoje. 

Meu querido autor Proust trabalha com nossa memória episódica e essa memória é justamente a que armazena as experiências pessoais vividas no passado. Deus é sábio e a memória, a meu ver, é um grande presente! É ela, por exemplo, que me dá a possibilidade de ser grata, de adorar a Deus por todas as coisas boas que Ele fez na minha vida. A memória processual me auxilia na questão do ato de ser grato, pois ela é responsável pela lembrança da perpetração dos eventos, ou seja, ela me lembra de que se sou grata a Deus posso ajoelhar e agradecer por isso através da oração! A memória semântica, por sua vez, me ajuda a armazenar conceitos como gratidão, adoração e honra. Assim, posso, todas as vezes que socorrida por Deus saber dar graças, honrá-lo e adorá-lo por todo o cuidado.

Bem, montei todo esse universo de informações para que nos lembremos de que tudo em nós trabalha bem bonitinho! Temos memória e isso é legal, mas nossa memória é lacunar e falha, ou seja, Deus cuidou de você agora? Neste instante? Então não dê tempo para sua memória lhe trair!  Neste mesmo instante agradeça a Ele! Pois depois pode ser que a história não seja bem da maneira como aconteceu e nos sintamos tentados a ficar com todo o mérito! Exageros à parte...

Aproveite o dia para lembrar-se das coisas boas que Deus fez em sua vida e ser grato por isso. Um ótimo domingo.

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Referência:
¹-       Marcel Proust. Em busca do tempo perdido: No caminho de Swann. Volume 1. Pág 74.


6 comentários:

  1. Seu post me lembrou a "Canção da Vida", que deve ser nossa canção todas as manhã:
    "Pai querido obrigado pelos planos
    Grande sonhos especiais pra mim
    Tu me guias nos caminhos desta vida
    Ao teu lado nada faltara
    Eu te amo mais que tudo"

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    1. Nossa! Que lembrança legal! =)
      Não tinha parado para associar!

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  2. Gratidão e reconhecimento.
    Tantas são as razões para ser grata e reconhecida, que se a gente der mole, termina deixando o tempo passar e esquecendo de mencionar uma por uma. Daí a importância de agradecer constantemente. Por tudo e a cada detalhe.
    Bom restinho de semana!

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    1. É verdade,Suzi! Não podemos deixar de agradecer,afinal tudo de bom que recebemos vem de Deus.

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  3. Gostei de aprender sobre a memória semântica. Com ela eu tenho noções sobre valores morais como gratidão, adoração e honra. Acho que o Espírito Santo trabalha aí, então eu uso a memória processual pra agir, louvando, pedindo perdão, ajoelhando-me em oração. E tudo isso fica armazenado na minha memória episódica, permitindo que eu me lembre de todas as vezes que Deus foi bondoso comigo.

    Gostei mesmo! Espero ter aprendido de forma correta!

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  4. É isso mesmo, Jack! E é legal ver como as coisas de Deus funcionam com perfeição.. a memória é algo realmente incrível

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