OBRIGADO PELA GENTILEZA

OBRIGADO PELA GENTILEZA

(Por Airton Sousa)

Sempre que me lembro de minha infância ou de minha juventude, vejo minha mãe orando ou chupando mangas. Ela sempre gostou de mangas, ela adora mangas.  Ela gosta de comer manga com farinha no prato. E quando não está chupando mangas está orando. Ela ora o tempo todo, e o tempo todo escuto ela falando “Deus é bom”. ”Ah! meu Deus, como Deus é bom.” Eu já até aprendi a não discutir mais com ela sobre qualquer coisa que eu considere difícil. Pra minha mãe não tem tempo ruim pra nada.

Durante esses meses que estou aqui no Rio, tenho testemunhado uma sequência de milagrinhos quase que diários. Por mais enroladas que sejam as coisas, ela já deu seu jeitinho de orar. Faltou energia, ela ora, a fila do banco tá grande, ela ora. Tá faltando um documento pra resolver um problema na escola do bisneto, ela ora. Para cada uma dessas coisas que mencionei acrescente a resposta dela: “Viu como Deus é bom?”. De tanto presenciar, acabei chamando estes milagrinhos de “gentilezas”.

Gentileza é um ato que vai além da obrigação de cada ser humano, ou como diria um amigo meu, gentileza é amor além da obrigação. Não deixar uma mulher carregar peso, se levantar e dar lugar aos mais idosos, ser educado no trânsito, abrir uma porta para alguém. São atos gentis praticados pelo ser humano.

Assim como nós somos capazes desses atos tão gentis, Deus também tem nos surpreendido, até com certa frequência, com pequenos atos de bondade para mostrar o seu carinho e sua gentileza conosco. Tenho certeza de que se eu pedir para você, meu caro leitor, listar algumas dessas gentilezas sua lista ficará imensa. Por exemplo, uma vaga que aparece do nada no estacionamento do shopping, um parente que faz uma visita surpresa trazendo várias sacolas de supermercado num dia em que sua dispensa está vazia e não tem nada para alimentar sua família, um passaporte que você perde no dia daquela viagem tão sonhada e depois de procurar em toda a casa, você ora e se lembra de procurar no único lugar onde não havia procurado antes, ou uma prova na faculdade que você tem que fazer do outro lado da cidade, mas está uma hora atrasado, e o táxi consegue fazer o percurso no tempo exato.

De tanta convivência, acabei me considerando também um escolhido dessas gentilezas. Um dia me perguntei qual era o motivo de tanta gentileza e em um movimento automático e aleatório, abri a Bíblia em Ezequiel 16:60 (foi aleatório mesmo): “Mas eu me lembrarei sempre da aliança que fiz contigo, quando você ainda era menino”. *

Aí eu pensei comigo mesmo: Valeu, Deus! Obrigado por sempre se lembrar dessa aliança. Você nunca me deixou na mão. Suas gentilezas são simples e infindáveis.

Estava ainda pensando nisso quando meu sobrinho-neto chegou da escola com uma sacola cheia de mangas que ele mesmo havia tirado de uma mangueira que encontrou no caminho; trouxe para a vovó. E foi com a boca cheia de mangas que ela me disse: “Estava com tanta vontade de chupar mangas, hoje... Viu como Deus é bom?”.

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* Romanos 12:15 - NVI