COISAS DE ESCOLA. MAS NÃO SÓ.

COISAS DE ESCOLA. MAS NÃO SÓ.

(Por Denize Vicente)

Outubro, mês das crianças, mês dos professores.

Estive muitos anos nesse ambiente de crianças e salas de aula, e mesmo depois que abracei a carreira jurídica não consegui me afastar completamente da Pedagogia...  Eu poderia listar aqui alguns dos meus autores preferidos, na área da Educação, e amaria encerrar este mês de outubro falando um pouco sobre cada um deles, mas não tenho esse espaço todo...

Então, decidi citar, mais uma vez, Rubem Alves¹, por toda a beleza e profunda sabedoria que encontro sempre em suas palavras.

“Sonho com uma escola em que se cultivem pelo menos três coisas.

Primeiro, a sabedoria de viver juntos: o olhar manso, a paciência de ouvir, o prazer em cooperar. A sabedoria de viver juntos é a base de tudo o mais.

Segundo, a arte de pensar, porque é a partir dela que se constroem todos os saberes. Pensar é saber o que fazer com as informações.  Informação sem pensamento é coisa morta. A arte de pensar tem a ver com um permanente espantar-se diante do assombro do mundo, fazer perguntas diante do desconhecido, não ter medo de errar porque os saberes se encontram sempre depois de muitos erros.

Terceiro, o prazer de ler. Jamais o hábito da leitura, porque o hábito pertence ao mundo dos deveres, dos automatismos: cortar as unhas, escovar os dentes, rezar de noite. Não hábito mas leitura amorosa. Na leitura amorosa entramos em mundos desconhecidos e isso nos faz mais ricos interiormente. Quem aprendeu a amar os livros tem a chave do conhecimento.”

Quando penso nas nossas crianças, aquelas do seu prédio, as da igreja, as crianças das casas ao lado da sua, as do morro, as das ruas... sonho com o dia em que terão uma escola assim, e também com pais e professores amoráveis, família unida, adultos que se importem com elas, governos que as respeitem, e gente que se preocupe em fazê-las descobrir, cultivar e desenvolver essa sabedoria de viver junto, a arte de pensar, o prazer de ler, o sentido da vida, o que é o amor, onde quer que estejam – na escola, no lar, na rua, na igreja...

Desejo que aos sábados se reúnam e cantem juntas, que ouçam histórias, que lhes sejam apresentadas perspectivas de uma vida melhor, que ouçam falar de vida eterna, que conheçam o amor, a esperança, que se encontrem com Deus e corram para os braços dEle em qualquer situação, mesmo depois de se tornarem adultas.

Também são de Rubem Alves estas palavras: “Se dependesse de mim, nas escolas onde se formam os professores haveria cursos de ‘Como amar uma criança’. E a pergunta decisiva a todos os que pretendessem ser professores seria: ‘Você ama as crianças?’. Essa é a primeira condição. Quem não ama uma criança não tem o direito de ser professor – ainda que tenha todas as teorias na cabeça.”.

Eu estendo a pergunta a você que, mesmo não sendo professor de escola, é professor na vida – mãe, vovó, pai, tio, vô, guarda de trânsito, padre, freira, madre, médico, pastor... VOCÊ AMA AS CRIANÇAS?

Pense nisso!

E medite nisto:

Mateus 18:10 – “Cuidado, não desprezem nenhum destes pequeninos!”

Salmos 127:3 – “Os filhos são um presente do Senhor; eles são uma verdadeira bênção.”

Mateus 18:6 – “Quanto a estes pequeninos que creem em mim, se alguém for culpado de um deles me abandonar, seria melhor para essa pessoa que ela fosse jogada no lugar mais fundo do mar, com uma pedra grande amarrada no pescoço.”

Não é brincadeira... Educar é coisa séria. Sejamos sábios, amoráveis e conscientes!

____________

Referência:

1. Rubem Alves morreu em 19 de julho de 2014... Em 2011 descobriu que estava com uma doença degenerativa, o Mal de Parkinson; foi enfraquecendo aos poucos, forçado a parar de modo gradativo as suas tarefas e seus compromissos, que envolviam palestras e escritas semanais de crônicas para jornais.

Mas, como era mesmo muito sábio, e eu louvo a Deus por isso, em setembro de 2012 ele teve o cuidado de fundar o Instituto Rubem Alves - http://rubemalves.com.br/site/, na intenção “de preservar e perpetuar todo seu acervo e sua obra e também marcar a presença do seu pensamento na educação no Brasil.”. Que ideia espetacular!

Rubem Alves foi Psicanalista, venceu um câncer de estômago, era Doutor em Filosofia e Mestre em Teologia; experimentou o desemprego mesmo com o título de Doutor; foi perseguido pela Ditadura Militar, fez CPOR - Curso Centro de Preparo de Oficiais da Reserva do Ministério da Guerra, 1º lugar em Artilharia, foi professor de piano no Conservatório Carlos Gomes, e casou-se duas vezes com a mesma mulher.