MEUS ORGULHOSOS FRACASSOS
Por
João Octávio Barbosa
Darcy Ribeiro faria hoje 94 anos.
Falecido em 1997, ele foi um antropólogo,
escritor
e político
brasileiro,
conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país. Suas ideias de identidade latino-americana influenciaram
vários estudiosos latino-americanos posteriores. Como Ministro da Educação do Brasil
realizou profundas reformas que o levaram a ser convidado a participar de projetos
universitários no Chile,
Peru, Venezuela,
México
e Uruguai,
depois de deixar o Brasil devido ao golpe militar de 1964. [1]
Certa
vez, me deparei com uma declaração de Darcy Ribeiro que achei muito legal. Era
esta: “Fracassei em tudo o que tentei na
vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar
os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os
fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”.
Eu
abraço muitas causas e estou, constantemente, sentindo o gosto do fracasso. Mas,
realmente, teria sido pior nem ter tentado. Fracassos, na Bíblia, me remetem a
Jó. Para quem não conhece a história, ele era o homem mais feliz do mundo, por
muitas riquezas e uma família grande e feliz. De repente, ele é atacado por
Satanás, e perde tudo de uma vez: todos os seus bens, morrem todos os seus
filhos, e por fim ainda fica doente.
Hoje,
porém, o foco da coluna não são os fracassos de Jó, mas a conduta de sua
mulher, o nosso Perfil Sem Curtidas desta semana. Sua única citação direta, na
Bíblia, é em Jó 2:9-10;
uma leitura de 10 segundos - que, diga-se de passagem, não conta a favor dela.
Quando
seu marido tinha tudo, a mulher de Jó (anônima, na Bíblia) não parecia ter
motivos para querer que o nome de Deus fosse amaldiçoado. Jó era muito temente
a Deus, e pedia perdão até por pecados que ele nem sabia se haviam sido
cometidos! Mesmo assim, quando o sofrimento veio, ele veio pesado demais, e
muito de repente. Poderia você manter a paz de espírito num momento assim?
A
mulher de Jó deveria ter medido melhor as suas palavras, é claro, porque
blasfemou. Mas ao longo de todo o livro há uma longa discussão sobre a relação
entre o homem e Deus e todos falaram alguma besteira em alguma hora. A mulher
de Jó falou no calor do momento. É fácil julgá-la sem se colocar no lugar dela.
Se
você é cristão, será que jamais questionou a Deus por muito menos do que aquilo
que aquela senhora estava passando? Jó estava bem calcificado, espiritualmente.
Embora ele ainda se achasse injustiçado, não iria abandonar a crença no poder
de Deus naquela hora, mesmo ela sendo tão difícil. Ele declara: “Mulher, não fale besteira! Se Deus me mandou
tanto bem por tanto tempo, porque virar as costas para Ele agora que nos veio
algum mal?” (nas minhas palavras).
A
verdade é que todo ser humano tem inclinação para o mal, e é doente de pecado.
Todo o bem que recebemos é imerecido, e presente de Deus. O mal que chega é
nosso pagamento devido. Podemos chiar, podemos culpar Deus, podemos largar a
igreja e tudo mais. Mas isso é ignorar os fatos que a Bíblia declara.
Mas
a parte interessante da história da mulher de Jó para mim é a que fica
subentendida no final, e, talvez, mesmo quem conhece o relato todo, não tenha
se atentado a esse detalhe. No fim do livro, O Senhor se apresenta a Jó, que se
arrepende de ter pensado mal dEle. Deus abençoa Jó, que recupera a saúde, tudo
que tinha antes, materialmente falando, e tem novos filhos, na mesma quantidade
dos que morreram.
Tudo
novo, certo? Não! A esposa ainda é a “velha”! Afinal, o texto dá alguns
detalhes da nova vida de Jó, mas em nenhum momento ele cita uma nova mulher
para Jó.
Ou seja, aquela frase de inspiração demoníaca realmente representa a
mulher de Jó? Ou foi só um momento de loucura? Afinal, se a mulher tinha um
marido falido, doente, com todos os filhos mortos, por que ela não foi embora?
Não,
ela ficou ao lado do marido. Recebeu as bênçãos de Deus junto do marido. Teve o
seu coração perdoado junto do marido. E viveu por muitos anos mais, junto do
marido.
A
mulher de Jó vai ficar para sempre marcada como vilã da história. Quantas
pessoas de bom caráter vão ser sempre rotuladas pela pior coisa que fizeram em
sua vida? Fulano vai ser sempre o mentiroso porque mentiu uma vez para você. Beltrano
vai ser sempre o ladrão, porque roubou a padaria daquela vez. Sicrano vai ser
sempre o adúltero porque traiu a mulher uma vez.
Deus
não rotula. Porque ele quer salvar. Dos fracassos, pode sair a força das
vitórias.
“Desejaria
eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; não desejo antes
que se converta dos seus caminhos, e viva?”
Não
peço que concordem, espero que reflitam!
________________________
Referência:
[1]
Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Darcy_Ribeiro
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