KD VC?
Por Denize Vicente
Fevereiro de 2009. Escrevi este texto que você vai ler
agora num dia como o de hoje, quando eu pensava a respeito desse jeito moderno
de conversar com os amigos – meio apressado e mediado pela internet. Como o
texto é de 2009 e a modernidade já avançou mais um tantão, em sete anos,
decidir publicá-lo aqui no blog com algumas adaptações, ou seja, vou incluir o
Messenger do Facebook e o WhatsApp, porque os tempos estão cada vez mais
modernos. Mas repare que algumas coisas não mudam - quando deveriam. Vamos lá:
Lembro muito bem quando o MSN começou a se tornar
popular. Uma febre, praticamente.
Mal você aparecia e já chovia gente querendo conversar.
Assim que entrava, a vontade era logo procurar quem
estava "on line" pra começar a bater papo. Logo havia cinco, sete
janelas abertas. E o papo rolando solto. Bem... não tão solto. Um pouco preso.
Eu sempre fui bastante rápida, na digitação, graças aos
divertidos anos em que fui secretária de audiências, no Tribunal; então
costumava escrever rapidamente para todas as pessoas com quem eu conversava;
tudo ao mesmo tempo. Mas era chato. As pessoas não tinham a mesma rapidez, e
enquanto eu escrevia um parágrafo inteiro, contando uma história qualquer ou
colocando os assuntos em dia, a resposta demorava longos e irritantes minutos,
para chegar. É que além de não ter a mesma agilidade no teclado as pessoas
também estavam com mil janelas abertas, conversando com tantas outras gentes, e
era preciso esperar que elas pudessem voltar pra falar comigo.
Às vezes era engraçado, quando trocavam as conversas.
Mandavam pra mim o que era pra outro, tamanha a confusão de tanta conversação
paralela; esqueciam minha janela, porque havia outra piscando com mais
frequência, fazendo surgir um "kd vc?" ou coisas do
gênero...
De vez em quando era preciso tocar um aviso de atenção,
pra se lembrarem de mim, e geralmente voltavam sem nem saber do que estávamos
falando. Afinal, o que contava era falar com um sem-número de pessoas ao mesmo
tempo, e não, propriamente, conversar alguma coisa que fizesse sentido.
Agora mesmo eu estava pensando nisso... Imaginei que um papo com Deus deve ser meio semelhante a um papo no MSN, ou no GoogleTalk, no Messenger do Facebook, no WhatsApp. Ele ali, com milhões de janelas abertas, com agilidade o bastante para conversar com uma porção de gente simultaneamente, e essa gente toda, que também se aventura a conversar com tantas outras ao mesmo tempo, se enrolando pra manter o papo, fazendo Deus esperar... Vão seguindo, trocando o destinatário da conversa, começando novos bate-papos, esquecendo a janelinha em que conversavam com Deus, digitando apenas um "eh...", um “ahahaha!!!”, mandando uns "emoticons", e pronto. Deus chama, de vez em quando, a janelinha pisca e então é que se volta, sem nenhuma lembrança do ponto em que havíamos parado a conversa...
Eu ficava chateada, às vezes. Achava que não estavam me
dando atenção. Perguntava a mim mesma: "Pra que me chamou se tá falando com uma porção de gente ao mesmo tempo
e não consegue prestar atenção no papo?" Eu achava que tinha a ver
comigo. Será que o papo ‘tava sem graça? Não. Não era isso... Eram sempre
coisas interessantes, mas havia outros papos interessantes também rolando ao
mesmo tempo. A atenção era facilmente desviada. Igualzinho como quando a gente
conversa com Deus... Esquece que é preciso concentração. É preciso prestar
atenção no que se está falando.
Apesar disso, e ainda assim, Ele continua "on
line"; chama a atenção da gente, de vez em quando, mas continua lá. E não
se aborrece. Não se irrita. É paciente. Extremamente tranquilo. Mesmo quando a
gente apaga a luz e vai dormir, sem sequer dizer "Boa noite, Deus."...
A propósito, vocês já se falaram hoje?
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