quarta-feira, 5 de outubro de 2016

BALAÃO MÁGICO

BALAÃO MÁGICO
Por João Octávio Barbosa

No árido sertão nordestino travou-se uma das mais épicas batalhas da História brasileira. Em 1897, exatamente num 5 de outubro, como hoje, tinha fim a Guerra de Canudos, onde o excêntrico líder Antonio Conselheiro, que os historiadores ainda discutem se era um revolucionário social ou um fanático religioso (ou ambos), guiou milhares de miseráveis para viver numa terra com sua própria lei. Os pobres, como sempre, saíram derrotados, e a sociedade alternativa à la Raul Seixas sucumbiu ao exército da República recém-proclamada.


É no deserto que podemos encontrar figuras um tanto místicas. Muitos mil anos atrás havia um homem que aparentava muito poder e sabedoria sobrenatural. Ele também esteve no deserto. Ele também é lembrado como alguém de caráter enigmático. Hoje o “Perfil Sem Curtidas” é o de Balaão.

Ele não era o programa infantil dos anos 80, mas tinha lá os seus truques mágicos. Se você ler o livro bíblico de Números nos capítulos 22 e 23 vai perceber que Balaão era internacionalmente conhecido pela sua “mediunidade”. Contextualizemos: naquele momento, havia um povo, os hebreus, habitando no deserto, com uma fama de guerreiro e invencível. Vizinho a eles estava Balaque, rei de Moabe. Já prevendo uma derrota numa possível guerra, Balaque apelou pro lado espiritual, pro sobrenatural.


Interessantemente, mesmo vivendo muito longe dos hebreus, que eram o povo separado de Deus, Balaão era um profeta que respondia a esse mesmo Deus. Insisto nesse tema em mais este texto: Deus sempre foi Deus do mundo todo; nunca foi, nem é, de um grupo só. Os enviados de Balaque voltam frustrados do encontro com Balaão, pois ele não aceitou o dinheiro enviado para que amaldiçoasse Israel. O motivo? Deus mesmo falou com Balaão para não aceitar, e ele, obediente, acatou.

Balaque manda um grupo maior, mais importante e, com certeza, com mais dinheiro. Balaão aparenta ser um bom servo de Deus, e diz que não. Mas também diz que vai perguntar a Deus de novo... Opa... peraí! Por que perguntar de novo? Deus já não tinha dito “não”, na primeira vez? Essa obediência de Balaão tá meio cinza ou é impressão minha? Vou falar mais disso, depois.


Pior que, aparentemente, Deus muda de ideia, e fala para ele ir. Conquanto que, ao ir, ele obedeça às ordens de Deus na hora de profetizar. Só que há uma nova reviravolta! Surge um anjo, com uma espada, e até uma jumenta que fala! Você leu direito; tem uma jumenta que fala. Ela três vezes empaca quando vê o anjo, que Balaão não vê, e três vezes apanha. Na terceira, Deus concede ao animal o direito de se explicar a Balaão. E o profeta responde, assim, numa boa. Nem liga. O ser humano adora uma briga... Falar com um bicho nem chama tanta atenção assim, quando a gente está concentrado para ganhar a discussão.


Enfim, o recado foi dado: Deus estava de olho nele! Mas, realmente, soa um pouco incoerente. Era para ir ou não?

De acordo com o blogueiro JOBS, no post “Balaão Mágico”, da coluna “Perfis Sem Curtidas” publicada no www.entaoserve.blogspot.com.br em 5/10/2016, parágrafo 7º, a explicação é: “Deus disse a Balaão na primeira visita que ele não devia ir e ele não foi. No segundo pedido para que ele fosse, bastava ele repetir a resposta. Ao não responder logo, e voltar a perguntar a Deus, Balaão estava, na verdade, demonstrando o que ELE queria fazer: ir. Estava dando uma chance de Deus mudar de ideia, não porque achasse que Deus mudaria, mas porque ele queria que Deus mudasse. Seu erro foi esse; tentou impor a Deus a sua própria vontade. Naquele momento, Deus permitiu que Balaão fosse, como desejava, mas alertou que ele estava errado em fazer isso no caso da jumenta.”.

Chegando lá, onde iria amaldiçoar o povo de Israel, Balaão três vezes levanta altares, faz todo o ritual, mas, surpresa!, ao abrir a boca, abençoa o povo. Ingenuamente, mesmo depois da primeira e da segunda vez que isso acontece, o rei Balaque insiste. Ao reclamar com o profeta, ouve de Balaão uma meia-verdade, irônica, até: “Avisei a você que só poderia falar o que Deus me mandasse falar!”. 
 
No meio daquelas bênçãos, Deus, por intermédio de Balaão, rasga diversos elogios ao povo. Mesmo com todos os pecados, revoltas e rebeliões que aquele mesmo povo fazia naquela mesma época.

Queria salientar esse amor de Deus, o amor de uma mãe que ainda tem muito orgulho do filho, e muito amor, apesar de ele, às vezes, ser mal comportado.

Ficaria até bom para o lado de Balaão se a história dele na Bíblia acabasse aqui. Mas vemos em Números 31:7, algum tempo depois dessa época em que ocorreu a história que acabei de contar, que Balaão acabou sendo morto pelo povo de Israel, o mesmo povo para o qual ele declarou bênçãos e fez elogios. Ora, por quê? Porque o malandrinho não fez só isso. Quando não mais estava sobre a influência de Deus para profetizar, partiu para outra tática, a fim de destruir Israel.

Lendo Números 31:7 vemos que o responsável pelas blasfêmias espirituais nas quais Israel caiu, descritas em Números 25 (repare: logo após a tentativa frustrada de amaldiçoar Israel, narrada aqui na coluna), fez essas coisas por conselho de Balaão! Ou seja, o que Deus impediu que Balaão fizesse enquanto profetizava, ele fez com a maldosa astúcia de uma estratégia de corrupção espiritual do povo.

Não à toa, lá na frente, em Apocalipse 2:14, Balaão volta a ser citado como símbolo de uma espiritualidade pervertida aos olhos de Deus.

        
A capacidade humana de fazer o mal transcende barreiras incríveis. Muito cuidado! Há muitos inimigos ao seu redor, que querem afastar você de Deus. E de diferentes formas. Mas, se agarrando em Jesus, nada de ruim pode abalar sua fé.

Não peço que concordem, espero que reflitam!

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