sexta-feira, 2 de março de 2018

TOCA O BARCO


TOCA O BARCO
Denize Vicente – Rio de Janeiro/RJ

Eu me lembro de uma coleção de livros chamada “Para Gostar de Ler”, da Editora Ática; a gente ia pra casa da minha Tia Vera e “devorava” aqueles livrinhos. Numa dessas vezes eu li a crônica "Chatear e encher", do Paulo Mendes Campos. Você não faz ideia de como eu tinha vontade de fazer exatamente aquilo que ele ensinava... A Tia Vera era a única pessoa da nossa família que tinha telefone em casa, então a gente precisava fazer aquilo na casa dela mesmo. Eu, meus irmãos e minha prima resolvemos um dia brincar de chatear e encher. Acho que nunca ninguém nos descobriu. E acho que nunca a gente se divertiu tanto com uns telefonemas...

CHATEAR E ENCHER
Para gostar de ler. vol. 2. São Paulo, Ática, 1983. p. 35

“Um amigo meu me ensina a diferença entre 'chatear' e 'encher'.
Chatear é assim:
Você telefona para um escritório qualquer na cidade.

- Alô! Quer me chamar por favor o Valdemar?
- Aqui não tem nenhum Valdemar.

Daí a alguns minutos você liga de novo:
- O Valdemar, por obséquio.
- Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
- Mas não é do número tal?
- É, mas aqui não trabalha nenhum Valdemar.

Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
- Por favor, o Valdemar já chegou?
- Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui?
- Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
- Não chateia.

Daí a dez minutos, liga de novo.
- Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.

Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:
- Alô! Quem fala?

- Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou para mim?"

Na vida, muitas vezes, as pessoas nos chateiam com coisas muito mais graves. Não são crianças brincando; são pessoas que sem querer ou mesmo intencionalmente nos chateiam de verdade. Muitas sabem até chatear e encher pra valer! E como é que a gente reage??



Uma vez Jesus estava viajando com Seus discípulos. Eles estavam indo pra cidade de Jerusalém. Já tinham viajado um bom pedaço e já estavam bem cansados. Aí Jesus pediu que alguns discípulos fossem andando na frente, até uma aldeia de samaritanos, tentar achar um lugar pra eles todos descansarem. Samaritano não curtia judeu e judeus não curtiam samaritanos. E aí... não rolou. Eu acho que os samaritanos aproveitaram pra tirar uma onda com os caras, e pra quem está cansado e com fome isso é uma coisa que chateia, irrita e enche! Tiago e João se levantaram “soltando fumaça pelas ventas”, como diria minha vó. E perguntaram na lata, pra Jesus: “O Senhor quer que a gente mande descer fogo do céu pra acabar com eles?” (Verdade! Eles perguntaram isso. Pode conferir AQUI).

A reação de Jesus foi simples.
Ele simplesmente mandou “tocar o barco”.

Jesus era “esperto da mente”. Sabia que pagar o mal com mal não é coisa boa. Não faz bem. Não é de Deus.

Respirar fundo... e seguir até a próxima aldeia. Isso devia nos ensinar alguma coisa... 

Pensando bem, seguir em frente é sempre a melhor reposta, o melhor caminho, a melhor reação.

Aprenda com o Mestre.

Não se deixe irritar.

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