COINCIDÊNCIA OU PROVIDÊNCIA?
Filipe Souza - Ericeira,
Portugal
A renda de bilros é
uma técnica de artesanato produzida a partir do cruzamento de fios sobre um
cartão, perfurado de alfinetes, que fica sobre uma almofada. Os fios são
manipulados com a ajuda dos bilros, sendo que à medida que o desenho progride
os alfinetes são retirados. A renda de bilros pode ser encontrada em diversas
localidades piscatórias de Portugal sendo também conhecida por renda de
Peniche. No Brasil, a renda ainda é produzida no nordeste do país, bem como no
sul, na cidade de Florianópolis.
À primeira vista,
quando se observa o trabalho das rendeiras, não parece ser possível observar
nenhuma coerência; são tantos bilros que ficam pendurados e parece que o
trabalho da rendeira desenvolve-se de modo completamente aleatório, porém, ao
final dos trabalhos, produzem-se lindos e detalhados desenhos.
Visitando o castelo
de Óbidos em Portugal, conheci uma poeta rendeira. Conversei um pouco com ela e
li algumas de suas poesias. Numa delas ela contava como havia se apaixonado e
posteriormente casado com o seu esposo; porém, no decorrer da poesia, ela
poeticamente descreveu o acidente sofrido pelo seu amado - uma queda que quase
não o permitia lembrar quem a sua esposa era. Impactado por aquela poética
narrativa, despedi-me e saí.
Diante de situações
como essa, em que não conseguimos produzir uma exposição lógica para explicar
os porquês dos desencontros que a vida nos apresenta, surge a pergunta: será
nossa vida uma série de acontecimentos aleatórios, sem nexo ou propósito?
Estamos abandonados a nossa própria sorte ou haveria alguém zelando por nós?
Ao analisarmos a
história de José descrita no livro de Gênesis, nos capítulos 37 a 50, vemos uma
série de reveses que insistiam em destruir totalmente a confiança de José de
que poderia haver alguém cuidando dele. Primeiro ele foi vendido como escravo
para uma caravana de ismaelitas por ser o filho preferido do seu pai, sendo novamente
vendido como escravo a Potifar, oficial de Faraó, quando a caravana chegou ao
Egito. Na casa de Potifar, ele é acusado injustamente pela mulher do oficial de
tentar violentá-la - após não ter cedido às suas sucessivas tentativas de
sedução. Em decorrência dessa falsa acusação, José foi enviado para a prisão.
Apesar de tantos
infortúnios, José não perdeu a sua fé. A despeito de se encontrar preso como
escravo em uma terra distante, ele conservou seus princípios.
No momento mais
difícil de sua vida, porém, as circunstâncias começaram a mudar. O Faraó teve
um sonho que ninguém era capaz de decifrar e José foi chamado a interpretar
esse sonho. José revela o significado do sonho de Faraó afirmando que o Egito
passaria por sete anos de abundância, seguidos por sete anos de escassez e que
Deus havia dado aquele sonho ao rei a fim de que ele pudesse designar a alguém
a responsabilidade do armazenamento dos grãos a fim de que o reino egípcio
pudesse subsistir à fome.
Ao final dessa
explicação, Faraó nomeia José governador de todo o Egito. E quando chegam os
sete anos de fome, os irmãos de José se dirigem até o Egito em busca de comida
e se encontram com José, que lhes oferece abrigo e comida.
Devolvendo bondade
em resposta a todo o mal que seus irmãos lhe fizeram, salvou assim o Egito bem
como toda a sua família.
Assim como na renda
de bilros, a história da vida de José foi magistralmente tecida pelo grande
artista, em que cada provação tornou o desenho ainda mais belo. Apesar de não
ter sido do desejo de Deus que José fosse vendido como escravo, Ele usou essa
circunstância para abençoar a vida de José e a de seus irmãos.
Como dizia Fernando
Sabino: “no fim tudo dá certo, e se não
deu certo é porque ainda não chegou o fim.”1
Assim como na
história de José, Deus deseja dar um fim brilhante à história de nossa vida.
Ele garante: “Porque eu bem sei os
pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não
de mal, para vos dar o fim que esperais.” (Jeremias 29:11). Assim, “Entregue
o teu caminho ao Senhor; confie nele, e Ele tudo fará.” (Salmos 37:5).
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Referência/Fonte:
1. Citado em "A Volta por Cima" e extraído de "Fernando Sabino - Obra Reunida, Vol. III", Editora Nova Aguilar -
Rio de Janeiro, 1996, pág.611 –
disponível em http://www.releituras.com/fsabino_meupai.asp
- acessado em 13.02.2018.
Olá, Felipe!! Ótimo texto. Quantas vidas Deus não transforma de um emaranhado de caminhos, num só?! Eu sou um deles. Olhando pra trás, vejo que em cada momento completamente adverso em minha vida. Deus sempre aparece e da forma, cor e beleza. Deus é o Maior de todos os artistas!
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