SE CHOVE LÁ FORA...
Denize Vicente – São Paulo – Rio de Janeiro/RJ
Escrevo este post num dia em que chove, aqui no Rio, como chove em São
Paulo.
Garoa.
É... parece São Paulo.
Não é sempre que chove assim por aqui. Aliás, raramente. Acho o Rio muito intenso. Muito sol, muita chuva. Sempre muito. Garoa é chuva pouca. Meio calor, meio frio... isso não é Rio. “Cariocas não gostam de dias nublados”, já cantava a Adriana Calcanhoto. Aqui parece que não há meio termo; e quando acontece a gente diz que o Rio não tá com cara de Rio. Tipo nos dias cinzentos. Meio termo... Como quem vai à praia de manhã e volta meia hora depois; como beber água de coco e não pedir pra abrir o coco pra comer a parte de dentro; como estar na fila do banco, entrar mudo e sair calado... Não! A gente quer praia o dia todo, quer o coco inteiro e faz amigo na fila do banco - e se não faz, as coisas ficaram pela metade, a gente só pagou a conta.
Essas coisas assim pela metade são meio estranhas... e meio estranho é
um meio termo - nem assusta nem encanta. Coisas "mais ou menos" quase
acontecem. E quase sempre isso é um quase nada. Por isso não funcionam. Chuvinha
pouca é bobagem... e eu gosto mesmo é das chuvas de verão.
Há um poema do Quintana que fala da chuva de um jeito tão doce e ao mesmo tempo tão melancólico... E eu, quando o li pela primeira vez, imaginei a chuva caindo - não uma chuva fraquinha como a de agora, mas daquelas pesadas e barulhentas - a chuva caindo e ele escrevendo um poema enorme com letras trêmulas (não sei se Mario Quintana tinha a letra trêmula, mas era assim na minha imaginação).
Trêmulas... talvez de saudades, sei lá... A gente pode tremer de saudade
como se treme de frio e de febre, você sabe. E na minha cabeça, Quintana,
depois de muitas linhas de letras sentimentais, colocando a caneta de lado,
recostando-se na poltrona e esticando as pernas pra frente, teria apoiado as
mãos, cruzadas, por trás da cabeça, e num suspiro profundo teria pensado com
seus botões: há chuva, há poemas que por acaso eu escrevo; há o passado, a
saudade, o que foi, o que vem, há tantas coisas como há tanta chuva!
E assim, depois de olhar a janela molhada, água escorrendo pelos vidros, pegaria seus óculos, retomaria a caneta e escreveria, então, por acaso, outros versos. Tudo bem século XVIII.
“Sempre que chove
Tudo faz tanto tempo...
E qualquer poema que acaso eu escreva
Vem sempre datado de 1779!”
(Mario Quintana - "Preparativos de Viagem")
A chuva pode trazer nostalgia pra gente. Acontece comigo. Eu me lembro,
por exemplo, da infância com meus irmãos. Chuva de granizo e a gente lá
embaixo do prédio, com baldinho, catando as pedrinhas de chuva. Ai, que
delícia! Chuva lembra música, também. Reunidos em casa, meus pais, eu e meus
irmãos, e a gente cantando, com piano e escaleta, “Chuvas de bênçãos”. Ou na
igreja, um dos meus irmãos ao piano, eu gostando muito de cantar a parte que
fala das gotas... a igreja inteira parecendo um Coral daqueles americanos, de filme: “Chuvas
de bênçãos teremos / É a promessa de Deus...”.
Se você já esteve em alguma igreja protestante, ou evangélica, pode ser
que já tenha ouvido esse hino tradicionalíssimo. É bem lindo.
“... e farei descer a chuva a seu tempo; chuvas de bênçãos
serão. E as árvores do campo darão o seu fruto, e a terra dará a sua novidade,
e estarão seguras na sua terra; saberão que eu sou o Senhor...” (Ezequiel
34:26-27)
Olhe pra chuvinha lá fora e pense nas gotinhas de bênçãos que
existem hoje na sua vida; pense nas chuvas torrenciais que estão por vir... Agradeça
pelas gotas que você tem e peça a Deus que venham chuvas de bênçãos, mas
permita que Ele faça as mudanças necessárias na sua vida; deixe que Ele prepare
a terra para que venham as novidades. Saiba que Ele é o Senhor.
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