MAIS
DE DEZ ANOS DEPOIS
Jackson Valoni -
Angra dos Reis/RJ
Eu gostava de
escrever poesias. Eu sabia rimar, e sabia escolher bem as palavras. Um dia
comecei a enviar para os outros pra saber a opinião deles sobre o que eu
escrevia. O que eles diziam nunca me satisfazia, e eu tentava alimentar a
motivação de escrever.
Eu pensava que
gostava de escrever poesia. Percebi que eu gostava de criar frases que pareciam
ser inéditas pra mim. Gostava de usar um dicionário de sinônimos que havia na
casa da minha avó. Esse dicionário me apresentou palavras novas, como
"capciosa", "sibilino" (que chegou a virar título de
poesia) e "cândido".
Eu escrevia poesia
pra ser elogiado. Eu pensava que poderia escrever bem como Jô Soares, que eu
lia com prazer, ou Zafón, que descobri mais tarde. Pensava que a poesia poderia
garimpar a coragem que me faltava para falar com a garota que eu gostava no
colégio. As poesias chegaram a ela, mas a coragem nunca deu as caras.
Eu detalhava meu
sofrimento quase infantil em rimas toscas. Lia Cruz e Sousa pra escrever igual
a ele, ouvia Beatles me colocando nas situações das músicas, e escrevia os
sonetos mais bregas do Universo.
Eu escrevo. Mais de
dez anos se passaram desde a primeira madrugada em que busquei um papel e uma
caneta para falar sobre um desejo não correspondido (pura adolescência...).
Estou em minha cama
neste momento, de madrugada. O relógio marca 1h55min, minha esposa está deitada
com a cabeça apoiada em meu peito direito e meus braços estão ao redor dela.
Escrevo no celular, sonolento, em paz, achando graça do lampejo de lembranças
infestada de letras confusas em papeis aleatórios que se perderam por aí.
Aprendi a tocar um
instrumento, fiquei mais crente do que antes, encontrei o meu amor, casei com
ela, cruzei o oceano duas vezes e escrevi diversas vezes sobre esta mulher que
está com a cabeça em meu peito.
Perdi o hábito de
escrever poesia. Era mais fácil quando doía. Hoje estou prosa, ciente que tudo
contribuiu para que o desejo de Deus em minha vida se cumprisse. Romanos 8:28
Seja lá o que Deus
quer de mim, que Ele mantenha Sua caligrafia em minha frente, ou ao redor dos
meus braços.
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