sábado, 26 de agosto de 2017

MAIS DE DEZ ANOS DEPOIS


MAIS DE DEZ ANOS DEPOIS
Jackson Valoni - Angra dos Reis/RJ

Eu gostava de escrever poesias. Eu sabia rimar, e sabia escolher bem as palavras. Um dia comecei a enviar para os outros pra saber a opinião deles sobre o que eu escrevia. O que eles diziam nunca me satisfazia, e eu tentava alimentar a motivação de escrever.

Eu pensava que gostava de escrever poesia. Percebi que eu gostava de criar frases que pareciam ser inéditas pra mim. Gostava de usar um dicionário de sinônimos que havia na casa da minha avó. Esse dicionário me apresentou palavras novas, como "capciosa", "sibilino" (que chegou a virar título de poesia) e "cândido".

Eu escrevia poesia pra ser elogiado. Eu pensava que poderia escrever bem como Jô Soares, que eu lia com prazer, ou Zafón, que descobri mais tarde. Pensava que a poesia poderia garimpar a coragem que me faltava para falar com a garota que eu gostava no colégio. As poesias chegaram a ela, mas a coragem nunca deu as caras.

Eu detalhava meu sofrimento quase infantil em rimas toscas. Lia Cruz e Sousa pra escrever igual a ele, ouvia Beatles me colocando nas situações das músicas, e escrevia os sonetos mais bregas do Universo.


Eu escrevo. Mais de dez anos se passaram desde a primeira madrugada em que busquei um papel e uma caneta para falar sobre um desejo não correspondido (pura adolescência...).

Estou em minha cama neste momento, de madrugada. O relógio marca 1h55min, minha esposa está deitada com a cabeça apoiada em meu peito direito e meus braços estão ao redor dela. Escrevo no celular, sonolento, em paz, achando graça do lampejo de lembranças infestada de letras confusas em papeis aleatórios que se perderam por aí.

Aprendi a tocar um instrumento, fiquei mais crente do que antes, encontrei o meu amor, casei com ela, cruzei o oceano duas vezes e escrevi diversas vezes sobre esta mulher que está com a cabeça em meu peito.

Perdi o hábito de escrever poesia. Era mais fácil quando doía. Hoje estou prosa, ciente que tudo contribuiu para que o desejo de Deus em minha vida se cumprisse. Romanos 8:28

Seja lá o que Deus quer de mim, que Ele mantenha Sua caligrafia em minha frente, ou ao redor dos meus braços.



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