SUA
VIDA NÃO É UM ROMANCE
Denize Vicente - Rio de Janeiro - RJ
Denize Vicente - Rio de Janeiro - RJ
Outro dia eu conversava com as meninas
sobre “mentirinhas”. “Mentiras brancas”. A gente aprendeu a dar nomes mais
charmosos a coisas que, se chamadas pelo seu próprio nome, ficariam muito pesadas,
não é?
Pra não se entregar na preguiça e provocar
um terremoto dentro de casa, por exemplo, a gente mente explicando pra mãe que “esqueceu”
de lavar a louça. Para evitar ser tido como X-9, a gente diz que não viu aquilo
que o Chefe perguntou pra gente se aconteceu. Pra não magoar, a gente não
admite pro outro que o encanto acabou, que era paixão, não amor, e que por isso
vai terminar o namoro. Pra não parecer descaso, a gente fala que tinha uma
blitzen no caminho e que foi esse o motivo do atraso. Pra não ter as dificuldades
de uma vida de verdade, a gente enfeita as palavras e vive a de mentirinha...
Mario Vargas Llosa tem um livro chamado “A
verdade das mentiras”; nesse livro ele diz uma coisa muito interessante: “Os homens não estão contentes com o seu
destino, e quase todos – ricos ou pobres, geniais ou medíocres, célebres ou
obscuros – gostariam de ter uma vida diferente da que vivem. Para aplacar –
trapaceiramente – esse apetite, surgiu a ficção. Ela é escrita e lida para que
os seres humanos tenham as vidas que não se resignam a não ter.” (p.16, 2ª ed.,
Editora ARX)
Para além de revelar sua constatação de que
o homem não está satisfeito com o rumo que dá a sua vida, desejando outra, diferente
da que vive, o escritor nos diz que a ficção foi criada para que, por ela, o
ser humano inconformado tenha a vida que queria ter...
Llosa defende os romances sustentando sua
importância, porquanto revelam a materialização das obsessões humanas, “com
acréscimos sutis ou grosseiros à vida”. Inevitável concluir que as mentiras
criadas pela ficção e pelos romances, os “acréscimos sutis ou grosseiros” que
materializam nossos desejos e sonhos, têm duração limitada. 490 páginas, cinco
semanas, dois meses, três horas por dia... mas não a vida inteira. Duram
enquanto dura a leitura. Por outro lado, alguns de nós vivemos a vida toda como
se a nossa própria vida fosse uma obra de ficção.
A vida que você tem em suas mãos não é um
romance. Não acredite que por acrescentar ou enfeitar situações e fingir motivos
você terá, daí em diante, a vida transformada em “perfeita”.
Se é fato que os homens não estão contentes
e que gostariam de ter uma vida diferente da que vivem, eu e você não
precisamos nos resignar com soluções “trapaceiras” para aplacar esse desejo. A
par dos romances e das ficções, há um recurso muito mais edificante e que
também foi escrito “para que os seres
humanos tenham as vidas que não se resignam a não ter”.
É um livro, também, mas cheio de histórias
reais, de homens e mulheres como eu e você, que encararam desafios e situações
semelhantes às que nós enfrentamos. Há histórias de quem venceu e histórias de
quem se arruinou; de quem mentiu e se deu bem por um tempo, mas acordou a tempo
de não se dar mal para sempre, e de outros, que firmaram parceria total com a mentira
e pagaram um preço alto por isso. Um livro repleto de experiências e cheio de
orientações, escrito pelo maior Autor de todos os tempos: Deus. Sua Palavra é a
verdade. E nEle não há mentirinhas.
Deus não é homem para
que minta,
nem filho de homem
para que se arrependa.
Acaso ele fala e deixa
de agir?
Acaso promete e deixa de
cumprir?
(Números 23:19)
Llosa acredita que “não se escrevem romances
para contar a vida, senão para transformá-la, acrescentando-lhe algo.” (ib., p. 17). Diz ele que no coração de
todos os livros de ficção “chameja um protesto”. E complementa: “Quem os fabula o fez porque não pôde vivê-los,
e quem os lê – e neles acredita, durante a leitura – encontra, em suas
fantasias, os rostos e as aventuras que necessitava para ampliar sua vida...”
(pp. 21 e 22).
Hoje eu queria que você pensasse nisso. Sem
relegar a importância desse gênero literário, quando se trata de preencher as
insuficiências da vida você precisa sair de si mesmo, ser outro, e nunca menos
do que sonhou, mas inspirado em histórias reais, de gente tão real quanto você,
cujas lágrimas e bocejos, alegria e desespero, dores e êxtase se comparam às
que você também experimenta.
Sua vida não é um romance. Ela não precisa
estar recheada nem coberta de mentiras. A verdade liberta.
“E
conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.”
(João
8:32 – Bíblia - Nova Versão Internacional)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que você acha?