sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A LIÇÃO DE DELICADEZA DE NELSON RODRIGUES


A LIÇÃO DE DELICADEZA DE NELSON RODRIGUES
Denize Vicente – Rio de Janeiro - RJ

Nelson Rodrigues morreu no dia 22 de dezembro de 1980. As duas últimas crônicas que ele escreveu foram publicadas, respectivamente, nos dias 20 e 22 de dezembro daquele ano  - “Analfabetos do Amor” e “Amor que morre”. No mesmo dia 22.12.1980, quando o jornal publicou "Amor que morre", estava, na manchete: "MORRE NELSON RODRIGUES".

Costuma-se associar NR a descrições de um amor licencioso, paixões escarlates, a um erotismo mais para pornográfico do que para sensual.
Pois que seja. Mas ele sabia também falar de um amor delicado. Ou sabia falar delicadamente do amor. E sabia que amamos errado...

É de causar espécie que o homem que um dia disse que "toda mulher gosta de apanhar" e "os homens adoram ser traídos" também tenha escrito com delicadeza que "quem experimenta o verdadeiro amor já não sabe viver sem ele"...

 
Vou trazer hoje a parte final de sua última crônica. Acho que você vai gostar de ler. E depois eu explico por que transcrevi esse trecho:

"(...) 7 - Contei, aqui mesmo, nesta coluna, o caso daqueles namorados da Tijuca (da Tijuca ou de Haddock Lobo, não me lembro bem). Era um amor de novela, de filme. 'Nasceram um para o outro', diziam. E era tal o agarramento que, certa vez, no cinema, o vaga-lume incidiu sobre eles a lanterna. Houve, ali, um pequeno escândalo, felizmente abafado. Mas como eu ia dizendo: todo mundo estava convencido de que nada alteraria aquele amor, assim na terra como no céu. Até que, uma tarde, ele tem uma pequenina impaciência com a bem-amada, e deixa escapar um 'não chateia'.

8 - Parece pouco. E foi muito, foi tudo. Essa interjeição ordinária, essa expressão vil era uma mácula definitiva. Naquele justo momento, o amor adoeceu para morrer. Todos os fracassos matrimoniais vêm da soma - repito - da soma de todos os 'não chateia', de todos os 'não amole', que vamos largando pela vida. A mulher que é simplesmente chamada de 'chata' teria preferido uma ofensa mais grave e brutal.

9 - Eu sempre digo que não é na recepção do Itamarati que devemos ser perfeitos. Não. Devemos reservar o melhor de nós mesmos, de nossa delicadeza, de nossa cerimônia, de nosso charme, para a mais secreta intimidade do lar. É menos grave chamar de 'chato' um embaixador, um ministro, do que o namorado, a noiva, a esposa, o marido. Se respeitássemos o nosso amor, não seríamos tão solitários e tão malqueridos."
FIM
Folha de São Paulo, 22/12/1980

Crônica terminada.
E então, depois disso, NR morreu.

Eu transcrevi esse texto não apenas para que você conhecesse (ou relembrasse) esse lado cheio de sensibilidade do escritor e dramaturgo, mas pra que pensasse um pouco sobre a importância das pequenas coisas (para o bem e para o mal).

Mas não só.

Também queria que você fizesse o link e percebesse que não muda nadinha no nosso relacionamento com nossos irmãos, os outros filhos de Deus. Precisamos ser gentis, e não devemos usar palavras que possam ferir e magoar alguém. E muito menos fazer isso intencionalmente. Laços fraternais e de amizade podem se romper facilmente quando desrespeitamos o outro.

“Nunca ninguém viu Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus vive unido conosco, e o seu amor enche completamente o nosso coração.” I João 4:12

E da minha coleção de sugestões de como ser gentil e fofo, para ser feliz e fazer felizes os outros, seguem outras dicas:

Efésios 4:29
Evitem a boca suja. Digam só o que é bom e útil àqueles com quem vocês estiverem falando, e o que resulta em bênção para eles.

Provérbios 16:24
Palavras agradáveis são doces como mel, são doces para o paladar e trazem cura para a alma.

1 Tessalonicenses 5:11
Portanto, animem e ajudem uns aos outros, como vocês têm feito até agora.

Provérbios 15:23
Saber dar uma resposta é uma alegria; como é boa a palavra certa na hora certa!

Colossenses 4:6
Que as suas conversas sejam sempre agradáveis e de bom gosto, e que vocês saibam também como responder a cada pessoa!

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Fonte/Referência:

FIGURAS DO BRASIL - 80 AUTORES EM 80 ANOS DE FOLHA – PubliFolha – pp. 208 e 209.

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