HOJE
NÃO...
Eduardo Santos - Sankt Peter am Hart,
Bogenhofen, Áustria
Há alguns meses, eu conversava com uma colega
sobre a mania dos vizinhos dela de sempre puxarem assunto ao vê-la passar e sobre
como nem sempre ela estava disposta a corresponder. Confesso que tentei
controlar meu sarcasmo, mas ele foi mais forte e propus que ela fizesse uma
daquelas camisetas personalizadas com a frase “Hoje não!”. Ironicamente, ela
gostou da ideia; só não sei se chegou a pôr em prática...
Tempos depois, mais especificamente ontem,
dia 06 de outubro de 2018, eu ouvia uma mensagem que falava sobre os momentos
finais da vida de Jesus Cristo e de como Ele foi traído por um de seus melhores
amigos. Talvez seu primeiro palpite tenha sido... Judas; mas devo lhe dizer que
a mensagem falava sobre Pedro.
Eu tinha o costume de considerar o ato de
Judas como traição; não o de Pedro. Só que pensando um pouco mais a fundo,
naquele momento, pelo menos, Pedro agiu como um daqueles amigos que estão por
perto nos bons instantes, mas que, quando a coisa aperta, desaparecem.
“Eu
não sei nem quem é esse homem de quem vocês estão falando.”
Nunca me pus a pensar profundamente sobre
os motivos que Pedro teve para negar a Cristo, talvez também seja esse o seu
caso. E apesar de parecer um detalhe supérfluo, pode ser isso o que define o
destino da trajetória do cristão.
Proponho que comecemos com o fim. Em Mateus 26:58, o
autor do evangelho retrata Pedro seguindo Cristo à distância, momentos antes de
negar conhecê-lo. Se voltarmos um pouco nos versos do mesmo capítulo, versos 31-35,
Mateus conta que Pedro foi avisado e que negou com veemência a possibilidade de
abandonar seu Mestre. No verso 41,
Cristo pronuncia certas palavras que parecem responder à reação de Pedro no verso 35. Em outras
palavras, Jesus diz aos Seus discípulos: “Sei que existe um grande desejo de
permanecerem firmes, mas estão buscando forças da fonte errada.” (tradução
livre).
Pensando no ocorrido, é inevitável não se
perguntar se a mera distância física teria sido suficiente pra tamanho tropeço,
e eu creio que não. Olhando por outro ponto de vista, se adiantarmos a leitura
pra João 15:5,
enxergaremos que, mais do que fisicamente, podemos estar espiritualmente
distantes da videira e que, sendo assim, nada poderemos fazer.
A reflexão que fica pra nós hoje é esta:
até que ponto Pedro não deixou que o choque entre sua idealização do Messias e
a realidade do Messias o distanciasse dEle? Até que ponto a sujeição servil que
Cristo apresentou ao pagar os impostos cobrados não o chocaram? Até que ponto a
recusa da instauração de um reino revoltoso não abalou a fé do pescador de
Betsaida? Até que ponto a recusa de proteção no jardim do Getsêmani não o fez
questionar sua fé?
Mais do que criticar as escolhas que Pedro
fez durante sua vida aqui na Terra, a intenção do texto de hoje é nos levar a
pensar até que ponto as nossas frustrações e decepções desta vida nos afastam
lentamente do Salvador, até o momento que dizemos: “Hoje não, Senhor... Hoje,
eu não tenho tempo pra passar contigo. Hoje eu não estou disposto a estar na Sua
presença. Hoje, eu quero as coisas do meu jeito!”.
O apelo continua sendo o mesmo para nós
hoje: “Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Todo aquele que permanecer em
mim, e eu nele, esse produzirá muito fruto. Porque separados de mim vocês não
podem fazer coisa alguma.” (João 15:5).
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