VALE A PENA LER DE NOVO
Em fevereiro a
gente volta, com novos textos pra você,
na ideia de
sempre levar esperança para o seu coração.
Até lá, releia
alguns textos já publicados neste blog.
De repente, nessa
releitura,
você encontra a
mensagem que precisa
para seus dias de
janeiro...
Denize
Vicente - Rio de Janeiro - RJ
Escrevo este
texto alguns dias antes do Natal. E decidi contar pra vocês uma história real,
algo que me aconteceu há alguns anos e que eu nunca mais me esqueci... A
personagem principal da história eu não sei por onde anda, não me lembro do seu
nome, não sei como está na vida; mas eu sei que aquele dia em que nós nos
encontramos não foi uma coisa qualquer...
Era um dia
como o de hoje, próximo ao Natal, e eu estava na rua porque precisava comprar
umas frutas e coisinhas pro cabelo (“papo de mulherzinha”, você vai dizer; mas
continue a ler mesmo assim, porque vou lhe contar mais do que isso).
Pois foi nessa
loja de produtos para cabelo que fiz a minha primeira parada. Naquele lugar funcionava
um salão de beleza. Havia fechado fazia uns três meses. Por isso, tudo com descontos entre
30% e 70%. E, sabe-se lá por que, tinha muito mais do que produtos para cabelo,
na liquidação: batom, creme para a pele, protetor solar, produtos Payot,
Lancôme, Banana Boat, Nivea, John Frieda... muita coisa, de muitas marcas.
Mas não foi por isso que aquela passadinha na loja demorou tanto... foi porque, na verdade, se transformou numa sessão de terapia. A menina que me atendeu não demorou muito tempo para abrir o coração... e começou a me contar da sua vida, triste vida.
Já eram três
meses sem salário, mas ela continuava ali, trabalhando, agora nas vendas.
Ficava sozinha na loja. Os patrões vinham ao final do dia, todos os dias, mas
só para receber a grana das vendas. E ela seguia me contando da sua rotina... olhar
triste, meio rouca, resquício de uma gripe ainda nem curada, e foi contando, contando...
porque tinha alguém disposto a ouvir.
Casada há três anos, uma filha, e um marido lento - que levava a criança pra creche, mas reclamava tanto que nem ia buscá-la; com quem, me disse, não mantinha mais nenhum tipo de intimidade, e que lhe perguntava prontamente, ao menor esboço de insatisfação da sua parte: "Como é que você vai se virar, se se separar de mim, com essa miséria que você ganha?".
Ela me olha e
diz que, mesmo não admitindo pra ele, precisava concordar que não teria mesmo a
menor condição de se virar...
Tem 29 anos. É
alta, bonita. Um sorriso largo (que deixava escapar quando eu lhe fazia um
elogio e dizia que as coisas não precisam ser assim para sempre), cabelos na
altura dos ombros, levemente ondulados, dentes quase perfeitos, uma pele
bonita, e uma tatuagem com o nome desse marido, nas costas. Diz pra mim que é
do tempo em que era apaixonada por ele. Do tempo em que Deus lhe mostrou
"que ele não era o homem certo", mas ela não quis ouvir.
Quase resignada, ela me diz que a culpa é só dela, mas acha que ainda tem o direito de ser feliz, e quer isso! Não quer mais ficar casada com aquele sofrimento. Quer outros céus, outros sóis, eu acho.
Lamentou-se, ainda, das condições de trabalho. Sugeri que ajuizasse uma ação trabalhista para buscar o reconhecimento judicial de seus direitos - nem mesmo sua Carteira de Trabalho foi anotada - mas é incrível como as pessoas de bem é que temem a Justiça, mesmo quando seus direitos são inquestionáveis. Disse que "a dona do salão trabalha com o César Maia" e acha que não deveria processá-la. (É difícil você convencer que a Justiça não quer saber disso. É difícil, porque às vezes a Justiça decepciona até a mim, que acredito tanto e trabalho tanto...)
A certa altura ela já se sentia tão à vontade, que me mostrou a sandália que estava usando... arrebentada quando vinha pro trabalho. E a menina não podia, sequer, ir ao Shopping, distante apenas uns 50 metros, porque não tem hora de almoço e porque não podia fechar a loja antes das sete... Precisava de alguém que fosse até lá e comprasse uma sandalinha “de até trinta reais”. Havia pedido ao segurança da loja ao lado; ele até viu, mas não sabia “comprar essas coisas”... A essa altura, já passava do meio-dia e eu ainda precisava ir ao mercado e fazer tantas outras coisas... mas não consegui dizer que não iria lá pra ela.
Ela queria qualquer sandália. Com brilhinhos seria linda. Eu não prometi. Disse que iria ao mercado, e “se desse tempo”, iria ao shopping, pra ver. Passei direto, nem entrei no mercado. Procurei a mais delicada, com brilhinhos. Comprei ainda um sanduíche bem gostosinho e algo para ela beber.
Quando entrei
de volta na loja, ela me sorriu, como que sem acreditar. Fez questão de pagar a
sandália. Eu queria dar de presente, mas ela insistiu e eu achei que seria
melhor e mais agradável para ela assim. Decidi comprar uma bolsa, quem sabe, ou
outra sandalinha, e levar para a moça, mais tarde, e fiquei pensando: será que
é esse o espírito do Natal? Emprestar seus ouvidos, escutar quem não tem com
quem falar, falar a quem tanto precisa ouvir, levar um pouco de esperança a um
coração desolado, enxergar a beleza de uma alma abatida, dar um pouco de pão e
água a quem tem fome e sede, fazer brotar um sorriso de um rosto amarelado de
tristeza, valorizar e devolver a autoestima de alguém que caminha curvado,
olhando pro chão?
Na sua simplicidade, ela ainda me emocionou. Ainda mais. Pediu que eu escolhesse três batons, e me deu de presente. Meus olhos sorriram com os dela, e eu não vou me esquecer disso. Porque ficou aqui, na minha mente, a prova inconteste de que "ninguém é tão grande que não possa aprender nem tão pequeno que não possa ensinar"; ninguém tem tão pouco que não possa doar nem tem tanto que não precise de um pouco.
Eu, que achava que tinha ajudado alguém, naquele Natal... ganhei a felicidade de ver um sorriso num rosto de alguém que estava triste e se sentia sozinho, minutos antes de eu chegar; e ela ganhou a alegria de ver a minha emoção, pelos delicados presentes que me deu.
A moça me abraçou como se fôssemos amigas há muito
tempo e eu lhe desejei um Ano Novo abençoado; uma vida nova, de alegrias, saúde
e paz. E depois fui conversar com Deus sobre essas coisas, para que, realmente,
tudo acontecesse.
Hoje, depois
de alguns anos, não acredito que essa história seja menos comum, na vida de
outras garotas de 29 anos, do que era naquela época... Também não é muito diferente
a falta de disponibilidade das pessoas para doar um pouco do seu tempo e da sua
atenção.
Você correu a
semana inteira, com os preparativos de Natal e da ceia de ontem à noite. Talvez
tenha dividido a mesa de jantar com quem, se não estivesse com você, mesmo
assim não ficaria sem comida. E não há nenhum problema nisso... mas hoje, aí na
sua casa, tem o brasileiríssimo “enterro dos ossos”, não é? Todo mundo acordou
tarde e vai comer mais tarde ainda. E que tal fazer umas duas ou três quentinhas,
antes de começarem a almoçar, e levar pra rua, procurando alguém que esteja
sozinho, largado, triste e com fome?
Você também
pode ligar pra alguém com quem não conversa há tempos e perguntar SINCERAMENTE,
com disposição para ouvir, se está tudo bem com ele.
Também é
possível separar um tempo para bater um papo com o porteiro do seu prédio – que não vai poder estar em casa com sua família no
almoço de hoje - ou com o segurança do shopping – que trabalhou até tão tarde ontem que nem pôde brincar com os filhos
antes da ceia...
Você também
pode caminhar um pouco, depois do almoço – você e a galera que está aí com você – e
procurar uma criança, na rua, olhar pra ela e oferecer um presente, mesmo que
seja um picolé.
Lembre-se: NINGUÉM TEM TÃO POUCO QUE NÃO POSSA DOAR
NEM TEM TANTO QUE NÃO PRECISE DE UM POUCO.
Há diversas
maneiras de fazer com que o Natal não seja, meramente, uma época de “panelinhas”,
quando você se relaciona apenas com quem já se relaciona com você, dá presentes
e agrados àqueles que também lhe darão presentinhos e come com quem sempre tem
um lugar à mesa...
Que a vida do
aniversariante sirva de exemplo e inspiração para nós que hoje comemoramos o
Seu aniversário.
Porque se eu
não tiver amor...
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