SOBRE FLORES E RAMOS, SOBRE AS CHUVAS DE PRIMAVERA, SOBRE O QUE EU ESTOU FAZENDO DA MINHA VIDA
Por Denize
Vicente
Retrato em Luar
Cecília Meireles
Meus olhos ficam neste parque,
minhas mãos no musgo dos muros,
para o que um dia vier buscar-me,
entre pensamentos futuros.
Não quero pronunciar teu nome,
que a voz é o apelido do vento,
e os graus da esfera me consomem
toda, no mais simples momento.
São mais duráveis a hera, as malvas,
que a minha face deste instante.
Mas posso deixá-la em palavras,
gravada num tempo constante.
Nunca tive os olhos tão claros
e o sorriso em tanta loucura.
Sinto-me toda igual às árvores:
solitária, perfeita e pura.
Aqui estão meus olhos nas flores,
meus braços ao longo dos ramos:
e, no vago rumor das fontes,
uma voz de amor que sonhamos.
Taí um poema de Cecília Meireles, poeta (“poetisa”, para os mais tradicionais) que viveu entre 1901 e 1964. Falou aí sobre árvores, flores e ramos. Falou do amor que sonhamos...
Você sabe: agora há pouco se deu o início da primavera.
Exatamente às 11h21 do dia 22 de
setembro, quinta-feira - mais precisamente, ontem – embora hoje, dia 23, seja o
primeiro amanhecer de primavera, no Brasil. E se falamos nela, pensamos
na vida, na renovação, falamos de recomeço, tratamos de cor, alegria, de sonhos
e de amor.
Estava relendo um texto que escrevi em
dezembro de 2006, logo após a morte de Augusto Pinochet...
Eu dizia:
Morreu hoje Augusto Pinochet, o ditador. Aquele que tomando o poder, no Chile, em 11 de setembro de 1973, golpeou de morte Salvador Allende, presidente democraticamente eleito, e que levou à morte, doze dias depois da morte do amigo, Pablo Neruda. Acho que aquelas duas mortes estão ligadas. O poeta chegou a ser indicado à Presidência da República do Chile, mas cedeu a honra ao grande amigo Salvador Allende. Neruda não morreu por conta da leucemia; morreu porque se abalou com a notícia do golpe; morreu porque morrera Salvador.
A justiça foi lenta... A morte, esperta e trágica, levou primeiro Allende e Neruda, só se lembrando agora de Pinochet (...).
Em nota oficial sobre a morte de hoje, assinada por Chico Alencar, o PSOL lembrou-nos de Cecília Meireles:
"... Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.".
E aí
estão, de novo entrelaçados, as palavras da poeta, os sonhos, e o dia 23 de
setembro... em textos que nos remetem ao post da semana passada, quando escrevi
aqui sobre a marca que deixamos nas pessoas.
Pinochet
não será esquecido. Tampouco Salvador Allende e Pablo Neruda. Cada um deixou
sua marca na História. Cada um marcou de um jeito a vida das pessoas. “Os
vermes” têm força, sim; mas os homens podem sonhar e podem ser puros. Eu posso
ser um poeta, um sonhador, alguém que ama; ou posso ser um verme, odiando e
plantando o mal, que também floresce.
A primavera
é bastante simbólica. Você faz aniversário em abril e muita gente fala que você
completou “mais uma primavera”. Isso deve querer dizer alguma coisa...
Zacarias, o profeta, escreveu: “Peçam
a Deus, o Senhor, que mande as chuvas da primavera, pois é ele quem manda as
nuvens e a chuva para fazer com que os campos produzam colheitas para todos.” (Zacarias 10:1)
A gente
sabe que tudo o que a gente planta e cultiva produz resultados. Os campos (da
sua vida) produzirão colheitas para todos (quer sejam bons frutos ou maus).
Peça a
Deus uma chuva de primavera na sua vida, arranque as ervas daninhas do seu
coração, mantenha-se igual às árvores, que são tão puras. Faça planos. Tenha
sonhos. Dê sorrisos. Deixe seus olhos nas flores, seus braços ao longo dos ramos, ouça a voz
do amor, fale desse mesmo jeito...
“Vamos
nos dedicar mais e mais ao Senhor! Tão certo como nasce o sol, ele virá nos
ajudar; virá tão certamente como vêm as chuvas da primavera, que regam a terra.” (Oseias 6:3)
É setembro e 'tá começando um novo ciclo. Você
está vivo! Quanta gente não viveu pra entrar nele, agora.
Pense na chance que você está tendo. Encare como uma dádiva. Um privilégio. Mais uma primavera.
Fique ligado naquilo que você
anda plantando. Fique
ligado na marca que você vai deixar nas pessoas. Fique ligado, porque ser verme ou ser uma árvore depende de você. O que
você vai fazer acontecer, nesta primavera?
Pense bem...
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Referências:
Cecília de Bolso: Uma
antologia poética. Editora L&PM Pocket
Gostei da parte que fala do PSOL. Precisamos de uma primavera árabe na política! Um primavera de amor no coração!
ResponderExcluirE é um trecho do texto de 2006!
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