sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

SULFECHANDO Y OTRAS COSITAS MÁS


Em fevereiro a gente volta, com novos textos pra você,
na ideia de sempre levar esperança para o seu coração.
Até lá, releia alguns textos já publicados neste blog.
De repente, nessa releitura,
você encontra a mensagem que precisa
para seus dias de janeiro...

SULFECHANDO Y OTRAS COSITAS MÁS
Por Denize Vicente - Rio de Janeiro - RJ

Mario Prata1 conta que seu primo Hugo Prata perguntou ao pai dele, tio de Mario, o que significava o verbo “SULFECHAR”. O pai disse que o verbo não existia, o garoto não se conformou com a resposta e o homem teve que provar com dicionário e tudo! Mas o menino insistia em conjugar o verbo, e o pai quis saber onde ele tinha ouvido essa coisa doida. Foi quando Hugo cantou aquela música do Tom Jobim: "São as águas de mar sulfechando o verão...".

O mesmo Mario Prata nos conta que Henfil2, pasme!, só descobriu depois de grandinho” que o nosso Hino Nacional não se chamava “O Virudum.

E foi lendo essa crônica (“O amor de Tumitinha3) que fui levada a me lembrar de tantas outras coisas que ouvimos e muitas vezes entendemos de modo completamente diferente do original... Eu seria até capaz de apostar umas jujubas que você acabou de pensar em “... trocando de biquíni sem parar”, clássico exemplo, talvez o mais famoso, de “(de)composição” – verso da música de Cláudio Zoli, que escreveu alguma coisa bem diferente: “... t
ocando B.B. King sem parar".

Pois bem.
Hoje eu queria falar sobre mal-entendidos.


Não raramente você interpreta olhares, risos ou sorrisos, palavras e até mesmo a omissão de alguém, do jeito que seu coração decide explicar - e por isso sofre, despreza, desama e odeia, experimenta amargura e prova do gosto azedo da irritação, da mágoa e do desapontamento. Esquecendo-se da lição de Jeremias, dá ouvidos ao seu coração ou embarca no que ouve, por outras bocas, de outros corações, enganando-se e adoecendo. “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa, e sua doença é incurável.” (Jeremias 17:9)

Muitas vezes VOCÊ é o “abominável” - mal interpretado por algum coração, quando simplesmente quis ajudar ou fazer alguma coisa; tido como “exibido”, “intrometido”, o cara que “quer aparecer”...

Mesmo quando temos bons motivos, a motivação correta e intenção louvável, estamos sujeitos a ser mal interpretados; e o mesmo acontece com os outros, quando, às vezes, nós os julgamos de modo precipitado, levados, unicamente, pelo nosso enganoso coração...

Mal-entendidos acontecem até mesmo quando dizemos “EU TE AMO” - o outro pode entender que o “risinho de nervoso” que você deu em seguida, na verdade é de deboche... Mal-entendidos acontecem quando você conta no WhatsApp que está triste porque terminou o namoro, e seu amigo coloca um "emoticon" com lágrimas, mas usa o bonequinho que está chorando de rir.

Essas coisas acontecem. Mas o que fazer?


Eu tenho uma ideia: converse. Converse muito. Pergunte e responda. Converse. O diálogo é o modo mais apropriado para desfazer mal-entendidos e para entender as intenções e motivos de alguém. E outra: seja VOCÊ a tomar a iniciativa do diálogo, não importa em que posição se encontre – “ofendido” ou “ofensor”.

Nesse papo as coisas ficarão mais claras, vocês podem perceber que o erro foi de interpretação, e então já não haverá razões para a amargura.

Mas... e se foi vacilo mesmo? Má intenção de verdade? E se o outro quis mesmo, deliberadamente, agir mal com você?

Jesus disse que, nesses casos, quando alguém vacilar feio com você, você deve ir falar com ele; e se for isso mesmo, você deve perdoá-lo; e disse mais: se ele fizer isso sete vezes no mesmo dia, e se em todas as sete vezes ele chegar pra você dizendo que está arrependido... perdoe o cara. (Lucas 17:3-4)

Eu sei e você sabe: não é fácil.
Não é fácil dialogar mesmo com a chance de descobrir que tudo não passou de um mal-entendido, quanto mais quando existe a possibilidade de notar que foi tudo má intenção, mesmo. Mais difícil ainda é perdoar. Eu sei e você sabe: não é nada fácil. Mas, como disse Vinicius, “... para isso fomos feitos: para a esperança no milagre...4. Perdoar, para nós, é como um milagre que nos acontece, porque nossa natureza humana gosta mais da Lei de Talião, do Código de Hamurabi5. Mas milagres acontecem, e não se explicam, você também sabe disso.

Pensando bem, quanto mais cedo percebermos que a mágoa e a ausência de perdão fazem mais mal a quem sente e a quem não perdoa, mais rapidamente vamos conhecer um estilo de vida que tem mais a ver com a felicidade do que com a angústia. E, vamos combinar, viver feliz é muito mais legal.

Experimente!

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Fontes/Referências:

1.   Mario Prata é escritor, dramaturgo, jornalista e cronista brasileiro, nascido em Uberaba/MG, em 11.02.1946. Premiado no Brasil e no exterior, suas obras são reconhecidas no cinema, na literatura, no teatro e na televisão.

3.  Henfil Henrique de Souza Filho (1944 – 1988) foi jornalista, especializado em ilustração e produção de histórias em quadrinhos, escritor premiado, cartunista consagrado, trabalhou com cinema, teatro e televisão. Irmão de Herbert José de Souza, o Betinho, e de Chico Mário.

4.    Vinicius de Moraes – Poema de Natal, in "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

5.    Lei de Talião e Código de Hamurabi - http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm


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