quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A PARÁBOLA DO PAI DO FILHO PRÓDIGO

A PARÁBOLA DO PAI DO FILHO PRÓDIGO
(Por Eduardo Santos)

Peço que não procure nenhum texto bíblico com esse título - tenho que dizer que você não vai encontrar! Digo, também, que a intenção não é criar uma nova parábola, mas, sim, usar a mesma de sempre, com uma pequena diferença.

No início do ano, o Amigão escreveu um belíssimo texto baseado na parábola do filho pródigo (“De volta para casa1), encontrada em Lucas 15:11-32. Mas, apesar de já ter sido tema de outro texto, senti uma forte vontade de falar sobre a parábola do pródigo por outro prisma, afinal, como costumo dizer sempre, existem várias formas de se olhar uma mesma história!

Daí é que surgiu a ideia de avaliar essa mesma história pelo ângulo do pai, e esta é uma das duas bases da reflexão de hoje; a outra é contextualizar a história aos padrões culturais, regionais e temporais.

Aconselho que, antes de continuar, você leia ou releia a história em questão - a localização, na bíblia, encontra-se no livro que citei acima. E, ainda antes de continuarmos, devo dizer que este texto que escrevo baseou-se, também, em uma mensagem que ouvi - deixo o link2 abaixo para aqueles que sentirem vontade de ver; ela é um pouco extensa, mas vale investir um tempo.

Jesus inicia dizendo que um homem possuía dois filhos e que, certo dia, o mais moço lhe pediu que repartisse os bens da família e que a ele fosse dada a parte que lhe cabia. Aí encontramos um primeiro ponto complicado da história. Assim como em nossa cultura, as atitudes têm muito significado no contexto social daquele povo e para aquela, especificamente, seria o mesmo que dizer: “Pai, o meu real desejo é que o senhor estivesse morto!”, já que a herança nunca é repartida com os pais em vida. Mas, além disso, ainda existem as implicações decorrentes desse modo de agir, e o que se sabe é que o pai poderia bater no filho e/ou as pessoas da vila poderiam expulsá-lo de casa. Só que, estranhamente, o pai decide dar ao filho o que foi pedido, mesmo diante de tamanho insulto.

O filho se vai, faz de tudo que lhe dá na telha e o dinheiro acaba. Mas, antes que ele resolva voltar à casa de seu pai, ele decide ainda se virar sozinho. Até chegar ao ponto de apascentar porcos, um animal com o qual os judeus não tinham nem costume de entrar em contato. Ele precisa que a situação aperte ao ponto de não ter nada para comer, a fim de lembrar-se da solicitude de seu pai e que seus empregados tinham comida com fartura. Então, o pródigo toma o caminho de casa.

No versículo 20, o relato diz que o pai o avista ao longe e o reconhece. Apesar de não ser dito com todas as palavras, esse pequeno trecho traduz o resumo de uma rotina diária de espera incansável por um filho que se foi. Mas, nesse mesmo verso, há algo mais tremendo ainda! O texto do verso 20 termina assim: “(...) quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.”. Aqui, é possível destacar dois traços culturais muito significativos: a corrida e a saudação.

Já ouço essa história faz muitos anos e confesso que enxergava na corrida simplesmente a saudade de um pai amoroso. Mas não foi só isso, e digo “só” porque ela demonstra o real valor que aquele filho tinha para seu pai. Deixe-me explicar uma coisa antes de prosseguirmos: as fazendas dos tempos de Cristo eram percorridas por uma única estrada que começava no portão, passava pela vila dos trabalhadores, pela casa do dono e terminava na lavoura.

O fato crítico desse pequeno pedaço da história é que um homem de posses e nobre não deveria correr em público de forma alguma, pois isto lhe seria desonroso! Mas ao imaginar que seu filho não conseguiria atravessar a vila dos trabalhadores sem ser impedido ou, pior, morto, se moveu de compaixão e abandonou seu próprio orgulho, quebrou paradigmas sociais, para que seu amado filho fosse salvo.

Quanto ao significado da saudação, podemos uni-lo com o do pedido do verso 22. Os judeus costumam se cumprimentar de duas formas: com beijo no rosto ou na mão. Se lembrarmos de que no versículo 19 o próprio jovem decide voltar e ocupar a posição de empregado de seu pai, deveríamos esperar que ele desse um beijo na mão de seu pai, simbolizando sua inferioridade social. Mas o pai se adianta, abraçando-o, e o beija, tudo indicando que foi um beijo no rosto, simbolizando a igualdade entre os dois. Poderíamos pensar que o pai se rebaixa para estar na mesma condição do filho, mas, em seguida, ele pede ao servo que traga as melhores roupas, sandálias e um anel - adereços próprios de quem tinha honra, prestígio e poder.

Para finalizar, o pai prepara uma refeição para seu filho e come com ele. No Oriente Médio, aceitar comer com alguém é aceitar a pessoa em seu convívio; justamente por isso o irmão mais velho se recusava a entrar na comemoração. Ou seja, aquele pai estava demonstrando ao filho que, apesar dos diversos insultos, ele era aceito de volta na mesma condição que havia deixado para trás.

Jesus traçou um paralelismo entre os personagens da história. O pai representa Deus e os filhos, a raça humana. Vale ressaltar que ambos estavam perdidos e, aos dois, o pai buscava salvar.

Conhecer esses fatos mexeu comigo e me fez pensar e valorizar muito mais o amor de um Deus que veio resgatar seres que pediram sua parte da herança e a gastaram dissolutamente. Fez-me questionar muitas coisas, querer entender muitos fatos, mas fiquei com apenas uma indagação: que amor é esse?!

Hoje não ofereço respostas; só um conselho: medite sobre esse amor e busque aceitá-lo hoje e sempre!

Um grande abraço.

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Referências:
1-    SOUSA, A. De volta pra casa. Disponível em: <http://www.entaoserve.blogspot.com.br/2015/02/de-volta-para-casa-por-airton-souza.html>. Acessado em 02/10/2015.
2-    https://www.youtube.com/watch?v=Unh9MKA_fT8.


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