NÃO MAIS ESCRAVO
Por
João Octávio Barbosa
1968
foi o Ano Internacional dos Direitos Humanos. Ironicamente, foi o ano dos
ápices da Guerra do Vietnã e da violência da Ditadura Brasileira. Fica pior:
foi o ano de estreia da revista Veja.
Não acabou. Um dos nomes mais louváveis do século foi assassinado: Martin
Luther King Jr. Num 8 de junho como hoje, também de 1968, James Earl Ray, autor
do crime, foi preso. Ele não aceitava as ideias de igualdade social e étnica de
MLK Jr. Há homens melhores que outros homens, James pensava. Pressuposto
ideológico da escravidão da Idade Moderna.
O
tema da escravidão, na Bíblia, é constantemente citado por seus críticos como
algo do desejo de Deus. Podem humanos ter direito à propriedade de outros
humanos? O apóstolo Paulo dedicou uma carta (e por que não dizer: Deus dedica
um espaço em Sua Palavra?) para falar, especificamente, do seu desejo de ver
todos os humanos como seres iguais aos olhos de Cristo, que não faz acepção de
pessoas (Romanos 2:11).
Estou
falando do livro de Filemom, um dos menores da Bíblia, com apenas um capítulo.
Você pode lê-lo, rapidamente, numa Bíblia em sua casa, ou aqui na internet. Nos
25 versos desse capítulo não há instruções a igrejas, doutrinas detalhadas, ou
profecias para o tempo do fim. Só uma conversa direta de Paulo com Filemom. O
discípulo, com autoridade de líder da igreja, orienta Filemom a não enxergar
mais Onésimo como sua propriedade, e sim como seu irmão.
Onésimo
tinha sido escravo de Filemom. Aparentemente, Paulo pregou e o Espírito Santo
converteu Onésimo enquanto ambos (ou pelo menos Paulo) estavam presos, algo que
aconteceu depois de ele fugir do seu dono. Paulo começa a carta elogiando
Filemom, quase que massageando seu ego, e mostrando que se ele é tão cristão
como aparenta não iria negar o favor que Paulo pediria. Então, ele roga que
Filemom perdoe Onésimo e o receba de volta.
Onésimo
pode ter fugido por ter sido maltratado, ou, simplesmente, pelo seu direito de
ser livre. Mas o texto leva a crer que Filemom, agora, era um fiel seguidor de
Cristo, e devia rever seus conceitos sobre o que o dinheiro e o poder realmente
significavam, e que nem mesmo ambos lhe davam direito de ter posse de alguém.
A
parte mais bonita da carta está nos versículos 15 e 16. Poderia haver raiva,
rancor, prerrogativa de castigo ou vingança, e toda sorte de sentimentos ruins
entre uma pessoa inconformada com seu estado de escravo, e outra, se sentindo
traída e injustiçada com a fuga do que era “seu”. Mas Paulo pede,
encarecidamente, que esses dois seres humanos divididos por todos esses
sentimentos se relacionassem agora como “irmãos caríssimos” e “para sempre”.
Uma grande lição para nossa reflexão pessoal. Como temos reagido a pessoas com
quem tivemos problemas no passado, até mesmo as mais próximas?
E
a questão da escravidão? Filemom é um livro muito oportuno para falar sobre a
visão bíblica sobre esse assunto. Os cristãos são alvo de críticas, pois seu
Guia, a Bíblia, "autoriza a escravidão", em especial no Velho Testamento. O povo
de Israel fazia escravos entre os povos inimigos e até mesmo entre si - aqueles
israelitas que se endividavam com outros. E havia leis dadas diretamente por
Deus para tratar de todos esses casos.
Conclui-se
que Deus era a favor da escravidão? Creio que não. Conclui-se que Deus era permissivo em relação à escravidão,
principalmente para que em lugar dessa “escravidão Divina”, criada e regulamentada
para coibir excessos, houvesse uma libertinagem com margem para todo tipo de
maldade.
O
povo de Israel foi pioneiro em leis que protegiam os escravos, concedendo-lhes
muitos direitos, coisas que em alguns povos da época seriam absurdas. Entre as
regras de proteção à humanidade dos escravos a mais interessante era que todo
israelita não ERA um escravo. Ele ESTAVA um escravo. Havia um prazo para sua libertação,
que era o ano do Jubileu, que acontecia de tempos em tempos. Quem conhece História
sabe que no Brasil, por exemplo, os escravos não tinham prazo de libertação, até
o século XIX.
A
Bíblia legitimou por algum período a escravidão não para que o povo aprendesse
a tratar alguns como superiores a outros, mas, sim, porque Deus sabia que esse
desejo de subjugar o próximo é, inevitavelmente, humano, e eram necessárias
algumas regras sobre isso.
Mas
esse não é o plano original de Deus. Ele quer que vivamos como irmãos, e Paulo
quis mostrar isso para Filemom. Nem no primeiro século, nem na época da
Princesa Isabel, nem no futuro o cristão deve olhar o negro, o branco, o gay, o
analfabeto, o deficiente nem qualquer outra diversidade humana como inferior.
Somos da mesma família, com a mesma carência principal: a libertação em Jesus.
Que
Deus nos ajude a ter essa visão dentro de nós, para que nem sequer precisemos nos
lembrar disso, mas enraizemos esse pensamento no nosso dia a dia e nas relações
pessoais, brilhando assim o amor de Jesus para toda tribo, raça, língua e
nação.
Ide.
Não
peço que concordem, espero que reflitam!
Desafio do JOBS:
Resposta da semana
passada: Filemom (Filemom 1-25).
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