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sexta-feira, 24 de maio de 2019

SAL? SOU DESSAS!

SAL? SOU DESSAS!
Denize Vicente – Rio de Janeiro - RJ

Hoje é sexta-feira e você vai ler uma crônica da Cora Rónai, publicada no seu antigo blog internETC. E depois, eu duvido que você, de coração aberto, não vá encontrar um jeito de fazer do seu sábado um dia feliz! Aproveite a vibe e tempere com alegria o sábado de alguém de perto ou de longe, um amigo ou alguém desconhecido! Há muitas maneiras de fazer isso. Experimente esse sabor!

Jesus, quando andou aqui por aqui, disse uma coisa bem interessante. Disse que a gente é o sal da Terra. E disse mais: se o sal perde o seu sabor não há como restaurá-lo; não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Imagina um arroz com feijão sem um pingo de sal! Nem uma pitadinha!

Jesus não disse, por exemplo, que somos o limão, o jiló, o mel. Também não disse que somos a prata ou o ouro da Terra. Somos o sal. Pra temperar a vida. Viver uma vida com sabor, dar sabor à vida de outras pessoas, essa é a missão do homem. E a gente tempera a vida sendo gentil, sorrindo, sendo grato, agradável, amistoso...

Moisés orientou o povo com a seguinte instrução: “Tempere com sal todas as ofertas de cereais, pois o sal representa a aliança que Deus fez com o seu povo. Toda oferta de cereais deverá ser temperada com sal.” (Levítico 2.13).

Você entende o poder do sal? Nós somos sal. Pra temperar. A própria vida e a dos outros. Na rua, em casa, no ônibus, no trabalho, na facul, na feira...

Ontem eu levei sorvete de caqui pros meninos da feira. Eu mesma fiz com os caquis que comprei na outra semana na barraca deles. Vi um sorriso em cada rosto. E a alegria tomando conta daquelas vidinhas. A gente é sal, sabe? Pode ser sal insípido, pode ser sal grosso, e pode ser aquela pitada de sal que vai levar a alegria de volta a um coração triste, sofrido, cansado... E é como se fossem pequenos milagres, sabe? Jesus era desses. E eu quero poder dizer com alegria: “Sal? Sou dessas!”.

Jesus no 464 - por Cora Rónai (um relato da Leila)

"A primeira vez que vi cabras azuis foi da janela do ônibus, indo de casa para o jornal" — escreveu a Leila num comentário lá do blog. —"Aliás, muita coisa importante na minha vida aconteceu assim. Foi da janela de um 464 que vi pela primeira vez uma colônia de gatos de rua no parque do Museu Carmem Miranda.
Foi num 464 que vi Jesus, ele entrou no ônibus ali na São Clemente, fez alguns milagres e desceu no Catumbi (até hoje não consigo contar essa história direito, mas aconteceu).
Enfim, lá ia eu para o jornal, tinha uma obra, acho, o ônibus entrou numas quebradas no Catumbi e lá estavam elas pastando. Cabras azuis de botinhas pretas! Meu coração disparou, foi amor à primeira vista.”
Estávamos conversando sobre os bichos que gostaríamos de ter, mas o que chamou a minha atenção no comentário não foram as cabras azuis, mas a presença de Jesus num ônibus carioca. Publiquei o comentário com o merecido destaque. A turma que bate ponto no blog adorou, e começou a cobrança:
— Leila! Não importa o que você toma, eu quero dois! — escreveu a Marcela, da Gávea.
— Ou conta a história ou conta o que você toma! — mandou a Marise.
— É, acho que ônibus é código — concordou o Tom.
Depois de um suspense de dois dias, a Leila voltou e respondeu. E todos ficaram muito emocionados, mesmo os incréus, porque sabemos que a vida tem momentos mágicos:
“Eram umas duas, duas e meia da tarde. Era um dia bonito, sol sem calor. Morava no Leblon e ia para o trabalho, no Centro. O ônibus era um 464, acho. O ônibus parou no último ponto antes da Praia de Botafogo, entrou mais gente, e a voz perguntou ao motorista:
— Comandante, posso pegar uma carona?
A voz era cheia, firme, equilibrada, mais para o grave, magnífica. Tive que olhar. Era um hippie. Um cara louro, cabelos no ombro, rosto bonitinho, cabelos mais para o liso, carregava aquelas coisas de veludo cheias de bijuteria artesanal. Magro, um metro e setenta.
Ah. Ele entrou, tinha um lugar vago, alguém perguntou:
— Não vai sentar?
— Não, obrigado. Já estou feliz por conseguir a carona.
Foi só isso, dito por aquela voz, aquela pessoa. Tudo mudou dentro do ônibus. Um homem levantou e deu o lugar para uma mulher que estava em pé. Duas moças se ofereceram para segurar embrulhos de pessoas em pé. Uma pessoa ao lado dele começou a puxar conversa. Ele respondia com frases comuns, contando de uma vida comum. Atrás de mim duas senhoras começaram a conversar. Ao lado as pessoas sentadas começaram a conversar.
Aqui começa a ser difícil de explicar. O que posso falar é um baita lugar comum. Só existia amor. O ar ficou leve. As pessoas conversavam felizes. Quando entrou uma velhinha, dois homens se levantaram para dar lugar.
Eu me sentia como em alguns sonhos que já não tenho faz tempo. Nesses sonhos eu ia a uma fazenda em uma ilha. Lá não existia medo, desconfiança ou raiva, só uma sensação de felicidade absoluta.
Era assim ali no ônibus. Quando saímos do túnel Catumbi-Laranjeiras ele disse ao motorista que ia descer, agradeceu a todo mundo pela conversa e pela carona. Meu coração estava disparado. Pensei em descer, correr atrás dele e perguntar o que fazer da vida daí em diante. Nah, sua doida, você já foi hippie faz tempo. As respostas não estão com ele.
O ônibus andou. Olhei pela janela. No chão da pracinha, um monte de folhas e restos de legumes da feira que tinha acabado. E carneiros. Sim, carneiros. Muitos carneiros felizes, comendo as folhas no chão. Carneiros pastando no Catumbi. Não eram carneiros branquinhos de foto de catecismo. Estavam com a lã bem sujinha até. Jesus tinha acabado de virar a esquina.” 


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