O DEUS TIRANO
(Por Eduardo Santos)
Parei para tomar um fôlego. Não
me recordava de nenhum outro exercício que tenha me deixado tão fatigado. Não me
lembrar de outro cansaço não é nada tão absurdo, uma vez que minha memória não
é lá tão boa, e não me recordo de outro período de sedentarismo tão grande
quanto o que vivo agora. Afinal, foram vinte longos lances de uma escada quase
interminável, num ritmo acelerado… Se não me cansasse, eu ficaria assustado.
Apesar da vida de pouco exercício físico, se tem uma
característica que nunca perdi é uma rápida recuperação após profunda fadiga.
Aproveitei meu restante de tempo de espera para continuar a pensar em algo que
havia começado a pensar no dia anterior.
Faz um tempo que converso,
esporadicamente, com alguns conhecidos, sobre religião; e muitos deles comentam
sobre como não se identificam com “O Deus” apresentado no antigo testamento -
que preferem a pintura que é oferecida pelo novo testamento, por apresentar um
Ser mais amoroso, mais compassivo, mais perdoador. Dizem, inclusive, que não
são capazes de associar o protagonista de cada metade da Bíblia, como se nem
fossem a mesma pessoa.
Deixe-me, primeiro, contextualizar
você nessa história toda:
Era um domingo de manhã e me deparei com o seguinte
texto bíblico: “Vocês julgam que eu tenho prazer em que o pecador morra?, pergunta o
Senhor. Com certeza que não! Aquilo que eu pretendo é unicamente que ele
abandone os seus caminhos de maldade e que viva.” (Ezequiel 18:23).
Após me lembrar dessas
conversas anteriores, e terminar a minha leitura de domingo, fiquei pensando no
que poderia levar as pessoas a acreditarem no que disse dois parágrafos atrás.
Comumente, as pessoas focam em alguns pontos que, analisados isoladamente,
causam, de fato, certo baque.
Mas não quero, e não vou, falar
por mim mesmo. Vamos deixar que a própria Bíblia fale, por si só; ninguém
melhor do que ela para apresentar com clareza a realidade de Deus.
Inicialmente, vemos Deus
criando um habitat perfeito para seus novos inquilinos. E, por meio de um
aviso, os adverte a não serem enganados pelo inimigo do Divino (um anjo que
havia decidido rebelar-se contra Deus), pois, ao se rebelarem, sofreriam a
consequência de seus atos e "O
salário do pecado é a morte (...)". (Romanos 6:23)
Infelizmente, os avisos não
foram suficientes e o casal edênico deu ouvido a quem não devia. E, como o
próprio Deus fala de si mesmo, sua palavra não poderia mudar, já que "Eu, o Senhor, não mudo.".
(Malaquias 3:6)
E o que, aparentemente, é para
nós uma vida de sofrimento, como se estivéssemos pagando por nossos próprios
pecados, nada mais é do que um roteiro que apresenta “O Pastor” que abandona
seu rebanho para ir em busca da ovelha que se desgarrou.
É evidente que vivemos sob as
consequências da escolha que Adão e Eva fizeram há tempos, o que talvez tenha
sido usado para endossar a imagem de um Deus tirano; mas Ele, em Sua justiça,
não poderia privar-nos das implicações do pecado, de maneira nenhuma, uma vez
que fomos avisados do que aconteceria.
O fator preponderantemente
positivo sobre Deus no novo testamento é, sem dúvida, Cristo e Seu sacrifício
expiatório, simbolizando a concessão da graça que nos salva. Com toda a certeza
esse é um dos ápices da história deste mundo!
Mas existe algo que não podemos
desconsiderar em nossa reflexão: Cristo é o Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo (Apocalipse 13:8). O que essas palavras querem dizer é que
antes mesmo de o pecado ser assimilado, a decisão do sacrifício de Cristo já
havia sido tomada.
Deus manteve sua palavra, não
voltou atrás! Mas, ao invés de fazer-nos pagar pelas reais consequências de
nossas escolhas, Ele decidiu fazê-lo em nosso lugar. E, se os Seres divinos de
cada parte da Bíblia não parecem ser a mesma pessoa, lembre-se de que "Deus amou o MUNDO de tal maneira que deu Seu
filho unigênito para que TODO AQUELE que nele crê, não pereça, mas tenha a vida
eterna.". (João 3:16)
Volto a reforçar: essa decisão
foi tomada pelo "Deus do antigo testamento", o que mostra que os dois
testamentos apresentam um mesmo Deus de amor. Afinal, como Ele mesmo diz, Ele
não muda!
Bom, deixem-me ir… Volto aos
meus vinte lances de escada. Graças a Deus, agora estou descendo. Fica mais
fácil!
Bom restante de semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que você acha?